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Scot Consultoria

Toma lá, dá cá


Terça-feira, 10 de janeiro de 2012 - 09h40

Pergunte aos lojistas de Miami quem são os turistas mais generosos na hora da compra e eles responderão, sem titubear: os brasileiros. Eles estão na quinta posição entre os turistas que mais gastam nos Estados Unidos. Segundo o Departamento de Comércio americano, em 2010 eles desembolsaram US$5,9 bilhões no país. Não por acaso, a potência mundial, que está às voltas com uma crise sem precedentes, busca ampliar o número de vistos para os visitantes do Brasil. A embaixada e os consulados dos Estados Unidos promoverão 12 mutirões até o mês de abril, para acelerar a liberação dos documentos de entrada. Em 2011, foi liberado um milhão de vistos, 57% a mais que em 2010. Acordos na mesa: a presidente Dilma visitará o presidente Obama em março, quando discutem maior integração entre os dois países. Assim como ocorre para as pessoas físicas, a crise econômica tornou os Estados Unidos fonte de oportunidades para as empresas brasileiras. Diante da pressão pelo corte de gastos no orçamento, o Congresso americano não renovou nem o subsídio aos produtores locais do etanol de milho nem a sobretaxa sobre o etanol importado no fim de 2011. A notícia trouxe alento aos produtores nacionais, que planejam multiplicar por oito as exportações para os Estados Unidos na próxima década. Em outra frente, a Embraer conseguiu fechar um contrato para vender 20 aviões Super Tucanos para a Força Aérea americana. A concorrência, no valor de US$355,1 milhões, vencida em consórcio com a americana Sierra Nevada Corporation, é pequena em comparação aos US$14,6 bilhões de que a Força Aérea dos Estados Unidos dispõe para aquisição de aviões em 2012. Mas coloca a Embraer numa vitrine poderosa. “Mais importante que o valor do contrato é exportar para o mercado mais sofisticado do mundo”, disse à dinheiro Luiz Carlos Aguiar, CEO da Embraer Defesa e Segurança. A Força Aérea procurava um avião capaz de dar apoio a tropas em terra e, ao mesmo tempo, ser uma opção barata aos caças F-16E, hoje empregados na guerra contra o Talebã, no Afeganistão. Enquanto o avião brasileiro tem custo de US$ 500 por hora de voo, o americano chega a US$6,5 mil. A entrada no maior mercado bélico do mundo, porém, não virá sem percalços. Na quinta-feira 5, o governo do presidente Barack Obama suspendeu, temporariamente,a licitação porque a Hawker Beechcraft, que também estava na disputa com seu T-6 Texan, decidiu questionar o resultado na Justiça. Futuro promissor: fim da sobretaxa ao etanol nos Estados Unidos incentiva o Brasil a investir R$ 150 bilhões em novas usinas. O contratempo ressuscita um fantasma da Embraer em concorrências na terra do Tio Sam. Em 2004, chegou a vencer uma disputa do Exército para fornecer a versão de vigilância de seu EMB-145, mas não seguiu adiante porque a compra foi cancelada. A situação agora é diferente, avalia Jairo Cândido, diretor da indústria de defesa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Um embargo numa concorrência como essa é comum”, diz Cândido, que acredita na confirmação do resultado no curto prazo. A Embraer, em todo caso, se esmerou para atender o cliente. Assim como o governo brasileiro, o americano também quer parte dos equipamentos produzidos no país. Exigiu ao menos 50% de conteúdo nacional, e a Embraer ofereceu 80%, com a montagem final numa unidade que a companhia brasileira está construindo em Jacksonville, na Flórida. Ou seja, a roupagem é verde-amarela, mas o recheio é made in USA. Enquanto isso, o fim da sobretaxa do etanol chega num momento difícil para a indústria sucroalcooleira, já que a produção atual mal está conseguindo abastecer o mercado interno. Mas abre oportunidades para o futuro e, especialmente, para que o etanol se consolide como um combustível global, como os derivados de petróleo. Nos próximos dez anos, o setor prevê investir R$150 bilhões para a instalação de 120 novas usinas. “Até 2020, vamos ampliar as exportações de etanol do atual 1,8 bilhão de litros para 15 bilhões de litros”, afirma Eduardo Leão, diretor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar. O destino da maior parte das vendas será os Estados Unidos. “Com a abertura do mercado americano podemos acessar a Europa e a Ásia”, diz Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria. As oportunidades de negócios entre os dois países devem crescer com a viagem que a presidenta Dilma Rousseff fará a Washington, marcada para março, quando participará de um fórum com líderes empresariais, além de encontrar-se com Obama. Em pauta, o fim da bitributação de empresas dos dois países, além de cooperação na área de energia, inovação e maior abertura para as empresas aéreas. “Os temas relevantes já estão na agenda”, diz José Fernandes, diretor-executivo da CNI. “Faltam os mecanismos que gerem resultados práticos.” Os empresários criticam a perda, em 2009, do superávit que o Brasil tinha no comércio bilateral. Nos últimos três anos, o déficit acumulado chega a US$20,5 bilhões. O governo teria negligenciado o mercado americano com a política de diversificar parceiros comerciais. “Na década passada, o País promoveu missões para o mundo inteiro, menos para os Estados Unidos”, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A viagem da presidenta Dilma pode ser o início da reversão desse quadro. Fonte: Isto é dinheiro. Por Denize Bacoccina, Guilherme Queiroz e Luís Artur Nogueira. 6 de janeiro de 2012.
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