Celso Mello, da Nutron, e Vilson Simon, da MSD Saúde Animal, abriram a programação do Workshop NFT, evento realizado durante a Feileite 2011 – 5ª Feira Internacional da Cadeia Produtiva do Leite, com a participação de especialistas, lideranças e produtores. Em pauta, uma ampla discussão sobre o setor.
Rafael Ribeiro, zootecnista e consultor da Scot Consultoria, iniciou o ciclo de palestras do workshop com o tema “Mercado de leite: situação atual e perspectivas para 2011.” Segundo o palestrante, o preço do leite está em um bom patamar para o produtor. “A remuneração é boa, mas o custo subiu mais que a valorização do produto, o que mostra a necessidade de compensar com ganhos em produção e maior produtividade por área”, disse o consultor que citou a alimentação como um dos itens de maior peso no custo da atividade, em especial na entressafra, pressionado especialmente pelo preço do milho.
No entanto, ele lembrou que em função da recuperação das pastagens e do aumento da oferta o preço do leite já começou a cair e “O produtor deve aproveitar esse momento para reduzir os custos em função da menor necessidade de suplementação”, sugeriu.
Ribeiro também previu a expansão da demanda brasileira, em função da melhoria da renda da população, o que deve refletir no crescimento do consumo, em especial de produtos com maior valor agregado: queijos, iogurte, manteiga.
Destacou, ainda, a limitação da capacidade de produção dos principais exportadores – União Europeia, Oceania – e dos Estados Unidos, neste caso, em função dos altos custos com a atividade. Diante desse quadro e da expansão mundial do consumo, “com aumentos da produção e produtividade o Brasil tem condições de atender o aumento da demanda dos países asiáticos e do Oriente Médio”.
Atualmente, 99% da produção brasileira de leite são absorvidos pelo mercado interno e apenas 1% destina-se à exportação, de acordo com o consultor, que sugeriu a necessidade de estabelecer acordos de limitação de volume para a importação de leite que chega mais barato no País e tira a competitividade do produtor brasileiro.
O marketing do leite da Santa Luzia
Segundo Mauricio Silveira Coelho, que abordou o Marketing do leite do Grupo Cabo Verde no Workshop NFT, a busca por produzir animais de alta qualidade, apoiada em modernas técnicas de biotecnologia, o bom relacionamento com parceiros e clientes, a participação em atividades do setor e trabalho e muito trabalho são os principais fatores de sucesso do grupo, localizado em Passos, MG.
Desde 1943, três gerações passaram pela administração da Santa Luzia que é, hoje, uma das maiores produtoras de leite a pasto do Brasil, com um rebanho da raça Girolando, base Gir Leiteiro de alta qualidade, o que vem permitindo a cada dia evoluir mais na qualidade. “Costumo dizer que o Girolando é o que é por causa do Gir Leiteiro de qualidade”, ressaltou.
O trabalho da fazenda, de acordo com Coelho, é norteado por metas de médio e longo prazo e em protocolos de criação. Conforme explica, o marketing do negócio consiste em mostrar ao mercado o que a empresa faz internamente. Procura, também, alternativas para melhorar o resultado e a visibilidade da fazenda, além de aprimorar a qualidade dos animais ofertados, utilizar biotecnologia de ponta em larga escala e buscar o mercado internacional. Parte da produção de embriões, por exemplo, foi vendida para o exterior. A fazenda também comercializou de animais vivos para o Equador.
Maurício Coelho considera como ponto alto da visibilidade do Grupo os leilões da Fazenda Santa Luzia, que este ano chegou à sua 10ª edição. O evento reúne, anualmente, mais de 1.000 pessoas e vem registrando recordes sucessivos de preço.
Gestão da Castrolanda
Henrique C. Junqueira, da Castrolanda, apresentou no workshop o Case de Gestão – Modelo Cooperativa. Em 2011, a empresa, localizada em Castro, PR, completou 60 anos e além do Paraná, também atua no sudoeste de São Paulo. A produção de leite, principal negócio da Castrolanda, começou com os imigrantes holandeses que trouxeram os primeiros animais quando desembarcaram no País. A empresa hoje atua nos segmentos agrícola, lácteos (indústria), carnes (suínos), batata, fábrica de rações, sementes, defensivos, serviços, entre outros.
Junqueira destacou como ponto forte da empresa a governança, com foco na definição de metas, decisões estratégicas e na sustentabilidade (ambiental, social e econômica). “O principal é gerar riqueza”, disse. Com esse propósito, a Castrolanda saiu de um faturamento de R$228.731, em 2001, para R$1 bilhão, em 2010.
