Criado em 2009 em resposta a uma ação do Ministério Público que corresponsabilizou a cadeia produtiva das carnes pelo desmatamento da Amazônia, o Grupo de Trabalho Pecuária Sustentável (GTPS) quer alcançar 100,0 milhões de hectares nos próximos cinco anos no país. Hoje, a entidade trabalha com práticas de gestão sustentáveis em 1,0 milhão de hectares, em sete projetos-pilotos.
"Nossa meta é ganhar escala", afirmou Eduardo Bastos, presidente da entidade, durante evento sobre sustentabilidade na cadeia produtiva de carnes realizado ontem na capital paulista. "E uma forma de fazer isso é incluir a pecuária de leite, onde há muito espaço para crescer", disse o executivo, também diretor de assuntos governamentais da Dow Chemical. Expansões dos biomas Amazônia e Cerrado para Mata Atlântica e Pampa também estão no foco.
Os próximos passos do grupo serão discutidos em assembleia geral do GTPS prevista para abril. Mas, para o grupo - formado por varejistas, frigoríficos, associações de pecuaristas e entidades ambientalistas -, uma forma crucial para ganhar escala é a criação de uma linha de financiamento específica para o segmento, tal como o Programa ABC, de agricultura de baixo carbono, e o Inova Agro, do BNDES.
"Pecuária demanda prazo maior de pagamento para crescer", afirmou Bastos. Segundo ele, há dois planos-safra o GTPS tenta emplacar o "Intensifica Pecuária", programa que pretende criar uma linha de crédito mais barata para atrair pecuaristas adeptos à intensificação da atividade e que traga gestão e rentabilidade às propriedades e às regiões produtoras. Mais que juros subsidiados, o setor defende prazos de pagamentos superiores a dez anos. "Essa poderia ser uma importante sinalização política do novo governo. Não dá para ignorar o setor, por isso estamos intensificando as conversas para novas políticas públicas", disse.
Bastos citou dados da FAO e da OCDE que apontam que o mundo precisará elevar em 43,0% a oferta de alimentos até 2050 para alimentar a população global. "O Brasil arcará com a maior parte disso", disse ele. "A expectativa é que os grãos, cana e eucalipto já avancem sobre 20,0 milhões de hectares até 2023 - 7,0 milhões de hectares para eucalipto, 8,0 milhões para grãos e 7,0 milhões para cana. Outros 18,0 milhões de hectares deverão ser convertidos em Áreas de Preservação Permanente. Em que áreas eles vão entrar? Nas pastagens. Ou a gente eleva a produtividade ou o boi entrará na floresta". Segundo ele, nos últimos dez anos, a pecuária perdeu o equivalente a 1,0 milhão de hectares por ano para a agricultura.
Fonte: Valor Econômico. 6 de novembro de 2014.
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