Foto: Bela Magrela
Ocorreu em 11 de dezembro de 2024, na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, a primeira edição presencial do Fórum Técnico Pecuária Sustentável, um evento realizado pela Embrapa em parceria com a Mosaic, que teve por objetivo promover discussões sobre a adoção e o impacto de práticas e processos agropecuários que contribuam para a produção pecuária eficiente e sustentável. Durante o evento palestraram os pesquisadores da Embrapa Patrícia Menezes e Felipe Tonato, além de Fernando Ongaratto, especialista em desenvolvimento de mercado da Mosaic.
Patrícia Menezes palestrou sobre o planejamento de sistemas pecuários, trazendo em sua apresentação destaques sobre a importância do planejamento da escala da fazenda antes do pasto, orientando sobre a relevância de considerar os objetivos do produtor, os recursos humanos e materiais disponíveis antes de planejar os procedimentos operacionais (manejo do pasto). Em sua apresentação, Menezes trouxe considerações sobre a importância de garantir uma oferta constante e satisfatória de alimentos durante todo o ano para o rebanho, em vista de um clima mais variável do que em períodos anteriores, prevendo a necessidade de fornecimento de suplementação, feno, silagem, bagaço de cana ou outras fontes alternativas de alimentos para o rebanho.
Menezes, destacou os passos para o planejamento dos grupos e lotes do rebanho, considerando a idade, peso, sexo, raça e número de bovinos, mencionando que esses são fatores fundamentais para definir a escala temporal do rebanho no sistema pecuário. Com os lotes separados, Menezes enfatizou a importância de definir o peso mínimo de abate e o tempo máximo de confinamento, buscando agrupar os bovinos de forma a tornar a transição do pasto para o confinamento o mais eficiente possível.
Por fim, Menezes trouxe considerações sobre a importância do planejamento do uso da terra nas fazendas. De forma geral, áreas com solos de menor potencial produtivo, maior risco de erosão e mais difíceis de mecanizar, devido à declividade, podem ser usadas para pastagens, visando também à manutenção de uma cobertura vegetal constante. Já áreas com solos de maior potencial produtivo e menor risco de erosão pode ser utilizadas para o cultivo de culturas anuais, e as áreas de maior potencial produtivo devem ser planejadas de modo a garantir uma produção de matéria seca condizente com o consumo do rebanho.
Na segunda palestra, o pesquisador da Embrapa, Felipe Tonato, abordou o tema “Os fertilizantes como ferramenta de manejo nos sistemas de produção”. Iniciando sua apresentação, destacou a relevância das pastagens brasileiras, ressaltando que a área ocupada por pastagens no Brasil supera a extensão de países europeus como Alemanha e França. Ele também destacou que o bioma amazônico apresenta a menor proporção de áreas com pastagem, com cerca de 10%, enquanto o Pampa detém a maior, com aproximadamente 33%. O pesquisador enfatizou que grande parte das pastagens brasileiras não atinge o potencial produtivo máximo, sendo mais de 70% classificadas como de baixa fertilidade.
Embora o Brasil ocupe a quarta posição mundial de compradores de fertilizantes, o pesquisador ressalta que a baixa fertilidade do solo ainda é um obstáculo significativo, com mais de 40% dos produtores relatando que isso é um dos maiores gargalos para a pecuária nacional. Esse paradoxo se explica pelo fato de que apenas 1,8% do total de fertilizantes consumidos no país é destinado às pastagens, evidenciando um desequilíbrio na aplicação desses insumos.
E as possíveis razões são plantas forrageiras são consideradas culturas de baixo valor, perdas de produção devido à queda da produtividade não são perceptíveis, dificuldade de mensurar o retorno econômico recomendado da prática, da publicidade, ineficiência na utilização da forragem extra produzida.
Com isso em mente, Tonato enfatizou a importância da calagem ou gessagem do solo como etapa prévia à adubação. Essa prática visa reduzir a acidez do solo, elevando o pH, e fornecer cálcio e magnésio essenciais para o desenvolvimento das plantas. Ao corrigir a acidez, cria-se um ambiente propício ao crescimento radicular.
Tonato também destacou a importância da fertilidade do solo para o sucesso das pastagens. A adubação, especialmente com nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), exerce um papel na regulação do crescimento e desenvolvimento das plantas forrageiras, influenciando características como altura, densidade e relação folha/colmo. Essas alterações na morfologia das plantas impactam o manejo da pastagem, afetando as taxas de lotação e o comportamento alimentar dos bovinos.
O pesquisador explicou passo a passo como adubar a pastagem, iniciando pela análise do solo por meio de amostragem, identificação das espécies forrageiras e suas necessidades nutricionais, aplicação de corretivos para eliminar deficiências, adubação de manutenção para garantir a fertilidade do solo em longo prazo e adubação de reposição para repor os nutrientes retirados pelas plantas. Além disso, detalhou os impactos de cada nutriente no solo e no desenvolvimento das plantas.
Para finalizar, também houve uma conversa sobre o uso de bioinsumos em pastagens. Tonato destacou que assim como em outras culturas, a tendência é o aumento do uso de inoculantes em pastagens, como por exemplo Azospirillum brasilense, cujo objetivo é aumentar a eficiência de nutrientes, a capacidade radicular de plantas e outros benefícios. Tonato destacou que a oferta de fertilizantes atualmente disponível não seria suficiente para suprir toda a demanda caso todos os pastos brasileiros passassem a ser adubados em níveis adequados, e isso torna necessário em longo prazo a adoção de outros recursos e estratégias além da adubação convencional, porém destaca que ainda há a necessidade de pesquisas com o viés de definir como seria o melhor uso dos bioinsumos em pastagens.
O último palestrante, Fernando Ongaratto, trouxe considerações acerca do ciclo do sistema pastoril e dados da pecuária brasileira para contextualizar o efeito "poupa-terra" em pastagens. Ongaratto apresentou dados recentes sobre a pecuária brasileira: o Brasil possui o segundo maior rebanho de bovinos do mundo (220 milhões de cabeças) e é o maior produtor mundial de carne, além de ser o quinto produtor mundial de lácteos, emitindo 2,3% do total de gases de efeito estufa do mundo. Ongaratto ofereceu um panorama da pecuária brasileira como um sistema sustentável.
Ele abordou, em seguida, os quatro elementos que envolvem o sistema pastoril: solo, atmosfera, planta e animal. Ongaratto classificou o pasto como uma “comunidade de perfilhos”, conforme suas palavras, estando sob o efeito de seis fatores: umidade, chuva, radiação solar, temperatura, compactação do solo e manejo. O manejo, segundo Ongaratto, é o fator mais deficitário nos pastos brasileiros, sendo necessárias iniciativas nesse sentido. Sobre a atmosfera e o bovino, Ongaratto trouxe dados de seu trabalho de doutorado.
Ongaratto mencionou a importância de intensificar as pastagens, buscando o efeito "poupa-terra", que é a capacidade de práticas de manejo sustentável e técnicas agrícolas para aumentar a produtividade e a produção de carne e leite, reduzindo a necessidade de ampliar as áreas com pastagem. Segundo ele, isso é alcançado por meio da melhoria da eficiência na utilização de recursos, como alimentação e manejo do gado, resultando em uma maior produção por hectare. Outros exemplos mencionados incluem a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), a agricultura de precisão, e o dimensionamento e rotação de piquetes. O recado final de Ongaratto foi a capacidade que o efeito "poupa-terra" possui de melhorar a lucratividade na pecuária brasileira.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos