Após recuarem em dezembro ao menor patamar de 2011, as cotações internacionais das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior recuperaram-se em janeiro. Os patamares permanecem em geral elevados, mas a maior parte das previsões converge para alguma perda de sustentação nos próximos meses, ainda em decorrência das turbulências financeiras em países desenvolvidos e seus eventuais reflexos sobre a demanda por alimentos, inclusive em mercados emergentes.
Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) de produtos negociados nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) e Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão) mostram que todos eles encerraram o mês passado em níveis superiores aos de dezembro. Mas apenas o suco fechou janeiro com preço médio maior que o do mesmo mês do ano passado, dada a tendência dominante de queda que marcou o quarto trimestre de 2011, sob forte influência da redução dos investimentos especulativos nesses mercados. Em 2011, pela primeira vez que foi criado, em 2000, o índice da corretora americana Newedge que mede a rentabilidade de fundos de hedge em commodities registrou queda (1,7%), destacou o "Financial Times".
Commodities agrícolas mais negociadas, os grãos, como os demais produtos que fazem parte do levantamento, também encontraram na fraqueza do dólar diante de outras moedas um importante fator de suporte para as cotações em Chicago em janeiro. Mas veio dos fundamentos de oferta e demanda o principal impulso altista. Se o consumo segue a resistir às incertezas e a mostrar sinais de firmeza, em países desenvolvidos e em emergentes como a China, a oferta global sofre com a seca provocada pelo fenômeno La Niña na América do Sul, principalmente em Argentina, Brasil e Paraguai.
A estiagem tem provocado correções para baixo em diferentes previsões para a produção de soja e milho da região nesta safra 2011/12, cuja colheita já começou, e esses ajustes normalmente têm sido seguidos de altas em Chicago. Segundo o Valor Data, a segunda posição da soja fechou janeiro com cotação média 4,93% maior que a de dezembro, enquanto no milho o salto foi de 4,44%. Mesmo fora do alcance do La Niña, o trigo, que pode ser usado como alternativa ao milho em alguns casos, subiu 4,28%. Em relação às médias observadas em janeiro de 2011, os três aparecem com variações negativas (ver gráficos acima).
Entre os fundamentos, o fator La Niña na América do Sul continuará a atrair a maior parte da atenção em fevereiro, em um período de "weather market" (mercado de clima) que, dado o crescente peso da região nesses mercados, começa a ser comparável ao que costuma guiar as cotações entre o fim do segundo e o início do terceiro trimestre de cada ano, quando são as lavouras do Hemisfério Norte que estão em desenvolvimento. Durante o "weather market", brincam os analistas, comercializa-se chuva ou a falta dela, por seus efeitos sobre as plantações.
Em Nova York, onde são negociadas as "soft commodities", o grande destaque foi a disparada do suco de laranja, que alcançou máximas históricas e encerrou janeiro com a maior valorização de seu preço médio mensal entre as oito commodities agrícolas pesquisadas (12,93%). Com isso, o produto também foi o único a fechar o mês passado com cotação média superior à de janeiro de 2011 (9,4%).
No início de janeiro, os preços foram alavancados pelas geadas que ameaçaram pomares na Flórida, que reúne o segundo maior parque citrícola do mundo, atrás de São Paulo. Mais recentemente, pelas travas impostas pelos EUA a cargas importadas de suco em razão da presença de um fungicida permitido em países como o Brasil, mas vetado no mercado americano. São dois fatores, contudo, que tendem a perder força.
Outro produto que subiu consideravelmente foi o algodão (8,33%), que após as máximas do primeiro trimestre de 2011 entrou em queda livre com o aumento da oferta global e da concorrência de alternativas sintéticas e ainda encerrou o mês passado com a maior variação negativa do grupo em relação a janeiro de 2011 (34,11%). Mais barato, voltou a atrair os compradores.
Fonte: Valor Econômico. Por Fernando Lopes. 1 de fevereiro de 2012.