Investimento elevado argumento em prol da compra de terras por estrangeiros.
A expanso da rea de produo brasileira de soja, milho, algodo, cana-de-acar e florestas na prxima dcada vai demandar investimentos de R$93,5 bilhes no campo, sem contar as estruturas agroindustriais. O nmero faz parte de um estudo conjunto das consultorias Agroconsult e MB Agro.
O objetivo do trabalho, encomendado pela Associao Brasileira de Marketing Rural e Agronegcio (ABMR&A), mostrar a necessidade do capital estrangeiro para aproveitar o potencial da agropecuria brasileira.
A compra de terras por estrangeiros est restrita desde agosto de 2010, quando um parecer da Advocacia-Geral da Unio (AGU) restabeleceu os limites de uma lei de 1971.
O estudo considerou a necessidade de capital para a aquisio de terras, a formao das lavouras e a construo da infraestrutura operacional para que o pas atinja as projees de produo traadas pela Organizao para a Cooperao e o Desenvolvimento Econmico (OCDE) e pela Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e Agricultura (FAO).
Um trabalho conjunto dos dois organismos internacionais prev um aumento de 35% na produo de gros do pas nos prximos 10 anos. A elevao deve ser de 25% na produo de carnes, de 85% nos biocombustveis e de 18% no acar.
"No vai ter BNDES que d conta de suprir toda essa necessidade de capital", afirma o diretor geral do Instituto de Estudos do Comrcio e Negociaes Internacionais (Icone), Andr Nassar.
S a produo de gros vai ter de se expandir em 5,6 milhes de hectares na prxima dcada, segundo a Agroconsult e a MB Agro. Na cana, o avano necessrio ser de 3,1 milhes de hectares, o que custar R$43,8 bilhes - outros R$64 bilhes precisaro ser investidos nas indstrias.
J as florestas plantadas precisam ganhar 2,6 milhes de hectares, que custariam R$18,5 bilhes para serem criadas.
No possvel determinar quanto deste capital poderia ser aplicado por produtores e investidores brasileiros. Mas o alto custo do capital e o alto nvel de endividamento dos agricultures e agroindstrias brasileiras apontam para a necessidade de se lanar mo de investidores estrangeiros em terras.
Caso contrrio, pases com menos estrutura mas de grande potencial agrcola, como vrios na frica, so candidatos a receber esses investimentos internacionais.
Desde a publicao do parecer da AGU, fundos e empresas estrangeiras que investem no agronegcio brasileiro paralisaram sua expanso.
"J houve casos de cartrios que se recusaram a registrar vendas de reas rurais a estrangeiros em reas rurais depois do parecer da AGU", afirma o advogado Alexandre Clpis, especialista em direito imobilirio do escritrio paulistano Machado Meyer Sendacz Opice.
Repercusso externa
Quem pode temer os efeitos indiretos da medida so tambm os brasileiros que produzem fora do pas, e que perderiam o princpio da reciprocidadade em defesa de suas propriedades. "O Itamaraty j teve de agir para proteger os produtores do pas na Bolvia e no Paraguai contra medidas dos governos locais", diz o presidente da ABMR&A, Maurcio Mendes.
Segundo o estudo encomendado pela entidade, 17% dos produtores rurais do Paraguai so brasileiros, que respondem pela maior parcela da produo de gros do pas. No Uruguai, 28% da rea plantada com arroz pertence a brasileiros.
Alm disso, os defensores do capital externo sustentam que o Brasil perderia capital poltico internacional ao bloquear esses investimentos. "Abrir mo de qualquer capital produtivo significa colaborar menos com a reduo global da fome e dos preos dos alimentos", diz Mendes.
Entre os argumentos considerados pela AGU em seu parecer, esto o prprio cenrio internacional de desequilbrio entre oferta e demanda por alimentos, com a consequente alta das commodities agrcolas. Seria necessrio, portanto, limitar a compra de terras por investidores de fora do pas para garantir o abastecimento interno e a soberania nacional.
Mas as ferramentas legais para impedir a especulao em terras improdutivas e a exportao de alimentos, no caso de desabastecimento interno, j existem, alega o estudo. A desapropriao de propriedades que no geram renda e a proibio ou sobretaxa s exportaes j so prerrogativas da Unio.
Fonte:
Brasil Econmico. Por Luiz Silveira. 18 de abril de 2011.
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