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Scot Consultoria

Mais agricultura, mais pecuária


Quarta-feira, 14 de junho de 2023 - 06h00

Foto: Bela Magrela


Como estão as áreas para agricultura e pecuária no Brasil?

No Brasil, as áreas com agricultura (lavouras temporárias e perenes) saíram de 19,1 milhões de hectares, em 1985, para 62,7 milhões em 2021, crescimento de 229%.

Já a área com pastagens saiu de 121,36 milhões de hectares para 158,97 milhões no mesmo período, aumento de 31%. A partir de 2007, a área destinada com pastagens caiu 8,4%, após atingir o ponto máximo de 173,55 milhões de hectares.

Com relação às pastagens degradadas, em 2000, no Brasil, 75% das áreas com pastagens apresentavam algum grau de degradação, sendo 35% de degradação severa e 40% de degradação moderada. Em 2021, esse número caiu para 63%, sendo 22% com degradação severa e 41% em degradação moderada (figura 1).

Figura 1.
Áreas de pastagem com ou sem degradação e de agricultura ao longo do tempo no Brasil, em milhões de hectares.

Fonte: MapBiomas e Lapig / Elaborado por Scot Consultoria

Mas o que é uma pastagem degradada?

A degradação da pastagem é a queda acentuada e contínua da produtividade da pastagem, ao longo do tempo.

Na prática, a avaliação da degradação da pastagem pode ser feita acompanhando a capacidade de suporte (UA/ha/ano), pela perda de desempenho na produção (ganho de peso ou produção de leite) e da pastagem (pasto “rapado”).

Caso, ao longo dos anos, o número de animais mantidos em uma área estiver diminuindo, a pastagem está se degradando.

Além da capacidade de suporte, alguns sinais visíveis podem ser indicativos de degradação, tais como a presença de plantas invasoras, compactação do solo, erosão e diminuição do percentual de capim, entre outros fatores.

Para evitar a degradação em áreas com pastagem, o produtor deve fazer o controle rotineiro da taxa de lotação, análise de solo e manutenção da fertilidade e controle de plantas daninhas e insetos-praga.

Como reverter essa situação?

De maneira geral, existem três opções para reverter o processo de degradação das pastagens, dependendo do nível de degradação, a capacidade de investimento e a qualificação técnica do pecuarista.

A primeira é a recuperação direta, que consiste em controlar as plantas daninhas e ajustar a fertilidade do solo por meio de adubação, podendo ser necessário a ressemeadura das forrageiras apenas nas áreas de solo descoberto.

A segunda é a renovação, que envolve a formação de uma nova pastagem, sendo necessário o preparo do solo e correção da fertilidade e replantio da forrageira com mudança ou não da espécie. O uso da área tem que ser interrompido por cerca de 90 dias, tempo médio necessário para formar a nova pastagem.

E a terceira é a recuperação/renovação indireta, através dos sistemas de integração como forma de recuperar a fertilidade do solo, obter renda em curto prazo ou diversificar a geração de renda, podendo ser o sistema agropastoril (lavoura-pecuária - ILP), silvipastoril (pecuária-floresta - IPF) e agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-floresta - ILPF).

Essa opção requer mais investimentos, mas tem maior potencial de retorno do capital investido, agregando outras atividades como fonte de renda na mesma área.

O que é o sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP)?

Integração Lavoura-Pecuária (ILP) é uma técnica que consiste na rotação de pastagens e lavouras de grãos, principalmente soja e milho, em uma mesma área.

Normalmente, a ILP é iniciada em pastagens degradadas. Durante um período entre três e cinco anos, são conduzidas lavouras, após o qual a área é convertida novamente em pastagem por um período equivalente.

Esse ciclo se repete, criando um sistema estável. Outra prática associada à ILP é o sistema de cultivo de lavouras anuais de verão seguidas por pastagens de outono-inverno, que também servem como cobertura vegetal para as culturas de verão, podendo ser dessecadas posteriormente para o cultivo de verão.

Os principais benefícios da ILP para a pecuária extensiva são a (1) diluição de risco econômico, uma vez que a produção não depende apenas de uma atividade, (2) melhoria da qualidade e disponibilidade de pastagem, (3) redução dos custos com suplementação alimentar, (4) melhoria do bem-estar animal, (5) redução do impacto ambiental e (6) aumento da rentabilidade.

Para as culturas, ocorre a melhoria da estrutura e das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, em função da rotação de culturas, além de aumentar a matéria orgânica e a ciclagem de nutrientes.

Outro benefício é a quebra do ciclo de pragas e doenças, uma vez que a rotação de culturas e/ou presença de árvores reduzem a pressão de doenças e pragas específicas.

