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Scot Consultoria

Um brasileiro na FAO


Quarta-feira, 29 de junho de 2011 - 09h07

A diplomacia brasileira conseguiu sua primeira grande vitria poltica em oito anos e meio, com a eleio de Jos Graziano da Silva, criador do Programa Fome Zero, para a direo-geral da Organizao das Naes Unidas (ONU) para a Agricultura e a Alimentao (FAO). Foi uma vitria apertada - 92 votos contra 88 conferidos ao diplomata espanhol Miguel ngel Moratinos - conseguida graas mobilizao de pases em desenvolvimento. O combate fome prioridade oficial de vrias entidades multilaterais, como o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetrio Internacional (FMI), empenhados em socorrer as populaes mais afetadas. O Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias do mundo, incluiu o problema dos preos e da segurana alimentar em sua agenda. Os preos dos alimentos subiram muito e tornaram-se especialmente instveis a partir de 2006, afetando severamente as populaes de pases pobres e dependentes da importao de comida. As cotaes atingiram o pico em 2007 e 2008. Caram nos dois anos seguintes - continuando acima dos nveis anteriores grande alta - e voltaram a subir no comeo de 2011. O nmero estimado de famintos passou de 820 milhes em 2007 para mais de 1 bilho em 2009 e recuou depois para cerca de 900 milhes, segundo a FAO e outras entidades multilaterais. O cenrio poder piorar. At 2019, segundo projees recentes, os preos da maior parte dos alimentos devero permanecer em nveis superiores aos da dcada anterior crise de 2007-2008. Graziano ter de enfrentar questes polticas e econmicas muito mais complexas que as da pobreza brasileira. Sua experincia recente como representante da FAO para a Amrica Latina e o Caribe pode ter sido uma boa preparao para o novo posto. Isso se ver adiante. Ao assumir o cargo, nesta segunda-feira, seu primeiro pronunciamento foi marcado por alguns velhos tiques. Ele gastou flego, por exemplo, criticando o controle do mercado de sementes por algumas multinacionais. O assunto pode render uma boa discusso, mas irrelevante para a anlise da situao das centenas de milhes de famintos. Com ou sem esse "monoplio", o acesso comida seria difcil para as populaes mais pobres do mundo, porque as causas de sua misria so de outra natureza, como a instabilidade poltica, as ditaduras sanguinrias - algumas muito bem tratadas pelo grande cabo eleitoral de Graziano, o ex-presidente Luiz Incio Lula da Silva - e a baixa produtividade na maior parte da frica e nas reas mais pobres da sia e, em muito menor proporo, das Amricas. A mesma insistncia em meia dzia de temas impediu Graziano e outros petistas de perceber, durante anos, as transformaes da agricultura brasileira. Num documento de 2001, ele mencionou a seguinte "constatao", como se fosse uma novidade: "O problema da fome, hoje, no de falta de produo de alimentos, mas da falta de renda para adquiri-los". Isso poderia ser novidade para ele e para alguns companheiros, mas no para quem havia acompanhado a modernizao da agropecuria brasileira. O prprio presidente Lula, ao assumir o governo, ainda falava em exportar s os "excedentes", como se houvesse escassez de alimentos. Em pouco tempo ele abandonou essa tolice. Os programas de transferncia de renda e a elevao do salrio real melhoraram a situao dos mais pobres, embora tenham sido insuficientes para capacit-los a viver por seus meios. O combate fome nas reas mais pobres do mundo ser uma tarefa muito mais complicada, porque falta - e provavelmente ainda faltar por longo tempo - o respaldo de agriculturas nacionais produtivas e institucionalmente protegidas. De toda forma, o governo brasileiro tem uma vitria para comemorar. A diplomacia petista foi derrotada nas eleies para a direo-geral da Organizao Mundial do Comrcio, para a presidncia do Banco Interamericano do Desenvolvimento e para a Secretaria-Geral da Unesco, a Organizao das Naes Unidas para a Educao e a Cultura, alm de ter sido incapaz de mobilizar apoio latino-americano para sua pretenso de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurana da ONU. Pode ser sinal de uma nova fase. Fonte: O Estado de So Paulo. Pela Redao. 287 de junho de 2011.
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