Estudo realizado pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena/USP) indica que os cafezais do Brasil têm um baixo grau de emissão de gases de efeito estufa (GEE). Segundo o levantamento, que considerou apenas a variedade arábica - responsável por 75% da produção nacional -, as emissões de gás carbônico equivalente podem variar entre 2,03 toneladas por hectare e 4,95 toneladas por hectare, dependendo da região.
De acordo com Carlos Clemente Cerri, pesquisador do Cena responsável pelo estudo, o levantamento foi feito nas três principais regiões produtoras de Minas Gerais, Estado que responde por 70% da produção de café arábica do país. “Esse é um primeiro levantamento do setor e leva em consideração apenas a produção do café, dentro da porteira”, afirmou. Não entram na conta, por exemplo, as emissões dos caminhões que transportam o café até as indústrias, nem dos veículos que trazem os fertilizantes para as fazendas.
O sul de Minas foi a região que apresentou a menor taxa de emissões, seguido pela região conhecida como Matas de Minas e pelo cerrado mineiro. Cada hectare cultivado com café emitiu 2,03 toneladas, 2,83 toneladas e 4,95 toneladas, respectivamente. “Não é possível comparar esses volumes às emissões de países como Colômbia ou Vietnã, pois eles não têm esse tipo de levantamento. O que podemos dizer é que as emissões da cafeicultura são de duas a quatro vezes menores que outros grãos que se tem informação”, disse.
Considerando a emissão por saca de café, o sul de Minas produz 50 quilos de GEE, enquanto a região das Matas emite 126 quilos para cada saca e o cerrado, 182.
O estudo apontou que os “vilões” das emissões da cafeicultura são os fertilizantes nitrogenados. Nas Matas de Minas, eles são responsáveis por 78% do total de emissões, tendo uma fatia de 75% no cerrado e de 50% no sul de Minas. Segundo Cerri, o uso de fertilizantes orgânicos misturados aos de origem mineral no sul do Estado é o que justifica um peso menor do insumo no total das emissões de “GEE” na região.
Apesar de o professor do Cena considerar o nível de emissões da cafeicultura baixo, ele disse ser possível reduzir os volumes para patamares ainda menores e até mesmo neutralizar as emissões. Conforme Cerri, o desafio do setor é adequar as doses de fertilizantes utilizadas, além de buscar outras fontes e também novas maneiras de aplicação. A utilização de algumas tecnologias já disponíveis, como fertilizantes com inibidores de emissão, também pode contribuir para melhorar a eficiência do setor.
O inventário de carbono da cafeicultura foi financiado pela torrefadora italiana Illycaffè. O estudo servirá de base para que a empresa possa informar nos rótulos de seus produtos a quantidade de gases de efeito estufa que emite. “A empresa percebeu que o mercado exigirá esse tipo de informação em breve. O que ela fez foi se antecipar a essa demanda”, afirmou Cerri.
Fonte: Valor Econômico. Por Alexandre Inácio. 21 de março de 2011.