Recuperação da BR-163 no Pará e construção da ferrovia Norte-Sul abrem caminho para escoar a produção do Centro-Oeste.
Dois projetos que começam a se concretizar darão a uma boa parte da produção agropecuária brasileira um caminho mais curto para chegar no seu destino.
"A recuperação da BR-163 até Santarém e a construção da Ferrovia Norte-Sul são os projetos logísticos de curto prazo com impacto para o agronegócio", diz a coordenadora do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Priscilla Nunes.
A produção dos estados de Maranhão, Piauí, Tocantis, Bahia, Mato Grosso e Goiás ganharão acesso a portos mais próximos das lavouras e dos compradores internacionais. Em tese, as novas rotas também reduzirão a saturação de portos como Santos (SP) e Paranaguá (PR).
"A solução para os portos do Sul e Sudeste está nos portos do Norte e Nordeste", diz o diretor de grãos e processamento de soja da Cargill, Paulo Sousa.
O ganho logístico de se escoar a produção agrícola por meio da BR-163 e da Norte-Sul, no entanto, ameaça ficar só na teoria. Os portos nos quais elas desembocam, Santarém (PA) e Itaqui (MA), não têm capacidade para movimentar os volumes de grãos que já disponíveis.
"Itaqui é um gargalo para a Norte-Sul, e não terá condições de nos atender quando a ferrovia chegar ao Centro-Oeste", diz Mauro Ramos, superintendente da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, responsável pelas obras.
A Valec garante que em cinco anos poderá escoar 50% dos grãos do país, o que equivale a cerca de 25 milhões de toneladas. Mas, no porto do Itaqui, a capacidade atual é de 2,8 milhões de toneladas por ano. De acordo com Ramos, hoje os custos para o produtor de soja do Mato Grosso levar o produto aos portos do Sul e Sudeste chega a US$67 a tonelada. Em Itaqui, seria de US$30.
Uma parte do problema está mais perto de ser resolvida. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) aprovou, na semana passada, a licitação para a concessão do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), em Itaqui. O projeto prevê quatro armazéns, concedidos a grupos diferentes, somando 500 mil toneladas de capacidade.
Na primeira fase, que deve entrar em operação em 2013, a capacidade de embarque será de 5 milhões de toneladas. "A licitação deve ser aberta em junho e as obras devem começar em setembro", afirma o diretor da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), Daniel Vinent.
Até 2024, a capacidade do Tegram será de 10 milhões de toneladas, um investimento de R$339 milhões pago pela iniciativa privada.
Além do Tegram, a mineradora Vale investirá R$135 milhões em seu terminal de grãos da Ponta da Madeira, na área de Itaqui. Esse terminal da Vale é o único pelo qual o porto exporta grãos hoje, na casa de 2 milhões de toneladas por ano. Com isso, a capacidade passará para 4,3 milhões por ano.
No caso da BR-163, que levará a safra do norte do Mato Grosso até Santarém (PA), a iniciativa privada se prepara para responder com estrutura portuária à recuperação da estrada. "Creio que a rodovia estará toda trafegável no segundo semestre de 2012", diz Sousa, da Cargill.
A empresa é a única a ter um terminal de grãos no porto de Santarém, com capacidade para um milhão de toneladas por ano.
"Podemos saltar para três milhões de toneladas quando conseguirmos o licenciamento ambiental", diz Sousa. Outras empresas, como Amaggi e Bunge, também têm soluções logísticas em vista para operar quando a BR-163 estiver recuperada.
Fonte: Brasil Econômico. Por Priscila Machado e Luiz Silveira. 2 de maio de 2011.