Foto: Scot Consultoria
Em 17 de setembro ocorreu um programa ao vivo para debater a sustentabilidade da pecuária no Brasil, com foco nos biomas Amazônia e Cerrado. O debate faz parte do Ciclo de Debates Insper Agro Global 2020, patrocinado pelo Itaú-BBA.
Participaram André Guimarães, diretor executivo do IPAM e facilitador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Fernando Sampaio, diretor da Estratégia PCI – MT e ex-diretor executivo da ABIEC, Marcio Nappo, diretor de sustentabilidade do JBS Brasil, Maurício Nogueira, diretor na Athenagro, Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade e comunicação corporativa do Marfrig.
Mediando o bate-papo, participaram Julia Dias Leite, diretora-presidente do CEBRI e Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global e membro do Conselho Consultivo Internacional do CEBRI.
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A posição do Brasil em áreas ocupadas com pastagem vem caindo, de 190 milhões de hectares para 160 milhões, sendo metade dessa redução para lavoura. Em função dessa redução de área a produtividade brasileira aumentou 1,5@/ha para 4,5@/ ha.
O Brasil, como produtor de carne, avançou de 5 milhões de toneladas em 1995 para as atuais 11 milhões de toneladas, com 2,8 milhões delas exportadas, cerca de 25% da produção. Atualmente a estimativa do rebanho bovino brasileiro é de 211 milhões de cabeças, 58 milhões delas, ou 27%, estão no bioma amazônico.
O destaque do debate foi a participação do setor privado na exploração sustentável da Amazônia e do Cerrado em meio à pressão ambiental, questões de regulamentação de terras, código florestal e outras questões de políticas públicas. A pecuária nacional é acusada de desmatamento e, deste modo, ações que desmintam essa visão entraram em pauta. Como as indústrias e produtores têm participado deste processo?
Três pilares têm sustentado as ações da Marfrig, de acordo com Paulo Pianez: recursos, tecnificação e tecnologias de monitoramento. Porém, primeiro deve-se conquistar o engajamento e a inclusão ambiental/social dos produtores, sem excluí-los. Segundo Pianez, são 23 as ações nesse sentido que acontecem, não de maneira sequencial, mas como um mosaico, articuladas simultaneamente.
Já Marcio Nappo, diretor de sustentabilidade da JBS Brasil, destacou os pontos ao longo da última década que incrementaram o assunto sustentabilidade, principalmente em ações conjuntas com o Ministério Público e ONGs. De 2009 para cá, foi criado o “Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável” na empresa, a primeira mesa de pecuária sustentável do mundo, segundo ele, que levou à criação da “Global Roundtable for Sustainable Beef”, primeira mesa de pecuária no planeta com foco no assunto.
Em 2013, a participação do Ministério Público foi fundamental para integrar mais frigoríficos à iniciativa de verificação da origem de boiadas, através da adoção do Termo de Ajustes de Conduta (TAC), e o TAC Carne Legal, atuando em todos os estados da Amazônia Legal.
Em 2017 o GTPS publicou o Guia de Indicadores da Pecuária Sustentável (GIPS), onde qualquer pecuarista pode avaliar a sustentabilidade de sua propriedade rural e, por fim, a criação de protocolos denominado Boi na Linha, para monitoramento e auditoria dos que atuam na Amazônia Legal.
Para Fernando Sampaio, diretor da Estratégia PCI – MT e ex-diretor executivo da ABIEC, a pecuária vive um “paradoxo”, pois está encolhendo de tamanho, com aumento da eficiência ligada diretamente ao mercado, principalmente ao mercado internacional, com destaque à China, deixando de ser uma reserva de valor nos últimos anos e tornando a atividade econômica fim o objetivo.
A relação que existe entre desmatamento e pecuária deve ser desfeita ante os compradores internacionais, quebrar essa visão e prover o mercado de informações de origem e da cadeia produtiva é fundamental à sustentabilidade da pecuária.
Políticas que impedem a compra de bovinos oriundos de desmatamento, com a exclusão de produtores e o aumento desmedido de regras quanto ao assunto pode criar um “clube”, ou um “Apartheid” rural. Sabendo-se que a pecuária está presente em todos os municípios brasileiros, a parceria público-privada, a desburocratização e a regularização fundiária e acesso a credito são fatores de integração e sustentabilidade.
Para Maurício Nogueira, a pecuária brasileira caminha para um exemplo de sustentabilidade. Se todos os sistemas de produção se intensificassem, o Brasil poderia manter a produção atual com apenas 40 milhões de hectares.
A maior dificuldade a ser superada é o quadro vigente, onde quase 90% dos pecuaristas convivem com algum grau de prejuízo e 10% com lucro, movimentando de 75 a 80% das vendas anuais. Esse desequilíbrio deve reduzir a produção de carne fiscalizada em 4 a 5% ao ano, e os abates informais devem subir a níveis de 30%.Como, então, controlar esses fornecedores indiretos sem pressionar mais ainda esse processo de exclusão?
Por fim, encerrando o debate, André Guimarães destacou que o Brasil importava alimentos e hoje, é um dos maiores exportadores do mundo, graças à competência criada nos últimos anos, com uma visão de expansão e abertura de fazendas.
O consumidor moderno não procura mais apenas comprar o produto, mas quer conhecer seu papel na cadeira ambiental e, em função disso, pressiona a forma como a agropecuária vem trabalhando. Falamos de um dos setores de maior heterogeneidade no Brasil: a pecuária. Temos aqueles de enorme competitividade, convivendo com menos competitivos e pobres.
O fato de o mercado chinês ter provado da carne brasileira abre um grande panorama. Porém, isso não perdurará associado ao desmatamento. Para isso, é preciso inclusão e conciliação entre produto, setor público e setor privado.
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