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O fósforo é um macronutriente fundamental à manutenção da vida, pois está relacionado ao atendimento da demanda energética do organismo, formação óssea e funções metabólicas (Bertechini, 2013). Sua inclusão em dietas de monogástricos é associada a um problema ambiental e financeiro.
O nutriente está presente em ingredientes de origem vegetal, como o milho e farelo de soja, em sua maior parte na forma de ácido fítico ou formas salinas, como os fitatos. Como apresenta apenas 30% de disponibilidade, há a necessidade da inclusão de outras fontes de fósforo nas dietas, principalmente fontes inorgânicas, como o fosfato bicálcico.
As fontes inorgânicas de fósforo, quando fornecidas em excesso, são excretadas no ambiente e podem acelerar processos de eutrofização de corpos dágua, desencadeando um processo denominado por "zonas mortas", as quais levam à depleção de oxigênio dos organismos aquáticos nessas regiões.
Outro ponto de atenção aos danos ambientais refere-se às fontes de fósforo inorgânico que, com a ação antrópica, aceleraram o processo de uso das rochas fosfáticas, pressionando o sistema natural e podendo levar a uma crise global de fósforo em até cem anos (Daneshgar et al., 2018).
Além disso, o fornecimento excessivo representa um custo adicional, visto que os custos dessas fontes inorgânicas são expressivos, ficando atrás apenas dos gastos relacionados à proteína e energia nas formulações de dietas (Bertechini, 2013)
Uma alternativa ao uso das fontes inorgânicas que vem crescendo desde a década de 90 refere-se ao uso da enzima exógena fitase.
Enzimas são proteínas que atuam acelerando determinados processos metabólicos, seja para síntese ou degradação de determinada molécula.
A fitase age na quebra do ácido fítico dietético, disponibilizando fósforo e outros nutrientes, de modo que pode substituir parcialmente o uso de fósforo inorgânico e de outros ingredientes da dieta (Bedford, 2010).
O uso da fitase diminui a excreção de fósforo e outros nutrientes no ambiente, resultando em um menor impacto ambiental.
Na tabela 1, vemos a suplementação de fitase em dieta com mesmo nível de proteína, redução dos níveis de fósforo inorgânico e seu efeito no consumo e excreção de fósforo.
Tabela 1.
Consumo e excreção, em mg/ave/dia, de fósforo em dietas suplementadas ou não com fitase, entre 14 e 35 dias.
Fonte: Adaptado de GOMIDE et al. (2011) / Elaboração: Scot Consultoria.
Na produção de frango de cortes, o uso de fitase tornou-se fundamental. Além de diminuir os custos com a inclusão de fontes inorgânicas, onerosos na composição da dieta, possui resultados positivos em relação a dietas convencionais.
A tabela 2 contém os resultados de um estudo avaliando a inclusão de fitase a uma dieta com redução dos níveis de cálcio e fósforo (controle negativo, ou CN) em relação a uma dieta convencional (controle positivo, ou CP).
Tabela 2.
Desempenho zootécnico de frangos de corte, de 1 a 42 dias, suplementados ou não com fitase.
Fonte: Adaptado de SCARIOT, Rovaldo (2019). / Elaboração: Scot Consultoria.
O ganho de peso de animais suplementados com fitase é um pouco menor comparado à dieta convencional, mas essa queda é economicamente compensada pelo menor consumo de ração por ave.
Considerando o uso de fitase, há uma queda de R$0,04 na remuneração por ave, porém, o consumo dessas aves é R$0,07 menor do que a de aves no controle positivo, veja na tabela 3.
Tabela 3.
Remuneração, gastos com consumo de ração e margem, em R$/ave, entre as dietas ofertadas.
Fonte: Adaptado de SCARIOT, Rovaldo (2019). / Elaboração: Scot Consultoria.
As diferenças parecem mínimas, mas ao tratarmos de frangos de corte que são criados em galpões que alojam milhares de aves, os centavos passam a fazer diferença na viabilidade do negócio.
Veja na tabela 4 uma simulação ao considerarmos um galpão alojando 10 mil aves nessas condições, e como a diferença obtida entre as dietas pode significar melhores resultados, apesar da remuneração menor.
Tabela 4.
Simulação de resultados econômicos entre dois galpões alojando 10 mil aves cada, com o uso ou não de fitase, em R$/galpão.
Fonte: Adaptado de SCARIOT, Rovaldo (2019). / Elaboração: Scot Consultoria.
Apesar da remuneração de R$374,53 maior no galpão sem a suplementação de fitase (a), o uso de fitase (b) resultou em um consumo de ração R$771,03 menor. Dessa forma, a redução do custo com a dieta acaba remunerando o produtor em R$396,50, para cada 10 mil aves alojadas, ou seja, R$739,00 no caso desse produtor com dois galpões.
Quando tratamos de avicultura de corte, uma diferença da ordem de centavos no consumo de ração, que representa até 70% dos custos de produção, e na remuneração pelo lote terminado, pode trazer resultados de grande impacto.
Dessa forma, estratégias como a inclusão de fitase minimizam os custos de produção e ainda reduzem os impactos ambientais, favorecendo não só a sustentabilidade do ambiente, como também a sustentabilidade do negócio.
Referências
BEDFORD, Michael Richard; PARTRIDGE, Gary G. (Ed.). Enzymes in farm animal nutrition. Cabi, 2010.
BERTECHINI, Antônio Gilberto. Nutrição de monogástricos. rev. MG, Brasil: UFLA, 2013.
DANESHGAR, Saba et al. The potential phosphorus crisis: resource conservation and possible escape technologies: a review. Resources, v. 7, n. 2, p. 37, 2018.
GOMIDE, Elisangela Minati et al. Rações com níveis reduzidos de proteína bruta, cálcio e fósforo com fitase e aminoácidos para frangos de corte. R. Bras. Zootec., Viçosa, v. 40, n. 11, p. 2405-2414, nov. 2011. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-35982011001100018&lng=en&nrm=iso>. Accesso em 05 Fev. 2021. https://doi.org/10.1590/S1516-35982011001100018.
SCARIOT, Rovaldo. Fitase em dietas deficientes em fósforo, cálcio e sódio para frangos de corte. 2019. 77 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon, 2019.
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