A estiagem provocada pelo fenômeno climático La Niña já provocou perdas agrícolas de cerca de R$500 milhões no Rio Grande do Sul e de R$400 milhões em Santa Catarina, conforme estimativas divulgadas ontem pelos governos estaduais. Nos dois Estados, as lavouras mais prejudicadas são milho e feijão. Ainda sem cálculos oficiais sobre perdas, o Paraná também vê as condições de suas plantações de grãos se deteriorarem com a falta de chuvas.
No Brasil, os problemas causados pelo La Niña estão concentrados no Sul e também pairam sobre os campos de soja. As previsões meteorológicas atuais indicam que as demais regiões do país não deverão ser afetadas de forma significativa. Na América do Sul, até agora a Argentina é o país mais prejudicado, mas há perdas no Uruguai. Paraguai e Bolívia também estão atentos ao fenômeno. A respeitada revista alemã "Oil World", especializada em oleaginosas, já calculou que a produção de soja da América do Sul será 3% menor que a prevista inicialmente em decorrência do clima adverso.
No Rio Grande do Sul, o governador em exercício, Beto Grill, afirmou ontem que vai estudar a possibilidade de baixar um decreto de situação de emergência em âmbito estadual, indicando os municípios atingidos pela seca. A Emater-RS promete divulgar hoje um levantamento com números mais detalhados sobre a quebra da safra de verão. No fim de dezembro, a entidade admitiu que pelo menos metade da área plantada de milho no Estado, que totaliza 1,2 milhão de hectares, já apresentava algum grau de "perdas irreversíveis" - em alguns casos, de até 40%.
Até agora, a previsão da Emater-RS é de produtividade de 4,6 toneladas de milho por hectare e de uma safra total de 5,3 milhões de toneladas no estado. Para o feijão, a estimativa é de colheita de 81,6 mil toneladas na 1ª safra, em 68,7 mil hectares.
A soja está com o plantio das lavouras praticamente concluído e, por enquanto, não há previsão de quebra. Mas, na semana passada, a Emater-RS informou que a falta de umidade já está prejudicando o desenvolvimento das plantas. A produção estimada do grão nesta safra chega a 10,3 milhões de toneladas, em 4,1 milhões de hectares.
Conforme Grill, 42 municípios gaúchos já decretaram situação de emergência e outros 24 enviaram notificações prévias à Defesa Civil do Estado. O governador em exercício estima que pelo menos mais 110 prefeituras seguirão esse rumo nos próximos dias e o recurso ao decreto estadual, sugerido a ele pela ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, pode acelerar trâmites como a liberação de ajuda federal para as regiões atingidas e também o acesso dos produtores ao seguro agrícola.
Em Santa Catarina, onde a falta de chuvas já levou 44 municípios a decretar situação de emergência, o extremo-oeste, na fronteira com a Argentina, é o mais castigado. A região reúne municípios que tiveram quebra de até 50% na safra de milho. Segundo Airton Spies, secretário em exercício da Agricultura do Estado, as perdas podem se agravar se a previsão da meteorologia se confirmar e Santa Catarina voltar a receber apenas em março chuvas em volumes adequados para a recuperação dos mananciais hídricos e reservatórios de água. Se o quadro for confirmado, a Defesa Civil estima que 132 municípios decretarão situação de emergência até o fim do verão.
As lavouras catarinense de milho são as mais castigadas, já que é época de floração da planta. Segundo relatório da Empresa de Pesquisa e Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), a perda na produção do grão é estimada em 8,5% até o momento. A projeção inicial era de colheita de 3,84 milhões de toneladas, 6,4% mais que na safra 2010/11. Considerando o preço médio de dezembro do ano passado, o prejuízo ficará em R$129 milhões.
Segundo Spies, a soja não foi tão castigada no Estado porque a cultura ainda não entrou em fase de floração. A estimativa da Epagri é de que as perdas mais significativas ocorram no extremo oeste, onde a quebra média da região ficará entre 10% e 15%. Santa Catarina estimava produzir 1,4 milhão de toneladas.
A produção de feijão e leite também sofreu prejuízos com a seca. O relatório da Epagri avalia que a perda do grão até o momento é de 4% na média do Estado em relação ao volume inicialmente esperado, de 127,1 mil toneladas. No leite, o prejuízo é da ordem de 16%. A previsão de volume de produção para novembro e dezembro era de 165 milhões de litros.
Segundo Spies, uma comitiva liderada pelo governador em exercício, Eduardo Pinho Moreira (PMDB), deve visitar a região oeste na sexta-feira. Entre as medidas previstas está a aceleração na liberação de recursos do Proagro e convênio com as prefeituras para contratação de caminhões para o abastecimento humano nas cidades. O governo prevê também a liberação de financiamento, sementes e adubos para o plantio na safrinha, caso a chuva retorne antes de 15 de fevereiro.
No Paraná, o La Niña, que se caracteriza pelo resfriamento da água na região equatorial do Oceano Pacífico, também já maltrata as lavouras. Depois do déficit hídrico de dezembro, as lavouras de soja e milho estão, em geral, em piores condições do que em meados de dezembro.
Fonte: Valor Econômico. Por Sérgio Ruck Bueno e Júlia Pitthan. 5 de janeiro de 2012.