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Scot Consultoria

Frigoríficos querem mudar imagem da carne brasileira


Sexta-feira, 22 de julho de 2011 - 09h56

A cadeia da carne está lançando um programa de contra-ataque ao que chamam de criação de uma "imagem negativa da pecuária", motivada por desmatamentos, queimadas e trabalho escravo em fazendas nos rincões de fronteira agrícola do país. A ideia da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) é apresentar bons exemplos da atividade e contestar o que considerarem informações equivocadas divulgadas por grupos como o Peta, que milita pelos direitos dos animais. Chamado de "Pecuária do Brasil", o programa será um complemento do Brazilian Beef, usado na promoção da carne brasileira no exterior. Fernando Sampaio, diretor executivo e coordenador de Sustentabilidade da Abiec, está à frente do projeto. Leia, abaixo, entrevista que concedeu à Folha. Imagem da carne A Abiec sempre promoveu exportação, e o mercado interno ficou esquecido. O consumo de carne vem crescendo, mas quando se vincula poluição e desmatamento à pecuária, cria-se uma imagem negativa da atividade, que de certa forma está sendo usado contra nós. Vamos criar uma força-tarefa para desmentir isso. Temos que combater essa imagem negativa que estão passando. Desmatamento O desmatamento não é culpa da pecuária. É muito mais do Estado, falta um processo de regularização de terras. Há terras indígenas sendo demarcadas em cima de gente que já estava lá, mas sem título legalizado. São problemas básicos que devem ser resolvidos para que você tenha um controle melhor, e isso não pode ser atribuído à pecuária. Contra-ataque Temos informação para contra-atacar. Quando o Peta fala que um bife consome não sei quantos mil litros de água, temos informação para dizer que isso não é verdade. A nossa estratégia é informar. Se sair alguma notícia que a gente sabe que é errada, a gente vai responder. Programa Pecuária do Brasil Vamos complementar o Brazilian Beef com o Pecuária do Brasil. A primeira preocupação da campanha é desfazer mitos como o de que a carne faz mal, que contribui para o aquecimento global ou que que gasta quase 15 mil litros por animal. Brazilian Beef Sempre usamos o Brazilian Beef para vender a carne brasileira como a de um boi a pasto, natural, gostosa, e barata. Mas hoje os preços de boi no mundo inteiro estão se harmonizando. Então precisamos vender o conceito da carne brasileira. E para isso temos que contar a história da pecuária brasileira e desvincular essa imagem negativa que estão contando por aí. Histórias positivas Vamos gerar histórias positivas, casos de sucesso da pecuária. Vamos mostrar que a pecuária está gerando emprego e desenvolvimento, que não é aquela imagem do boi no mato queimado. Aquilo lá não pode se tornar a verdade para a atividade. A gente quer contar a história de todo o resto. Tem famílias que estão na pecuária há cem anos, tem propriedades aplicando tecnologia, melhorando a produtividade, investindo em genética, pecuarista que faz escolinha para crianças. O que a gente quer é que essa imagem do boi no mato queimado não se torne a história única imagem da pecuária nacional. Bem-estar animal Nenhum pecuarista tem interesse em fazer um animal sofrer. Boi que passa fome não dá dinheiro. Para a gente isso é óbvio, mas para o público em geral, não. Nosso interesse é fazer com que o bicho tenha a melhor vida possível no pasto e um abate humanitário, porque isso afeta a qualidade da carne. São coisas que a gente conhece, e que a gente quer fazer o público conhecer também. Rastreabilidade A gente tem controle sobre isso gado em áreas ilegais. O frigorífico não compra de quem está na lista suja do Ibama, do Ministério do Trabalho ou do Ministério Público. Os maiores frigoríficos têm monitoramento georreferenciado de seus fornecedores na região amazônica. Se o fornecedor está em conflito com terra indígena ou unidade de conservação, ele é excluído do fornecimento. O ilegal está excluído das vias normais de comercialização. O problema é que a gente sabe que ele continua vendendo para alguém. Abate clandestino O ilegal vai abater em um matadouro de fundo de quintal e vender em um mercadinho da região. Essa carne está indo para algum lugar, mas a indústria não tem como combater esse sujeito ou esse comércio paralelo de carne. Isso é uma questão de saúde pública. Produção No Brasil, podemos facilmente dobrar a produção diminuindo a área de pastos usando tecnologia simples que temos hoje, como manejo rotacionado, adubação de pastagem, inseminação artificial, genética, suplementação alimentar. São técnicas que, se fossem aplicadas em larga escala, podiam incrementar em muito a produtividade brasileira. Agora, para isso acontecer, é preciso ter duas coisas: acesso a crédito e educação. Informação, conscientização e gestão econômica da propriedade. A pecuária antigamente era vista mais ou menos como uma poupança. O cara tinha boi no campo, e quando precisava de dinheiro, vendia. Hoje não, tem que gerar renda, ele participa de uma cadeia econômica importante. Só que muitos produtores pequenos ainda não enxergam a atividade desse ponto de vista empresarial. Eles têm que aprender a gerir a propriedade como uma atividade empresarial. Agricultura A pecuária tem cedido terras para a agricultura. A área de pastagem diminuiu, mas a produção de carne continua aumentando. Vemos isso em São Paulo e, principalmente, no Mato Grosso do Sul. Há muita área de pasto virando eucalipto, cana de açúcar e soja. Se não fosse a evolução da pecuária, a agricultura não tinha para onde expandir, a não ser em cima de floresta ou de cerrado. Fonte: Folha Online. Por Paulo Muzzolon. 22 de julho de 2011.
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