O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim, defendeu nesta quinta-feira (4/8) acordo com o Uruguai para estabelecer cotas mensais de importação de leite em pó do país vizinho. O objetivo é evitar um grande impulso à importação do produto uruguaio, o que prejudicaria os produtores brasileiros.
O tema foi abordado em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado, realizada para discutir o impacto de acordos internacionais sobre as cadeias produtivas de leite, carne, trigo e vinho. Em sua exposição, Alvim mostrou preocupação com o aumento da entrada do leite em pó uruguaio no Brasil, que no primeiro semestre totalizou 16.325 toneladas, superando o volume que ingressou no país em todo o ano de 2010.
O representante da CNA lembrou que já há um acordo nestes moldes com a Argentina, fechado em 2009, no qual foram definidas cotas de importação do leite em pó, que hoje é de 3,3 mil toneladas por mês. O Brasil vai negociar a prorrogação desse acordo na próxima terça-feira (9/8), em Porto Alegre (RS), quando tentará também incluir cotas mensais para queijo e soro, cujas importações da Argentina também aumentaram neste ano.
“O ritmo de importações nos preocupa porque podemos ter novamente um surto. Não podemos negligenciar isso porque estaríamos garantindo renda e emprego aos produtores argentinos e uruguaios, em detrimento dos produtores brasileiros”, afirmou Alvim. Brasil e Argentina fecharam o acordo diante do aumento exacerbado da entrada do produto argentino em janeiro de 2009. Na época, a CNA pediu o apoio do governo federal e uma das medidas tomadas foi a suspensão das licenças automáticas de importação. Para Alvim, o apoio dos Ministérios do Desenvolvimento, Indústrias e Comércio Exterior (MDIC), Desenvolvimento Agrário (MDA) e Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) até agora tem sido essencial para evitar novos surtos de importação.
No caso do Uruguai, foram constatados alguns picos de importação de leite em pó no primeiro semestre de 2009, o que fez o governo brasileiro estabelecer uma cota de 10 mil toneladas para todo o segundo semestre daquele ano. Em 2010, as importações caíram em relação ao ano anterior, mas nos primeiros seis meses deste ano a entrada de leite em pó uruguaio no Brasil aconteceu a um ritmo preocupante, o que reforçaria a necessidade de providências para impedir um suposto descontrole.
O presidente da comissão da CNA alertou que poderá haver forte redução dos preços pagos ao produtor pelo litro do leite “in natura” no Brasil, que, associada à alta dos custos de produção, pode causar desestímulo à atividade leiteira nacional. “É um problema para um setor que emprega quatro milhões de pessoas”, disse.
A questão cambial foi outra dificuldade apontado por Rodrigo Alvim. Em sua avaliação, o Brasil perde competitividade para exportar diante do real valorizado em relação aos outros países do Mercosul. O montante de subsídios dados pela União Europeia a seus produtores de leite também é outro fator que reduz as condições do Brasil de ter maior participação no comércio mundial. Em 2008, o país chegou a ser o quinto maior exportador do mundo, com um superávit de US$328,4 milhões. No entanto, a redução da demanda dos principais importadores por causa da crise financeira mundial fez o Brasil voltar a ter saldos negativos na balança a partir de 2009. No primeiro semestre, o déficit brasileiro na balança comercial de lácteos foi de US$216,7 milhões.
Fonte: Globo Rural. Pela Redação. 4 de agosto de 2011.