A expansão do segmento industrial, em Mato Grosso, no ano de 2009, foi determinante para a economia. Pela primeira vez em anos, a performance do Produto Interno Bruto (PIB) revelou o peso deste segmento que cresceu o suficiente para anular a queda da atividade agropecuária e ainda manter o Estado dentro da série histórica de expansão do PIB sempre acima da média nacional. A indústria funcionou como uma espécie de “carta na manga” do Estado contra a crise mundial de liquidez. Conforme dados do estudo Contas Regionais do Brasil, divulgado ontem pelo IBGE, o PIB mato-grossense cresceu 2,4% ante a retração de 0,3% do Brasil.
Com um PIB de R$57,294 bilhões, em 2009, Mato Grosso ficou na 14ª posição do ranking nacional ante R$54,693 bilhões contabilizados em 2008. A expansão anual de 2,4% coloca o Estado como o segundo maior em crescimento da região Centro-Oeste e o nono do País. Com a estimativa de valor, Mato Grosso participa com 1,8% do PIB nacional.
Outro ponto de destaque do estudo é a renda média do cidadão mato-grossense (a per capita que é a divisão do PIB pelo número de habitantes) que coloca o Estado, com R$19.087,30 por habitante/ano, na segunda posição do Centro-Oeste e na sétima do ranking nacional, cuja média foi de R$16.917,66, 12,82% abaixo do aferido no estado.
Em números relativos, os dados mostram uma interrupção no ritmo chinês de crescimento do PIB que vinha nos anos anteriores variando sobre percentuais positivos de 7% a 8%. Mas o ano em questão, 2009, foi marcado pelos reflexos da crise de liquidez norte-americana que eclodiu no segundo semestre de 2008 e seguiu se espalhando pelo mundo. O Brasil, assim como estados de economia consolidada como, por exemplo, São Paulo e Paraná, seguiram a tendência mundial e encerram o ano com decréscimos refletindo a crise. De acordo com o economista da PR Consultoria, Carlos Vitor Timo Ribeiro, o resultado positivo de Mato Grosso só pôde ser contabilizado graças ao segmento industrial que mostrou que a verticalização da economia mato-grossense é fato, graças à migração de indústrias, principalmente às voltadas à produção de ração e de abate de aves e suínos.
“Nossa economia é hoje verticalizada e isso quer dizer que estamos reduzindo a dependência direta do grão extraído do campo. Ao invés de vender a soja in natura, esse grão se transforma em ração, alimenta aves, suínos e bovinos. Antes exportávamos toneladas da oleaginosa, agora exportarmos carnes, agregando valor à produção estadual, já que um quilo de carne vale mais que um quilo de grão”.
De maneira segmentada, o estudo mostra que a atividade agropecuária retraiu 2,9%, sendo que somente a agricultura revelou queda de 4,7%, em função das perdas na produção de algodão e soja. Em contrapartida, a produção animal cresceu 4%, com destaque para a avicultura que cresceu 33% e a suinocultura que aumentou 12,7%. “Aqui está o elo da performance positiva. A maior parte das indústrias atraídas é de frigoríficos para abate de aves. São mais indústrias processando o produto mato-grossense e agregando valor ao que antes era grão”. Diante dessa reordenação surge a atividade industrial com expansão de 6,2% em relação a 2008 passando a contribuir com 16,9% da economia estadual em 2009. “Somente a indústria de transformação teve crescimento de 10,5%”.
O economista Vivaldo Lopes frisa que a atividade agropecuária segue sendo a maior componente de formação do PIB estadual, respondendo por 28,6%, “o segmento continua como a força da nossa economia, mas a migração de indústrias para o estado, assim como o crescimento do setor de serviços, especialmente em 2009, foram diferenciais ao conjunto de dados que levaram o estado a mais um desempenho positivo”.
Como observa, de fato a expansão do PIB em 2,4%, reduziu a média histórica de crescimento anual do Estado que era de cerca de 7,5%. “Mas, a série histórica estadual mostra-se sempre duas vezes acima do percentual nacional, mesmo crescendo menos, crescemos dentro da média, 2,4% ante, -0,03%”. Lopes informa ainda que o PIB de R$57,294 bilhões era um volume muito próximo do que havia sido planejado pelo governo de Mato Grosso. “A estimativa era de um crescimento real de 2,5%, o que praticamente se confirmou”.
Na série de sete anos, o estado acumula crescimento de 50,4%, o segundo maior do Brasil, atrás apenas de Tocantins com 52,6%. “O Brasil acumula alta de 27,5% e mais uma vez, Mato Grosso supera quase em duas vezes esse percentual”, completa Lopes.
Com mercado interno aquecido – beneficiando a atividade industrial – e com um ano agrícola de novos recorde de produção e boas cotações, ambos os economistas apostam em um PIB mais robusto para 2010, expansão que poderá trazer de volta o vigor chinês com taxas acima de 7%.
Fonte: Diário de Cuiabá. Por Marianna Peres. 24 de novembro de 2011.