Depois de superarem as melhores expectativas e baterem todos os recordes em 2011, as vendas de fertilizantes no mercado brasileiro dificilmente manterão o ritmo de crescimento em 2012.
É quase consenso no segmento que, mesmo capitalizados, os produtores, que investiram pesado na adubação de suas lavouras no ano passado, tendem a ser mais cautelosos ante as turbulências financeiras em países desenvolvidos e das projeções de queda dos preços internacionais das commodities.
Mas, mesmo para quem acredita em perda de fôlego, o cenário é promissor, já que o patamar alcançado no ano passado é elevado e quedas bruscas das vendas são praticamente descartadas.
Balanço concluído ontem pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) surpreendeu até o diretor-executivo da entidade, David Roquetti Filho. Com mais um salto em dezembro, as entregas das misturadoras - empresas que produzem os fertilizantes finais a partir da combinação entre os principais nutrientes necessários - totalizaram 28,3 milhões de toneladas em 2011, 15,5% mais que em 2010 e novo recorde.
Para se ter uma ideia, o segmento iniciou o ano passado com uma projeção média de aumento das entregas da ordem de 5%. Até o começo de novembro passado, poucos arriscavam que o volume anual superaria a barreira de 27 milhões de toneladas.
A partir do resultado obtido e do comportamento dos preços, a Anda estima que o faturamento líquido no segmento tenha chegado a US$16,9 bilhões, 47,5% acima de 2010. Em moeda brasileira, foram R$27,8 bilhões, alta de 37,8%.
Roquetti Filho nota a influência do câmbio para a estimativa em dólar. Ele também observa que os preços dos insumos de fato aumentaram em 2011 em relação ao ano anterior, em linha com as cotações internacionais, mas que ficaram abaixo dos picos de 2008.
O executivo lembra que, por depender de importações para atender à demanda doméstica, o Brasil não escapa de ter sua formação doméstica de preços atrelada às oscilações externas.
Segundo as estatísticas da Anda, essa dependência aumentou no ano passado. Foram importadas 19,8 milhões de toneladas de fertilizantes intermediários, quase 30% mais que em 2010.
Ao mesmo tempo, a produção nacional de intermediários somou 9,9 milhões de toneladas, aumento de 5,6% em igual comparação. Os investimentos efetivamente aplicados no incremento da capacidade nacional de produção foram estimados pela Anda em US$838,2 milhões, 29,8% acima do ano anterior.
A diferença entre os percentuais de crescimento dos investimentos e da produção nacional em si pode ser explicada pelo longo período de maturação dos principais projetos em curso, liderados sobretudo pela Vale e pela Petrobras.
Com foco principal na exploração e produção de nutrientes derivados do fosfato, a Vale Fertilizantes, maior produtora de matérias-primas para adubos do país - a empresa não vende produtos acabados -, investiu R$530 milhões de janeiro a setembro do ano passado, conforme informações divulgadas em seus balanços trimestrais de resultados. No mesmo intervalo de 2010, foram R$526 milhões.
Roquetti Filho observa que, mesmo com a alta dos preços no ano passado, as relações de troca entre as principais commodities agrícolas e os fertilizantes foram favoráveis aos agricultores, o que também ajuda a explicar o salto das vendas, puxadas por soja, milho, cana, café e algodão.
Essas relações de troca também ajudarão a determinar o ritmo das vendas em 2012. A expectativa é que elas sigam favoráveis aos produtores mesmo em caso de queda moderada das cotações das commodities agrícolas, até porque esse movimento normalmente é acompanhado da queda dos preços dos adubos.
A RC Consultores, que prevê baixa das commodities agrícolas em geral neste ano, estima que as entregas das misturadoras aos clientes finais poderão alcançar 28 milhões de toneladas. Os mais pessimistas acreditam em um volume mais próximo de 27 milhões.
Fonte: Valor Econômico. Por Fernando Lopes. 3 de fevereiro de 2012.