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Na última segunda-feira (16/11) às 18:30h, a equipe da Scot Consultoria participou da IX Aula Magna com o tema “Mudanças climáticas na agricultura: perspectivas e desafios” conduzida pelo professor Fábio Ricardo Marin, formado em Agronomia (1998) pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz” (ESALQ/USP), mestre (2000) e doutor (2003) em Agronomia pela mesma instituição e que tem atuado na área de agrometeorologia e modelagem agrícola.
Fábio trouxe ao debate questionamentos sobre o aumento da temperatura global ao mostrar dados gerados pelo modelos CMIP5 (Coupled Model Intercomparison Project Phase 5), que predizem aumento de 1,5°C na temperatura média global dentro dos próximos 30 anos.
Confrontando os dados apresentados pelo modelo, Marin mostrou dados de termômetros que revelam o avanço das temperaturas de 1983 até 1998, e, como exemplo dessa alta, citou o aumento da temperatura máxima e mínima em Piracicaba, de 1,30°C e 1,58°C, de acordo com dados compilados pela ESALQ/USP com base em sua série histórica.
O professor chamou a atenção para duas palavras chave: variabilidade x mudança climática. Há de se considerar que a variabilidade climática entre anos e períodos é natural (ciclos climáticos), mas a mudança climática reflete um efeito contínuo, com tendência constante, como o que tem sido visto nos últimos anos com a temperatura global.
O aumento da temperatura é causado pelo maior acúmulo de energia na atmosfera, proveniente principalmente do aprisionamento das ondas infravermelhas emitidas pela terra, e Marin levanta um questionamento apontado no meio científico: esse aumento não está relacionado às emissões de raios pelo Sol? O pesquisador mostrou que não há uma relação entre a radiação e o aumento da temperatura.
Como figura chave no quesito mudança climática, foi citado o francês Joseph Fourier que, por volta de 1824, iniciou a discussão acerca do efeito estufa e suas consequências na atmosfera terrestre. Hoje, anos após a discussão inicial levantada por Fourier, está comprovado que gases como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nítrico (N2O) emitidos em função da industrialização têm papel no efeito estufa.
O principal “ingrediente” nesse bolo é a modificação na composição da atmosfera do planeta, marcada principalmente pela Revolução Industrial, ocorrida por volta de 1760 a 1840, quando aumentou a queima de combustíveis fósseis tais como o petróleo, carvão mineral e gás natural, aumentando a liberação de carbono na atmosfera, principalmente sob a forma de CO2.
O uso de combustíveis fósseis aumentou drasticamente a emissão de CO2, e a geração de um sistema de energia baseado em seu uso e processo libera carbono (C) fixado em elementos da crosta terrestre na forma de CO2. Boa parte desse gás não é fixado novamente, sendo um ciclo “aberto” de emissão. O que isso acarreta? Há um aumento do gás na atmosfera, dificultando a reflexão de ondas longas de energia, ou seja, havendo uma retenção de energia.
O Brasil foi pioneiro em trazer uma possibilidade de solução, com o uso dos biocombustíveis, favorecendo de modo significativo o balanço de emissões através do ciclo “fechado”, onde o agro acaba reavendo esse carbono durante a produção de biomassa.
Como fica o agro? Marin trouxe estudos que mostram que aumentos razoáveis de CO2 – e da temperatura terrestre -, podem até aumentar a produtividade de plantas, sendo que as plantas de ciclo fotossintético C4 são menos eficientes do que plantas C3, que possuem a capacidade de fixar mais carbono com a mesma quantidade de moléculas de água.
Por outro lado, o aumento de temperatura pode ou não ser maléfico dependendo da região afetada, uma vez que as plantas possuem temperaturas ótimas para enzimas, crescimento, desenvolvimento e outros pontos que afetam a produtividade.
Dessa forma, regiões mais frias podem se beneficiar com um aumento da temperatura para determinadas culturas, assim como regiões com temperaturas ideais para certos cultivos, atualmente, poderiam ser prejudicados com essa mesma mudança. O principal motivo que favoreceria a produtividade nesse cenário seria o aumento da eficiência do uso da água.
Estudos do grupo coordenado pelo Dr. Marin vêm sendo realizados com o uso de modelos matemáticos, simulando cenários de produção de soja, milho e feijão diante dessas mudanças climáticas.
Destacamos que cabe aos produtores estudarem o tema para saberem sobre mudanças no amanhã que estão sendo discutidas hoje.
O uso dos modelos matemáticos podem ser uma ferramenta excepcional, indicando caminhos para diferentes cenários de acordo com as variáveis predispostas pelos interessados. Cabe ressalva que há diversos interesses em jogo ao tratar-se desse assunto e, por isso, ter cuidado quanto a divulgação de informações sobre esse tema são essenciais.
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