O momento complicado enfrentado pelos produtores brasileiros de carne suína e o embargo russo a 85 frigoríficos dos Estados de Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná serão discutidos nesta quarta-feira, 29/6, em audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados. O encontro, que será realizado a partir das 10h, foi proposto pelos deputados Bohn Gass (PT-RS) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
Segundo nota no site da Câmara, os parlamentares querem saber o motivo do embargo da Rússia à importação de carne e o que o governo brasileiro está fazendo para ajudar os suinocultores prejudicados pela medida. "Nós temos que reconhecer que é um direito de quem compra continuar comprando ou parar de comprar. Na medida em que ele não tem atendido o seu interesse, ele para de comprar. Mas o que o governo brasileiro vai fazer para atender os produtores? O que o governo brasileiro vai fazer para minimizar os prejuízos? Porque a perda de receita para o Brasil será de R$120 milhões a R$130 milhões por mês", disse Lorenzoni, no comunicado.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, que estará presente à audiência, reafirmou confiar em uma solução rápida para levantar o embargo. Segundo ele, a resposta do governo brasileiro às autoridades daquele país sobre questões sanitárias brasileiras foi entregue na terça-feira da semana passada (21/6). "É preciso agora dar um tempo para eles lerem. Continuo otimista, acho que se resolve logo", disse o executivo à Agência Estado.
A Abipecs anunciou ter desistido do pleito para que a Rússia mude o sistema de cotas de importação do produto para tentar "minimizar" as discórdias entre o Brasil e o mercado, o principal comprador do suíno nacional. Atualmente, a Rússia tem uma cota total de importação de carne suína de 470 mil de toneladas, sendo 60% destinada aos Estados Unidos e União Europeia. A cota "outros", na qual o Brasil está inserido, é de 170 mil toneladas e engloba autorização de importação de vários países, o que limita as vendas do Brasil na categoria intra-cota, que tem vantagens como tarifas mais baixas. Apesar disso, o Brasil também exporta produto fora da cota.
Sobre a notícia veiculada na imprensa de que a Ucrânia também teria suspendido a compra do produto brasileiro, Camargo Neto informou que a informação não procede. "Não existe embargo algum. Dois estabelecimentos foram suspensos temporariamente, em medida que entendo ser de rotina. E essa iniciativa não altera o fluxo da exportação Brasil-Ucrânia", explicou o presidente da Abipecs, sem citar quais foram as empresas atingidas pela suspensão temporária. De janeiro a maio, a Ucrânia foi o quarto maior mercado da carne suína brasileira com representatividade de 6,86% em volume e 7,53% em receita, com embarques de 14,695 mil toneladas e US$43,925 milhões em receita.
Camargo Neto ainda ressaltou que os efeitos do embargo russo ainda são mínimos, devido à antecipação de embarques que ocorreu na primeira quinzena do mês passado, já que a suspensão teve início em 15 de junho. "Existe uma retração na demanda de carne suína, em particular em industrializados. No total das exportações até maio, o volume foi 3% menor do que o de mesmo período de 2010. A oferta no mercado interno aumentou cerca de 4% no mesmo período. No ano passado, isso também ocorreu, porém a demanda interna absorveu. O que não está ocorrendo agora", disse.
Para ele, desajustes entre oferta e demanda ocorrem periodicamente. Entretanto, neste ano esse movimento aconteceu em um momento no qual houve a explosão de preços do milho, principal insumo utilizado na ração dos animais. "Dessa forma, a pressão do custo de produção está muito mais forte do que no ano passado e o suinocultor está tendo prejuízos", completou Camargo Neto.
Segundo o deputado Bohn Gass (PT-RS), em nota, mais de 730 mil pessoas dependem diretamente da suinocultura no País, sendo que essa atividade é responsável pela renda de mais de 2,7 milhões de pessoas. Por conta das dificuldades recentes, muitos deles já estão desistindo da atividade.
Foram ainda convidados para a reunião da Comissão na Câmara, a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu; o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Francisco Jardim; o assessor especial de Assuntos Federativos e Parlamentares do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Sérgio França Danese; e presidentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Associação dos Criadores e Suinocultores do Rio Grande do Sul (ACSURS), Associação Catarinense de Suínos (ACCS), União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
Fonte: Agência Estado. Por Suzana Inhesta. 27 de junho de 2011.