“Nossa meta é fechar 2011 com R$1,2 bilhão.” Para isso, aposta na agregação de valor. “Suprir o mercado com produtos e serviços de qualidade, agregando valores aos nossos cooperados e clientes proporcionando sustentabilidade para a área de negócios, esses são os nossos objetivos.”
Produtor Independente
O pecuarista Reinaldo Figueiredo, da Fazenda Figueiredo, localizada em Cristalina, sudoeste de Goiás, apresentou, durante o Workshop NFT Feileite, o caminho trilhado por sua família para construir a história da propriedade, que iniciou suas atividades em 1987, com gado mestiço.
Natural do Paraná, Reinaldo assumiu a empresa familiar m 1997, quando a fazenda produzia de 18 litros/ha/dia. Já em 2006, acreditando na produção leiteira, ele focou seus trabalhos em Goiás e encerrou as atividades em Mandaguari, no Paraná.“ Nada acontece a menos que sonhemos antes.” Como este objetivo, Reinaldo conta hoje com cerca de 500 vacas em lactação, mas a meta é chegar a 2 mil animais.
Hoje a fazenda tem um plantel formado apenas por animais registrados, da raça Holandesa, conta com um dos maiores bancos de genética do País e, segundo Reinaldo, tem um sistema de trabalho considerado modelo de administração. “Entendemos que cada vaca é trabalhada individualmente o que possibilita que a produção leiteira seja mais eficaz”, observa.
Com uma produção de 68 mil litros por dia, a meta da fazenda é contribuir com a pecuária leiteira nacional. “Pista não é o nosso foco, o animal ganhando ou não, quando ele volta para a fazenda é recebido com um beijo”, brinca o criador.
Processo da rastreabilidade
Rastreabilidade na indústria láctea foi o tema da palestra do gerente de produto da Tetra Pak, Pedro Gonçalves, no Workshop NFT Feileite. Segundo o palestrante, que apresentou o Caso Aurora, pioneira no lançamento para o mercado consumidor do leite rastreado, o mais importante é melhorar a cadeia alimentar através de tecnologias que garantam a qualidade e, ao mesmo tempo, levem informações e conhecimento sobre produto aos clientes.
O Leite Aurora, da Cooperativa Central do Oeste Catarinense, de acordo com Pedro Gonçalves, foi apresentado ao público como uma marca preocupada em produzir um produto de qualidade e que, através da rastreabilidade, garante ao consumidor, todas as informações sobre origem, data, quando e como foi produzido. Isso alavancou a venda do produto, o que permitiu até ser oferecido a um preço maior que o leite produzido pela concorrência. “A Aurora passou para o consumidor o conceito de qualidade, segurança e transparência”, acrescentou.
“O programa de controle HACCP/APPCC Análise de Perigos e Pontos Críticos, utilizado pela Aurora, garante a segurança na industrialização dos alimentos, sendo considerado o mais eficiente na prevenção de riscos biológicos, físicos e químicos durante a produção dos alimentos, em nível mundial”, esclareceu Gonçalves.
Encerrando as apresentações, os principais problemas da cadeia produtiva do leite foram debatidos na mesa redonda, sob a mediação do jornalista Otávio Ceschi Júnior, do Canal Terraviva. Foram colocados em pauta temas como tributação, sistemas de produção, sabor, gestão, tecnologia, marketing, formação de mão de obra, entre outros.
Participaram da mesa redonda João Sampaio, presidente do Conselho Superior do Agronegócio – Cosag/Fiesp, Rodrigo Sant’Anna Alvim, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA – Confederação Nacional da Agricultura, Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil, e os palestrantes do evento.
Criação a pasto ou free-stall, qual o melhor sistema para o Brasil? Na opinião de Rodrigo Alvin, independente do sistema de produção, o que interessa é produzir bem e ter renda na atividade. Reinaldo Figueiredo concordou com Alvin e acrescentou que o importante é a capacidade do gestor do sistema adotado. Para Rafael Ribeiro, o que faz a diferença é a rentabilidade, independente do tamanho do produtor, se pequeno, médio ou grande.
Pedro Gonçalves lembrou que, no Brasil, a indústria promove muito mais o avanço tecnológico do que o Estado. Maurício Coelho acrescentou que a iniciativa privada também é a maior propulsora na formação da mão de obra. Segundo João Sampaio, “no Brasil existe um conceito interessante de que a iniciativa privada pode fazer tudo que é proibido. Já o governo, só pode fazer o que está escrito, isto é, existem leis. Isso, emperra e dificulta os projetos e, por isso, a participação da iniciativa privada como meio de pressão é importante para o desenvolvimento do setor”.
Fonte: Assessoria de Imprensa Grupo Publique. Pela Redação. 7 de novembro de 2011.