A desaceleração da economia mundial vai derrubar os preços das commodities agrícolas em 2012, mas essa queda não será drástica no curto prazo, afirmou ontem o brasileiro José Graziano da Silva, dois dias depois de assumir o cargo de diretor-geral da FAO, o braço da ONU para agricultura e alimentação.
Para Graziano, os preços não aumentarão "no sentido que têm aumentado nos últimos dois anos, mas tampouco se espera uma redução como a de 2009". Ele também chamou a atenção para a persistente volatilidade nos mercados de commodities, e atribuiu o movimento a três razões principais:
Em primeiro lugar, disse, a situação econômica global causa mais instabilidade também no mercado de divisas, "e cada vez que o dólar americano se mexe, o preço das commodities também se move".
Segundo: os principais países produtores, especialmente de cereais, foram afetados por desastres naturais que tiveram impacto tanto nas safras que estavam sendo plantadas como nas futuras, de forma que o equilíbrio entre produção e consumo segue apertado.
E ele acredita, finalmente, que os baixos estoques seguirá a alimentar especulações. "Se não formos capazes de aumentar a produção, o estoque baixo vai continuar e a especulação pode tornar a situação pior".
Dados da FAO mostram que os preços globais dos alimentos tiveram um pico de alta em fevereiro de 2011, mas começaram a declinar desde junho no rastro de melhores colheitas de vários produtos. Os altos preços elevaram a inflação em vários países, e deram peso político a revoltas populares, inclusive no Oriente Médio.
Graziano assumiu o cargo na FAO na segunda-feira, no lugar do senegalês Jacques Diouf. E estima que a crise econômica global vai aumentar o número de famintos, mas não como em 2008, quando mais de 1 bilhão de pessoas enfrentaram essa condição.
De um lado, porque a crise é sobretudo em países desenvolvidos; de outro, porque mais nações em desenvolvimento adotaram planos de combate à fome. Na FAO, Graziano terá um orçamento regular de US$1 bilhão, a metade do que dispunha como ministro no Brasil para o Programa Fome Zero.
Fonte:
Valor Econômico. Por Assis Moreira. 4 de janeiro de 2012.
<< Notícia Anterior
Próxima Notícia >>