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Em 2023, a produção de leite no Brasil foi de 27,68 bilhões de litros, enquanto o consumo interno foi de 27,67 bilhões de litros. Segundo a Pesquisa Trimestral do Leite (IBGE, 2024), considerando um preço médio de R$2,80/l pago ao produtor, a produção movimentou cerca de R$77,5 bilhões apenas em pagamentos aos produtores. Apesar de exportar pequenas quantidades, principalmente na forma de leite UHT e leite em pó, o país ainda importa volumes significativos, especialmente de leite em pó. De janeiro a novembro de 2024, foram importados 164 mil de toneladas, totalizando US$576 milhões em gastos no exterior.
O leite, alimento altamente nutritivo, é composto por açúcares (5%), gorduras (4,5%) e proteínas (3,5%), além de ser rico em vitaminas (A, D, E, K e B) e minerais como cálcio, fósforo, potássio e magnésio. Presente há milhares de anos na dieta humana, o leite e seus coprodutos desempenham papel essencial na alimentação global. No Brasil, ele está na tradicional combinação do pão na chapa com manteiga ou requeijão no café da manhã, enquanto na Europa, é amplamente apreciado na forma dos mais diversos tipos de queijo.
No entanto, mesmo com tanta importância econômica e vantagens, a produção de leite é atacada diariamente por uma massa que desconhece os preceitos da produção animal. Os setores da cadeia de produção do leite têm trabalhado continuamente para desenvolver conhecimento e soluções que promovam maior produtividade, e ao mesmo tempo, mais sustentabilidade.
O relatório “Nosso Futuro Comum”, lançado em 1987, desenvolveu os conceitos iniciais do que é sustentabilidade. Desde então, pode-se dividir sustentabilidade em três vertentes: a ambiental, envolve o uso racional dos recursos naturais e redução de impactos ambientais. A econômica, trata do conceito de economia circular e práticas produtivas que não esgotem os recursos naturais e sejam financeiramente viáveis no longo prazo. A social, promove a equidade social, justiça social, combate ao trabalho escravo, respeito aos animais e outros temas.
Surgem, dessa forma, certificados que garantem a sustentabilidade na produção do leite. Abaixo alguns dos certificados atuais.
A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), em parceira com órgãos como PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e a OMS (Organização Mundial da Saúde), promove o conceito de saúde única, que integra a saúde humana, animal e ambiental. Com base nessa abordagem, a Embrapa e a Boehringer-Ingelheim criaram o Programa de Certificação em Biosseguridade para produtores de leite.
As propriedades leiteiras precisam de uma série de requerimentos para requisitar o selo e a certificação de biosseguridade. No entanto, de forma geral, os produtores precisam atender a conceitos de saúde e bem-estar animal, qualidade de vida dos trabalhadores e proteção do meio ambiente.
Para participar, a propriedade deve possuir o Cadastro Ambiental Rural (CAR). É necessário que o responsável pela unidade de produção forneça informações de contato e assine uma declaração de compromisso em cumprir a legislação sanitária, trabalhista e ambiental.
Além disso, a unidade deve apresentar um plano de ações de biosseguridade. Para propriedades de pequeno porte, com produção de até 1000 litros de leite por dia, há a opção de participar em grupo, desde que todas as propriedades compartilhem um mesmo sistema interno de controle e realizem auditorias internas anuais. Essas exigências básicas garantem o alinhamento inicial com os padrões do programa e possibilitam a entrada no processo de certificação.
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O programa certifica produtos de origem animal de propriedades que seguem seus padrões de bem-estar. Após aprovação na inspeção, os produtores podem usar o selo e são monitorados anualmente pela Humane Farm Animal Care, empresa mãe do programa.
Para obterem o certificado, os produtores devem cumprir uma série de requisitos de bem-estar animal. Esses requisitos incluem a nutrição, ambiente, gerenciamento, saúde do rebanho, transporte, processamento, laticínios e abate dos animais.
O primeiro passo para o produtor é ter em sua fazenda um próprio referencial de bem-estar aos animais, estipulado pelo próprio programa. Após os referenciais serem atendidos, deve-se entrar em contato com a empresa para envio e preenchimento dos formulários de solicitação (avaliação documental).
O tempo do processo de auditoria leva em média de um a três meses, e os custos iniciais giram em torno de R$4 mil, além de taxas por cabeça e/ou produção. Não existe mínimo de participação no programa, pois tamanho da propriedade, volume de produção e nível tecnológico do manejo não desqualificam.
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A ISSO 14001 é uma norma internacional voltada para a gestão ambiental, desenvolvida para ajudar organizações a melhorar seu desempenho ambiental. Seu objetivo é estabelecer uma estrutura para que as empresas possam controlar seus impactos seus impactos ambientais e implementar práticas de sustentabilidade, alinhadas às expectativas regulatórias e de mercado.
As organizações que desejam obter a certificação devem implementar um sistema de gestão ambiental baseado nos requisitos da norma, que incluem a identificação de aspectos ambientais (determinar como as atividades, produtos ou serviços impactam o meio ambiente), política ambiental (definir e documentar compromissos claros com a proteção ambiental, prevenção da poluição e cumprimento de obrigações legais) e capacitação e comunicação (garantir que funcionários sejam treinados e conscientes de suas responsabilidades ambientais).
Não há um porte mínimo para participar. Pequenos produtores e grandes indústrias podem implementar o sistema de gestão ambiental. No entanto, é essencial estar em conformidade com a legislação ambiental.
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Os selos de certificação são mais do que um diferencial nos produtos, eles representam um compromisso com a sustentabilidade. Conforme o consumidor torna-se mais consciente e exigente, valorizando práticas éticas e transparentes, cresce a busca por alimentos produzidos de maneira responsável, saudável e com respeito ao meio ambiente.
Quando falamos nos produtores, investir em certificações é estratégico, pois agrega-se valor aos produtos e obtém-se maior lucratividade. Os selos e certificações promovem garantias produtivas, o que facilita aberturas comerciais em mercados mais exigentes e contribuem para a segurança alimentar do país. No contexto global, onde qualidade e sustentabilidade estão cada vez mais em alta, investir nesses selos e certificações é se preparar para um futuro mais sustentável e competitivo.
Referências bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Sistemas de gestão ambiental - Requisitos com orientação para uso. Disponível em: https://www.ipen.br/biblioteca/slr/cel/N3127.pdf. Acesso em: 16 dez. 2024.
HUMANE FARM ANIMAL CARE. Bovinos Leiteiros. Disponível em: https://certifiedhumanebrasil.org/qual-a-importancia-da-producao-de-leite-sustentavel/. Acesso em: 13 dez. 2024.
IBGE. Estatística da produção pecuária. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=72380. Acesso em: 17 dez. 2024.
VICENTINI, N.M. et al. Programa de certificação em biosseguridade para propriedades leiteiras. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1163633/1/Programa-de-certificacao-em-biosseguranca-para-propriedades-leiteiras.pdf. Acesso em: 13 dez. 2024.
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