Mauricio Lopes, diretor da Embrapa: "O Brasil precisará responder à necessidade de produzir volumes crescentes de alimentos e matérias-primas".
A lista de prioridades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para os próximos anos inclui estudos sobre a agricultura de baixo carbono, o aumento da produção de bioenergia e cultivos de precisão. Quem afirma é Mauricio Antônio Lopes, diretor-executivo de pesquisa e desenvolvimento da companhia.
Valor: No ramo do agronegócio, como está o Brasil no ranking mundial de empresas inovadoras?
Mauricio Antônio Lopes: O salto da nossa produção agropecuária não teve paralelo em nenhuma região do mundo. No início dos anos 1960, a produtividade média era de 783 quilos por hectare. Em 2010, tinha saltado para 3,1 mil quilos por hectare, incremento de 774%. Além das políticas macroeconômicas, setoriais e da organização dos segmentos agroindustrial e agroalimentar, o avanço tecnológico foi um fator essencial para o sucesso. A Embrapa e as instituições parceiras, o braço tecnológico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), tiveram um papel decisivo nesse processo. A Embrapa tornou-se a principal instituição de ciência e tecnologia do mundo tropical, reconhecida no Brasil e no exterior.
Valor: Quais as áreas mais inovadoras do agronegócio no Brasil?
Lopes: Segmentos como o complexo soja, o sucroalcooleiro e de carnes foram capazes de incorporar inovações substanciais. As exportações do agronegócio em 2010 atingiram um recorde de US$76 bilhões, aumento de 18% em relação a 2009, e 3,8 vezes mais que as de 2000. Para chegar a isso, foram necessárias inovações na ciência do solo e da água, no melhoramento genético vegetal e animal, no controle biológico de pragas, sanidade animal, segurança biológica e mecanização de sistemas.
Valor: O que o agronegócio precisa, hoje, em termos de inovação?
Lopes: Os avanços alcançados, embora relevantes, dificilmente vão garantir a competitividade no futuro. Análises mostram que a nossa agricultura será desafiada por transformações substanciais nas próximas décadas. O Brasil precisará responder à necessidade de produzir volumes crescentes de alimentos e matérias-primas. O setor precisará de avanços em diversificação, agregação de valor, produtividade, segurança e qualidade, com velocidade e eficiência superiores às alcançadas no passado. E, para se garantir a sustentabilidade da agricultura frente às mudanças climáticas e à intensificação de estresses térmicos, hídricos e nutricionais, serão necessários avanços em conhecimento científico e tecnologias que racionalizem o uso dos recursos naturais.
Valor: Quais os principais projetos da Embrapa para 2012?
Lopes: Há prioridade para o desenvolvimento de tecnologias que contribuam para uma agricultura de baixo carbono. Estamos aprimorando modelos de predição de impactos das mudanças climáticas no setor. A agenda também prevê o uso da genômica para a seleção mais rápida em plantas e animais e o desenvolvimento de instrumentação que permita ampliar a precisão da agricultura. O aprimoramento dos sistemas de produção de culturas energéticas, e a busca de novas rotas tecnológicas baseadas em biomassa para a produção de bioenergia também são prioridades.
Fonte:
Valor Online. Por Jacilio Saraiva. 14 de novembro de 2011.
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