Responsável por fornecer a maior parte das verduras e legumes consumidos na capital paulista, a região do Cinturão Verde tem sua produção de hortaliças afetada pela crise hídrica no Sudeste brasileiro. A plantação do agricultor Valnir Pelegrini, do sítio Yagome, na região do Tijuco Preto, em Suzano, foi inutilizada pela falta de chuva quando a nascente que abastece seu reservatório praticamente secou. "Perdi 100% da produção de dezembro. Fiquei mais de 40 dias sem plantar e agora voltei porque choveu."
Os cerca de 90 mil metros quadrados que não vingaram, onde Pelegrini produz hortaliças como salsa, alface lisa, alface crespa, escarola e couve, deram um prejuízo de R$50 mil. "Só em muda que o sol queimou foram 5 mil reais que perdi", conta. A seca também danificou a produção das fazendas vizinhas. "Acredito que, dos produtores aqui da região de Tijuco Preto, 90% se prejudicou como eu. São cerca de 30 famílias que plantam aqui e sofremos. O prejuízo foi grande", diz.
Para Natalino Araqui, diretor do Sindicato Rural de Suzano, a produção está ruim devido à combinação de dois fatores: a seca dos últimos meses e as chuvas de janeiro, que quando vêm, são de forma torrencial. "Há a falta de água, mas quando chove nessa época normalmente a água vem pesada e, se é no momento de tirar a plantação, estraga", diz Araqui.
O diretor afirma que as reclamações de perda de plantação por parte dos produtores é natural nessa época do ano, mas que a seca agravou a situação. "Tem lugar que a falta de água está atrapalhando bastante. Agora a gente procura racionar para utilizar melhor." Ainda assim, Araqui é otimista para a produção do ano: "Tem a seca, mas agora está vindo uma chuva de vez em quando e, apesar de algumas vezes estragar, ela ajuda com a água".
Para minimizar a falta de água nos reservatórios para consumo humano, como o Sistema Cantareira, o secretário da Agricultura, Arnaldo Jardim, afirmou que o governo deve restringir o uso de água para irrigação, o que também pode agravar a produção de hortaliças. A reportagem entrou em contato com a Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo. A assessoria da pasta informou que ainda não há nada oficialmente decidido e que a restrição ainda está sendo estudada.
O Cinturão Verde responde por 90% das verduras e 40% dos legumes consumidos na capital paulista, de acordo com a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp) e os problemas na produção já afetam os preços. Flávio Godas, economista da Ceagesp, disse que as hortaliças fecham janeiro com elevação média de 10% nos preços.
De acordo com ele, produtos mais sensíveis como alface, brócolis, agrião e chuchu, já apresentam elevações de até 70%. Mas o aumento, esperado nessa época do ano, deve se prolongar. "Este ano a escassez de água deve potencializar os aumentos e estender o período de preços elevados. Ainda não dá para fazer qualquer previsão, o que se pode afimar é que legumes e verduras continuarão com preços em alta", diz.
Fonte: Globo Rural. Por Susana Berbert. 30 de janeiro de 2015.
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