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Efeito poupa-terra na pecuária de corte


Quinta-feira, 6 de março de 2025 - 06h00

Foto: Bela Magrela


O Brasil está entre os maiores produtores agropecuários do planeta. O país consolidou a posição de potência agrícola nas décadas de 1980 e 1990, tornando-se um dos principais exportadores de commodities agrícolas. Esse avanço foi possível através de medidas estratégicas, com destaque para o desenvolvimento de práticas que permitiram produzir mais com menos recursos.

Ao longo dos anos, surgiram novos meios de produção, táticas avançadas de nutrição e manejo, além da difusão de técnicas inovadoras. Esses elementos impulsionaram o conceito da produtividade total dos fatores (PTF), ideia que representa o aumento da produção sem que seja necessário um maior emprego de recursos como trabalho, capital, terra e insumos, entre outros fatores. Tal evolução espelha a eficiência e eficácia na utilização dos recursos disponíveis.

Nesse contexto, o efeito poupa-terra foi notável. Esse efeito permitiu ampliar os níveis produtivos sem necessidade de expandir as áreas agrícolas, preservando recursos naturais e reforçando o compromisso do agronegócio brasileiro com a sustentabilidade.

Mas o que é o efeito poupa-terra?

O efeito poupa-terra se refere à capacidade de aumentar a produção agrícola, sem a necessidade de expandir a fronteira agrícola. Em outras palavras, permite produzir mais alimentos utilizando a mesma quantidade de terra ou até menos.

Esse conceito está ligado a práticas de manejo, melhoramento genético e uso racional de insumos. Ele reflete um compromisso com a conservação ambiental.

O efeito poupa-terra é bem-vindo em cenários de crescente demanda por alimentos, provocada pelo aumento da população mundial. 

Efeito poupa-terra na pecuária brasileira

O Brasil tornou-se o maior produtor de carne bovina do mundo, cujo crescimento foi constante ano a ano. Entre 1980 e 2024, a produção de carne bovina aumentou 260,7% (figura 1).

Figura 1.
Produção de carne bovina no Brasil nas últimas décadas (em milhões de toneladas equivalente carcaça -TEC) entre 1980 e 2024.

Fonte: USDA/ Elaboração: Scot Consultoria

Ainda se associa o crescimento da produção com o aumento das áreas destinadas às pastagens. Embora essa associação não esteja completamente errada, não é uma verdade absoluta. De fato, houve expansão das áreas com pastagem, mas esse aumento é irrelevante quando comparamos com o crescimento da produção.

O que impulsionou o aumento produtivo foi o aprimoramento da técnica. Isso permitiu a ampliação da produção de carne sem a necessidade de expandir as áreas com pastagem. Esse fato fica claro quando analisamos o aumento do rebanho, a evolução da área com pastagens e a taxa de lotação dos últimos anos.

Figura 2.
Evolução do rebanho bovino, em milhões de cabeças, e da área com pastagens, em milhões de hectares (eixo esquerdo), e da taxa de lotação das pastagens, em cabeças por hectare (eixo direito), no Brasil, entre 2000 e 2023.

Fonte: Lapig e IBGE / Elaboração: Scot Consultoria

Com esses aprimoramentos, a quantidade de cabeças abatidas e o peso médio da carcaça bovina, de machos e de fêmeas, aumentaram nos últimos anos. Esses resultados foram alcançados praticamente com a mesma área de pastagens, evidenciando, o efeito poupa-terra.

Figura 3.
Evolução do número de bovinos abatidos, em milhões de cabeças (eixo esquerdo), e no peso médio das carcaças bovinas** de fêmeas e machos, em kg/cabeça (eixo direito), no Brasil, entre 1997 e 2024.

Fonte: IBGE / Elaboração: Scot Consultoria

*Até o terceiro trimestre.
**fêmeas - peso médio das carcaças de vacas e novilhas; machos - peso médio das carcaças de bois e novilhos

Entre 1997 e 2023, a quantidade de cabeças abatidas anualmente cresceu 129,1%, passando de 14,8 milhões para 34,1 milhões. O peso médio das carcaças de machos aumentou 20,5%, de aproximadamente 245,6kg para 296,0kg, e o das fêmeas aumentou 19,3%, subindo de 181,3kg para 216,2kg.

Desafios e limitações

Uma das limitações está na assimetria técnica, entre pequenos e médios produtores, que compõem grande parte do setor pecuário e que não têm acesso às técnicas para intensificar operações. O manejo inadequado das pastagens e a carência de capacitação técnica limitam o aproveitamento do potencial produtivo. Esse cenário é agravado pela viabilidade econômica da intensificação, que exige investimentos substanciais, muitas vezes inviáveis em períodos de alta volatilidade nos preços do boi gordo.

Para superar esses desafios, são necessárias ações estruturais e integradas. A ampliação de linhas de crédito acessíveis voltados à intensificação pode facilitar a adoção de práticas eficientes.

Conclusão

A combinação de práticas racionais de manejo e o uso de técnicas permitiram à pecuária nacional a conquista e manutenção de mercados. No entanto, para expandir esse modelo sustentável, será preciso superar os obstáculos relacionados ao conhecimento técnico, ao custo de implementação de técnicas e ao acesso desigual a recursos. O fortalecimento de políticas públicas de apoio, e incentivos financeiros, é um pré-requisito para a continuidade do crescimento sustentável do setor.

Referências

Insper - Efeito Poupa-Terra: produtividade é a chave para a sustentabilidade ambiental do agro brasileiro?

https://agro.insper.edu.br/agro-in-data/artigos/efeito-poupa-terra-produtividade-e-a-chave-para-a-sustentabilidade-ambiental-do-agro-brasileiro

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9107-producao-da-pecuaria-municipal.html

Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig)

https://atlasdaspastagens.ufg.br/map

Vieira-Filho, J. E. (2018). Efeito poupa-terra e ganhos de produção no setor agropecuário brasileiro.

https://www.econstor.eu/bitstream/10419/211337/1/1022284398.pdf


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