Segundo associação do setor, indústria considera difícil aceitar proposta do governo de financiar a formação de estoques durante a safra da fruta.
RIBEIRÃO PRETO - A indústria brasileira de suco de laranja recebeu com cautela e considera difícil aceitar a proposta do governo de financiar a formação de estoques do produto durante a safra da fruta. A proposta, ainda incipiente, foi feita na quarta-feira, 11, pelo ministro da Agricultura, Wagner Rossi, aos representantes da indústria. "É difícil aceitar e as indústrias estão reticentes em relação a esse tipo de interferência", disse nesta quinta-feira Christian Lohbauer, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).
Pela proposta, o governo criaria uma linha crédito para que a indústria retivesse parte do suco processado na recém iniciada safra de laranja. Como o Brasil é maior produtor mundial da bebida, a ação, além de repor os baixos estoques da indústria, poderia elevar o preço internacional do suco e, consequentemente, da fruta paga ao produtor. "Foi uma demanda levada ao ministro pelos produtores, mas a indústria não quer uma relação tão profunda, uma amarração com o governo", afirmou o executivo.
A indústria de suco teme, por exemplo, ações do governo de intervenção no setor como ocorreu recentemente com a crise do etanol, cujos estoques reguladores são financiados eventualmente por linhas públicas de crédito. Na avaliação da CitrusBR, o fato de o governo subsidiar essas linhas, com juro abaixo do mercado, daria poder para intervenções na oferta do suco. "Quem iria controlar esses estoques privados, um técnico do ministério?", indagou Lohbauer.
Ainda segundo o presidente da CitrusBR, a indústria também teme a avaliação desse tipo de apoio por parte de órgãos reguladores da concorrência e do comércio internacional, como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Pelo domínio do suco brasileiro no mercado mundial, com 80% do comércio internacional e pela concentração da produção em apenas quatro empresas, o setor é envolvido em investigações do Cade em contenciosos da OMC. Polêmicas à parte, a indústria deve ter uma posição ainda na próxima semana sobre a proposta do governo.
Fonte: Agência Estado. Por Gustavo Porto. 12 de maio de 2011.