A estiagem na região da grande São Paulo tem preocupado autoridades e a população. As represas do sistema cantareira, que abastece cerca de nove milhões de consumidores na grande São Paulo, vêm secando drasticamente nos últimos meses e, desde o final do ano passado, a falta de chuvas leva a capacidade a níveis que pedem medidas urgentes - como a utilização do chamado "volume morto", que vem abastecendo a região metropolitana desde o mês de maio.
Afetado pelo mesmo problema, o sistema alto tietê opera com cerca de 23,0% de sua capacidade. segundo a Sabesp, é possível que o volume morto também seja utilizado. A expectativa é que as chuvas do mês de outubro possam amenizar o problema, mas ainda assim, até lá a estiagem pode ter reflexos em outro setor. Com os rios em baixa, o abastecimento de energia elétrica também pode ser afetado. No Brasil, caso essa expectativa se concretize, duas fontes de energia se destacam na diversificação do mix de geração de eletricidade no país: energia eólica e bioeletricidade.
De acordo com a associação nacional de energia elétrica (ANEEL), as aplicações mais favoráveis de energia eólica no Brasil estão na integração ao sistema interligado de grandes blocos de geração nos sítios de maior potencial. Em certas regiões o vale do rio São Francisco no nordeste do país, a geração eólica e o regime hídrico de certa forma se complementam, tanto no período estacional quanto na geração de ponta do sistema - ou seja, o perfil de ventos observado no período seco do sistema elétrico brasileiro mostra maior capacidade de geração de eletricidade justamente no momento em que a afluência hidrológica nos reservatórios hidrelétricos se reduz.
A questão é que os maiores parques eólicos do país estão distantes dos principais centros de consumo do país, portanto, a energia eólica tem um preço final mais caro porque tem maior custo de transmissão.
A energia à base de biomassa (resíduos da produção industrial) também tem seu papel como fonte complementar. A bioetericidade gerada a partir do bagaço da cana-de-açúcar, por exemplo, vem apresentando bons resultados nas principais regiões produtoras no país. O presidente do fórum nacional sucroenergético, André Rocha, explica que a energia da biomassa pode ser considerada uma "geração distribuída" que exige menor investimento em linhas de transmissão pela proximidade do centro consumidor, além de permitir menos perdas de energia na transmissão.
- Temos atualmente em Goiás um potencial de atender todo a demanda ofertada pela distribuidora regional (CELG) somente com a energia proveniente da co-geração com queima da palha e do bagaço da cana. Uma questão importante é que a energia proveniente da biomassa é produzida no período seco, adquire um aspecto de complementaridade, pois permite que deixemos de consumir a energia proveniente das hidrelétricas, fazendo com que aconteça um acúmulo de água nesta época, armazenando-a para o período chuvoso - diz.
Em mato grosso do sul, segundo dados da associação dos produtores de bioenergia de mato grosso do sul (BIOSUL) as usinas de etanol e açúcar exportam bioeletricidade equivalente a todo o consumo residencial do Estado.
- Hoje aproveitamos dois terços do potencial energético da cana, que está contido no caldo que gera etanol e açúcar e no bagaço, que gera bioeletricidade. Temos feito investimentos no sentido de aproveitar também as pontas e a palha, descartadas na colheita, o terço que falta. Além disso, ainda temos relativamente poucas usinas exportando bioeletricidade no Brasil. Os investimentos necessários para que as usinas passem de geradores para consumo próprio para exportadoras, o retrofit, são pesados. Quando aproveitarmos todo o potencial da planta e de nossas usinas, será como agregar duas "Itaipus" ao sistema - afirma o presidente da entidade, Roberto Hollanda Filho.
Segundo Hollanda, tanto a energia eólica quanto a bioeletricidade são fontes complementares, portanto, linhas de transmissão e outros processos que possam converter essas opções em alternativas que cheguem de fato a abastecer a população, estão ainda em processo de estudo e construção. O governo federal realiza leilões de fontes renováveis juntas (a eólica e a bioeletricidade) e nesse caso, os preços da energia eólica são mais baixos, tornando difícil a competitividade da bioeletricidade.
- Há que se considerar que os maiores parques eólicos do país estão distantes dos principais centros de consumo. Isso gera custos altos de transmissão e perdas. A energia eólica também não apresenta as nossas boas externalidades, como a geração de empregos. O que ocorre de fato é que temos parques eólicos prontos sem a conexão ao sistema porque não existem linhas de transmissão - complementa Hollanda.
Segundo a BIOSUL, a bioeletricidade exportada pelo setor foi responsável pela economia de 7,0% dos reservatórios no Centro-Sul do Brasil.
Fonte: Canal rural. 5 de agosto de 2014.
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