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Scot Consultoria

Korin diversifica e aposta em carne bovina sustentável


Terça-feira, 21 de outubro de 2014 - 17h24

Após três anos de estudos de viabilidade econômica e ajustes de protocolos, a Korin, maior empresa de frango orgânico do país, lança oficialmente hoje sua primeira linha de carne bovina sustentável.

Criados à base de pastagens naturais do Pantanal, os bovinos que serão abatidos para produção da carne se diferenciam pelo não uso de antibióticos, aplicação pontual de vermífugos e normas de bem-estar que incluem o convívio com animais silvestres da região como pacas e veados. A diferença também estará no preço: uma peça de um quilo de picanha de uma novilha tratada com tanta consideração custará acima de R$100,0, o maior valor entre os chamados mercados "gourmets" e de nicho no Brasil.

"É caro, mas o nosso consumidor olha questões como essas. Nossa maior preocupação era se esse boi prejudicaria o Pantanal", afirma Reginaldo Morikawa, diretor da Korin, empresa de Ipeúna, no interior de São Paulo, alçada ao status de "marca das mães" por sua filosofia orgânica e humanista no trato animal.

Buscando a resposta a essa preocupação na Embrapa, o executivo chegou à conclusão de que não. A atividade, cujos primeiros registros no Pantanal se deram há três séculos, incorpora-se a um ciclo único de alta e baixa das águas, onde diversas variedades de capim abastecem os animais e se recompõem nesse mesmo ciclo. De acordo com a entidade, 98,0% da alimentação do gado pantaneiro é natural - ele se abastece com o que é dali, sem a necessidade de insumos ou pastagens exóticas que descaracterizam as paisagens.

Líder no mercado brasileiro de frango orgânico, que respondeu por 85,0% do faturamento de R$72,0 milhões em 2013, e dona de um portfólio de três dezenas de produtos, a Korin estreia no segmento bovino com volumes irrisórios para um mercado que movimenta milhões de toneladas ao ano. A princípio, serão 96 novilhas abatidas por mês, com intenção de crescer exponencialmente e de forma contínua, conforme a demanda.

Neste primeiro momento, a carne bovina ainda não terá a certificação de orgânica, embora este seja o caminho natural para o produto, diz o executivo. A certificação virá com o aquecimento das encomendas.

A criação ficará por conta da Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO), do Mato Grosso do Sul, que desde 2001 aposta na carne orgânica certificada como um diferencial. Com o contrato exclusivo de venda à JBS vencido - apesar da expectativa de renovação -, a entidade optou por garantir um padrão de volume mensal de entrega, e viu na Korin um parceiro estratégico. "Foram três anos de acerto de protocolos para o que a Korin quer", afirma Nilson de Barros, vice-presidente da entidade. "Com a JBS, só entregávamos o animal. A diferença agora é que participamos de coisas como a apresentação do produto, tipos de corte".

A longa preparação para colocar o produto na gôndola se deveu a normas de sustentabilidade e ao equacionamento financeiro da operação. Exemplo disso foi a definição sexual do rebanho, prática comum na pecuária convencional. Por meio de inseminação, os pecuaristas conseguem determinar nascimentos de mais machos que fêmeas - cuja arroba é vendida com um deságio de 10,0% a 15,0%.

Mas fazer determinações como essa não são do feitio da Korin, empresa criada por imigrantes japoneses ligados à Igreja Messiânica. Já criar valor à cadeia produtiva, sim. A escolha de novilhas, e não novilhos, foi proposital. "Optamos por pagar o mesmo preço da arroba de um macho pela fêmea e dar valor a esse animal", diz Morikawa, apesar de uma novilha chegar a 12 arrobas, no máximo, e o macho a 18 arrobas. "Quebramos um paradigma ao trabalhar com fêmeas".

Na tentativa de minimizar as perdas, a ABPO criará inicialmente novilhas mestiças, a partir de animais mais encorpados. A escolha também visa a retirar a gordura entremeada da carne comum em muitas raças - e abominada pela clientela Korin. A carne tem menos gordura, mas é mais macia, uma vez que o animal é abatido precocemente.

Outra dificuldade foi a resistência do consumidor pelas partes dianteiras do animal, consideradas "de segunda". Com tanto luxo no tratamento, os animais precisam render bem por inteiro. "Ninguém quer pagar pela dianteira. Então vamos utilizá-la em uma nova linha de embutidos, como salsicha, hambúrguer e almôndega sustentáveis", afirma Morikawa.

Os embutidos estão em fase de aprovação de embalagem no Ministério da Agricultura. Enquanto não saem, as carnes dianteiras estão sendo cotizadas pela comunidade messiânica. Só no Brasil eles são 2,5 milhões de pessoas. "Eles se alimentam por convicção", diz Morikawa. 

Fonte: Valor Econômico. 21 de outubro de 2014.


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