O sistema de integração favorece o controle de plantas invasoras, pois a rotação de culturas diminui o desenvolvimento dessas plantas e permite um controle mais efetivo.

A inclusão de pastagem na propriedade, seguida de culturas anuais, promove uma maior produção de grãos, pois a pastagem permite a recuperação do solo e aumento da matéria orgânica, favorecendo o desenvolvimento das culturas subsequentes.

A integração de diferentes atividades, permite uma redução nos custos com insumos, como fertilizantes e defensivos agrícolas, além da reciclagem de nutrientes.

Com o aumento da produtividade em áreas já utilizadas, diminui a necessidade de desmatar novas áreas.

E os sistemas de integração estão ajudando a reduzir as pastagens degradadas?

Estima-se, no Brasil, que os sistemas de integração estão de 30 a 40% em áreas que antes eram degradadas.

A pecuária está se integrando em áreas de grãos no Sul do país, enquanto, no Centro-Oeste, os grãos estão se integrando nas áreas com pecuária.

No Brasil, não há dados oficiais para os sistemas de integração agrícolas. A Rede ILPF e a Embrapa, estimaram que a área com adoção de algum sistema integrado era de 11,47 milhões de hectares na safra 2015/16, equivalente a 5,5% da área antropizada sob uso agropecuário no Brasil.

Por meio de modelos matemáticos e de dados de contratos de financiamento provenientes do Programa ABC, estimou-se que, na safra 2020/21, a área com integração era de 17,43 milhões de hectares, 8,35% das áreas sob uso agropecuário no Brasil (figura 2).

Figura 2.
Evolução da área de ILPF implantada no Brasil em milhões de hectares.

Fonte: Rede ILPF

Entre as safras 2015/16 e 2020/21, o crescimento na adoção de algum sistema ILPF foi de 52%.

A expansão pode chegar até 48 milhões de hectares, principalmente com a incorporação de áreas improdutivas e pastagens degradadas (Embrapa).

Os estados com maior área destinada para algum sistema ILPF são: Mato Grosso do Sul com 3,17 milhões de hectares (18,2%), Mato Grosso com 2,28 milhões de hectares (13,1%), Rio Grande do Sul com 2,22 milhões de hectares (12,7%) e Minas Gerais com 1,59 milhões de hectares (12,7%).

Considerando as áreas com integração em áreas sob uso agropecuário, o destaque vai para o Rio Grande do Sul com 31,17% de sua área agrícola com algum sistema ILPF, em seguida está Santa Catarina com 28,87%, Mato Grosso do Sul com 16,25%, Espírito Santo com 15,13% e Rio Grande do Norte com 14,65%.

Em 2009, o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) estipulou uma meta de aumentar em quatro milhões de hectares a área com ILPF até 2020. Apenas entre 2010 e 2015, houve o incremento de 5,96 milhões de hectares, responsáveis pelo sequestro de 21,8 milhões de toneladas de CO2eq.

Com a ratificação, pelo Brasil, do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima, foi adicionado à meta mais cinco milhões de hectares, totalizando nove milhões de hectares até 2030.

A linha de crédito do Programa ABC+ incentiva e financia sistemas de produção agropecuária, que atuam na mitigação de gases de efeito estufa (GEEs), e ações de adaptação às mudanças climáticas.

Esse sistema compensa?

Em 2022, considerando o sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), com o cultivo de soja, milho segunda safra e forrageira, as maiores participações na composição dos custos de produção foram fertilizantes e corretivos (30,9%), defensivos (26,1%) e sementes (12,3%).

Considerando apenas o cultivo de soja, os maiores custos foram com fertilizantes e corretivos (32,8%), sementes (26,8%) e defensivos (10,3%). Para o milho de segunda safra, os fertilizantes também tiveram maior participação (37,2%), seguido dos defensivos (16%) e das sementes (15,3%).

No sistema integrado, a participação de fertilizantes, corretivos e sementes diminuíram, enquanto para os defensivos houve um aumento, em função dos tratos culturais.

Considerando o mesmo sistema, na safra 2021/22, o resultado econômico foi de R$13.610,00 por hectare, sendo a soja e o milho de segunda safra responsáveis por 90,9%. Na safra 2022/23, com a queda nos preços das commodities, a expectativa é que o resultado seja de R$8.940,00 por hectare, sendo a soja e o milho segunda safra responsáveis por 87,8%.

Em um estudo de caso na região Sul do país, na média de 22 anos, um sistema convencional de soja produziu 47 sacas por hectare. Já no sistema de integração, a produtividade média foi de 47 sacas de soja e mais 26 sacas de soja no equivalente da produção pecuária, aumento de 55% na receita.

Estima-se que a margem é de 25 a 30% maior em sistemas de integração quando comparada com sistemas convencionais. Podendo variar a depender do sistema adotado.


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