Foi uma grande farsa a instalação do grupo de trabalho, criado pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, com o objetivo de discutir uma saída para os problemas criados pela expansão das terras indígenas sobre áreas ocupadas por não índios. O grupo foi instalado por deputados ligados ao meio ambiente e às causas indígenas, mas sem a presença de nenhum dos parlamentares ligados ao outro lado do problema.
O "show" foi instalado com a coordenação do deputado Lincoln Portela (PR-MG) e a presença dos deputados Zequinha Sarney (PV-MA), Domingos Dutra (PT-MA), Chico Alencar (Psol-RJ) e Padre Ton (PT-RO). Centenas de índios de diversas etnias lotaram o plenário II e parte dos corredores da Câmara dos Deputados para acompanhar a instalação do grupo.
Henrique Alves criou o grupo de forma paritária com a participação de cinco deputados ligados aos produtores rurais e cinco ligados aos indigenistas. Mas os deputados indigenistas impuseram a inclusão de dez índios no grupo sem abrir espaço para inclusão de representastes dos afetados pela expansão das terras indígenas. Foram nomeados para o grupo dos índios Sonia Guajajara, José Nunes Nauá, Antônio de Jesus Tuxá, Neguinho Truká, Otoniel Ricardo Guarani-Kaiwoá, Lindomar Ferreira Terena, Avanir Oliveira Fulni-ô, Paulo Henrique Vicente Tupiniquim, Rildo Kaingang e Marciano Rodrigues Guarani.
O ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Moreira Mendes (PSD-RO), integrante do grupo de trabalho, questionou a lisura da instalação do colegiado. "Não falaram comigo, nem avisaram os outros deputados", afirmou Moreira Mendes. Mendes disse que vai procurar o presidente da Câmara para questionar o procedimento de instalação do grupo. "Não participo de circo. Se for para discutir com seriedade contem comigo, mas não vou participar de circo. Não se pode marcar reunião sem avisar o outro lado. É inaceitável transformar o Congresso Nacional em palco de fanfarronices encobrindo seus reais interesses", acrescentou Mendes.
O Deputado Bernardo Santana de Vasconcelos (PR-MG) está se recuperando de uma cirurgia em Minas Gerais e também não foi informado da intenção dos deputados indigenistas de iniciar os trabalhos na tarde de ontem. Abelardo Lupion (DEM-PR), outro integrante da FPA nomeado para a comissão, informou que também não sabia da instalação do grupo e disse que a reunião, da forma como ocorreu, teve o intuito de prejudicar o setor produtivo brasileiro. "Não fomos avisados. É inadmissível aceitar isso", disse.
Em clima de festa, no fim da reunião, alguns parlamentares tiveram os rostos pintados pelos índios, que entoaram cânticos e dançaram em torno da mesa em que estavam os parlamentares indigenistas. A próxima reunião está marcada para 14 de maio, ao que parece, só com um dos lados do tema.
Esse grupo de trabalho virou uma grande palhaçada. Embora os índios possam se beneficiar muito com o debate, os indigenistas que tutelam os índios não querem acordo. Os parlamentares indigenistas que compõem o grupo são radicais habituados a inviabilizar debates com ações de pirotecnia política. Sarney Filho, Chico Alencar, Padre Ton e Domingos Dutra farão de tudo para dificultar qualquer diálogo e tentarão usar o GT como palco.
Os parlamentares ligados ao setor rural deveriam, juntos, denunciar ao Presidente Henrique Eduardo Alves a patacoada armada ontem pelos indigenistas. Ou o presidente acerta o funcionamento paritário do grupo, ou a bancada retoma a pressão pela PEC 215.
Fonte: Questão Indígena. Pela Redação. 19 de abril de 2013.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos