O alto nível de endividamento rural é apontado como uma das causas da “internacionalização” das terras produtivas do Estado, podendo aumentar a concentração de investimentos estrangeiros. De acordo com estudos de entidades produtoras, 20% dos produtores rurais estão sem capital para quitar dívidas bancárias, contraídas em 2004 e alongadas até este ano. Em um universo de 5 mil produtores rurais, cerca de mil deles estariam sem condições de pagar suas dívidas.
“Existem distorções que precisam ser corrigidas”, aponta o diretor executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja / MT), Marcelo Duarte Monteiro. Segundo ele, muitos produtores estão com dívidas “infladas” em relação aos valores contraídos por conta das “elevadas taxas de juros e ágios extorsivos”. Para Monteiro, a prorrogação (das dívidas rurais) “é uma falsa ilusão de ajuda” quando feita nesses critérios.
“A prorrogação é necessária, no caso do endividamento contraído naqueles moldes, desde que os valores e os juros sejam congelados. Temos informações de produtores que estão abrindo mão de parte de seu patrimônio só para pagar dívida”.
Na avaliação de Marcelo Monteiro, a dívida é um mal necessário, pois o produtor precisa comprar máquinas e fazer outros investimentos. “Mas há um bolsão que vem se arrastando há anos e que precisa ser resolvido. A dívida é factível e precisamos de agentes financeiros para repassar o crédito. Sem eles o produtor pouco pode fazer”.
O problema, conforme o diretor da Aprosoja / MT, é que houve um “descompasso” entre a renda do produtor e a dívida. “Nas safras 2005, 2006 e 2007, a rentabilidade foi negativa e as dívidas prorrogadas foram correndo a juros altíssimos. Isso acabou quebrando o produtor e até, inviabilizando o pagamento do saldo devedor”.
Monteiro lembra que muitos produtores compraram na época máquinas com valores bem acima do mercado. Uma máquina adquirida por R$200 mil, por exemplo, atualmente está com saldo corrigido de R$1 milhão. “A máquina foi comprada com ágio e juros de 13,5%. Agora os juros caíram para 4,5% e não há ágio. É essa distorção que precisa ser corrigida”.
Para Marcelo Monteiro, “dívida é bom” porque oxigena a economia e dá condições do empresário ou produtor ampliar seu negócio, aumentar a produção e gerar mais empregos. “Mas as taxas de juros precisam ser compatíveis com a atividade e a política agrícola tem de garantir um estímulo a mais aos produtores para que ele possa permanecer na terra”. (MM)
Fonte:
Diário de Cuiabá. 28 de março de 2011.
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