O maior rebanho bovino do Brasil não oferta animais suficientes para atender 100% da capacidade instalada de abate nas indústrias frigoríficas. Enquanto Mato Grosso, com 28,76 milhões de cabeças, abateu no ano passado 4,33 milhões de cabeças, a capacidade plena das plantas estava preparada para recepcionar 11 milhões. Entre o pasto e a indústria há um déficit de 60% para ser preenchido na linha de produção.
Nos últimos seis anos, por exemplo, o Estado abateu em média, 4,64 milhões de animais. O melhor momento foi registrado em 2007 quando se contabilizou 5,3 milhões de cabeças. Para reduzir essa distância, nos próximos dez anos, há expectativa de que o rebanho bovino de Mato Grosso cresça 22%, média de 2% ao ano, atingindo então um plantel de 33,9 milhões de cabeças. Neste cenário, o abate avançaria para 8 milhões de cabeças, ficando mais próximo da capacidade das plantas.
O diagnóstico é apenas uma das informações que podem ser extraídas do primeiro anuário do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) denominado “Caracterização da Bovinocultura de Corte de Mato Grosso”, lançado ontem, na Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato). O anuário é uma ferramenta que permite direcionar ações e investimentos dentro do Estado.
Entre os motivos desta diferença, conforme explica o superintendente do Imea, Otávio Celidônio, está o mau direcionamento dos investimentos frigoríficos em Mato Grosso. “Existem regiões sem qualquer unidade de abate, mesmo em cidades mais próximas. Em outras, há mais que o suficiente”. Além disso, o diagnóstico mostra que mesmo com o maior rebanho bovino do Brasil e com a liderança nacional de abates mantida ao longo dos últimos seis anos – como referendou o IBGE ontem, o estado detém 14,8% dos abates – a taxa de desfrute estadual, em torno de 17% é considerada muito baixa, mesmo superando o último registro que há ao Brasil, 14% em 2009, segundo o IBGE. “Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa é de 36%”.
Para suprir a indústria, Celidônio acredita que a taxa de desfrute deveria evoluir para 25% em um rebanho total de 46 milhões cabeças. “Com estes números atingiríamos um abate anual de 11 milhões de animais”.
Mas, para ampliar o plantel, seja ele em que percentual for, são necessários investimentos dos produtores e dos governos. “Se há uma concentração de frigoríficos em uma determinada região, isso é um indicador que além de bois, há logística”, aponta Celidônio.
Fora isso, ampliar o desfrute requer investimentos em genética, confinamento, integração lavoura-pecuária, adubação de pastagens e principalmente, atender ao mercado. “Para isso tudo, o pecuarista precisa obter renda na atividade e no caso da recuperação de pastagens, financiamento público”.
Para o presidente da Famato, Rui Ottoni Prado, um dos dados que mais chamam à atenção é o perfil da atividade. Atualmente, segundo a pesquisa, o número de propriedades no Estado cujo foco é a bovinocultura soma 109,50 mil imóveis. Destes, 84% possuem até 300 cabeças – ou seja, são propriedades de pequeno porte. No entanto, apenas 24% do rebanho estão nessas pequenas propriedades. O restante está em fazendas com volumes de animais que variam de 301 a 1 mil (24%), de 1.001 a 3 mil (25%) e acima de 3.001 animais (27%). “Esse dado derruba o mito que de que todo pecuarista é grande. Um criador de até 300 cabeças, como mostra o anuário, vai ter uma renda bruta anual de R$ 40 mil. Os grandes são exceção. O pecuarista mato-grossense é a cara do Brasil, é lutador, guerreiro, contorna as adversidades o tempo todo”.
Para o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) – entidade 100% voltada à bovinocultura – Luciano Vacari, a iniciativa de compilar os dados é muito importante para o setor, “pois quanto mais informações o produtor tiver disponível, mais segura será a sua tomada de decisão, de gerenciamento, e planejamento de seu negócio”. Ele ressalta que o retorno da atividade da pecuária requer uma gestão cada dia mais profissional, “tanto da porteira para dentro como da porteira para fora”.
Das 21 microrregiões trabalhadas pelo anuário, a de Alta Floresta, formada pelos municípios de Carlinda, Colíder, Nova Canaã do Norte, Nova Guarita, Novo Mundo e Alta Floresta, é a que concentra o maior rebanho do estado: 2,46 milhões de cabeças. Mas, em relação ao tamanho da área de pastagem, esta região ocupa a 9ª posição no ranking. Em último lugar no ranking está a microrregião de Sinop, formada pelos municípios de Cláudia, Feliz Natal, Santa Carmem, Sinop e União do Sul, cujo volume de animais soma apenas 245,19 mil cabeças.
Fonte: Diário de Cuiabá. Pela Redação. 29 de setembro de 2011.