A deficiência operacional dos portos brasileiros poderá comprometer nos próximos anos a economia de muitos municípios que se desenvolveram com o crescimento do agronegócio. O alerta é do presidente da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura e vice-presidente diretor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Ramos Torres de Melo Filho. Ele participou nesta quarta-feira (4/5) de audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) do Senado Federal. No encontro, ele explicou que importantes regiões do país têm aumentado sua produção nas últimas décadas, mas seus produtores rurais têm perdido rentabilidade com as longas distâncias para exportar a safra. No Brasil, enquanto o agronegócio tem uma participação de 76% no superávit de balança comercial, o custo para levar a produção da fazenda até os portos é, em média, até quatro vezes mais caro que nos Estados Unidos e na Argentina.
Um dos exemplos citados por Torres de Melo foi o município de Sorriso (MT). A área plantada de grãos nesta região aumentou 321,4% de 1991 a 2009. Neste mesmo período, a produção expandiu 647,7% e o Valor Bruto da Produção (VBP) passou de R$2,7 milhões para R$1,067 bilhão em 18 anos. Contudo, o êxito do município não beneficiou o produtor da forma esperada, pois a carência logística comprometeu parte da rentabilidade do produtor com dois agravantes. Um é a falta de investimentos em logística, dificultando o escoamento da produção até os portos da região conhecida como Arco Norte, que abrange as regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte. O outro é a deficiência operacional de portos como os de Itaqui (MA), Santarém (PA), Belém (PA), Porto Velho (RO) e Itacoatiara (AM).
Com estes dois gargalos, o vice-presidente da CNA explicou a alternativa encontrada pelos produtores de Sorriso (MT), e de outros municípios do Centro-Oeste é transportar a produção até os portos do Sul e do Sudeste, que hoje enfrentam sobrecarga de produtos para embarque ao exterior. O resultado são as longas filas de caminhões que esperam vários dias para descarregar a produção que será exportada.
“A melhor maneira de desafogar os portos do Sul e do Sudeste é aumentar a capacidade operacional nos portos do Norte e do Nordeste”, afirmou. Ele acrescentou que esta seria uma alternativa para reduzir as distâncias para levar a produção até os terminais produção e barateando o custo do frete. “Não adianta você ter uma BR-163 (Cuiabá-Santarém) se o porto de Santarém está com a capacidade no limite e em Belém a capacidade é zero”, ressaltou.
Ainda na avaliação do vice-presidente da CNA, a ampliação dos portos será fundamental para acompanhar a expansão da produção e atender á demanda mundial de alimentos, o que não ocorreu com a expansão agropecuária na década de 70, que se tornou possível graças ao surgimento da Empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária (Embrapa). Com disponibilidade de terra para plantio de grãos e pecuária sem precisar abrir novas áreas, o País pode corresponder a esta alternativa, se flexibilizar as normas portuárias para atrair mais investimentos privados. “O governo precisa assumir essa responsabilidade. Se a falta de aeroportos pode prejudicar o Brasil já na Copa do Mundo, os portos podem ferir a economia do País”, concluiu Torres de Melo.
Fonte: Canal do Produtor. 5 de maio de 2011.