Em um processo de reorganização global que resultou na escolha inédita de uma operação fora da Europa como sede de tomada de decisões, a sueco-finlandesa Stora Enso aumentou a aposta nos negócios de celulose e colocou o Brasil como centro de sua estratégia para a área.
A partir daqui, em um escritório moderno e recém-inaugurado no Itaim-Bibi, zona sul de São Paulo, o executivo Juan Carlos Bueno comandará a nova área, que vai concentrar os negócios de Biomateriais de uma das maiores papeleiras europeias. Em 2012, apenas essa unidade de negócio deverá faturar US$1,1 bilhão.
Para se ter uma ideia da relevância do escritório brasileiro, aqui ficarão seis dos oito executivos com cargos-chave da nova unidade. Os dois postos internacionais ficam na Suécia e na Finlândia.
Sob o guarda-chuva da divisão de Biomateriais estão todas as fábricas de celulose de mercado da Stora Enso: Veracel (na Bahia), Montes del Plata (em construção no Uruguai), Skutskär (Suécia) e Sunila e Enocell (na Finlândia). Juntas, as fábricas podem produzir 4,74 milhões de toneladas por ano da fibra. A unidade também incorporou áreas florestais no Estado do Rio Grande do Sul e plantações experimentais no Laos e Tailândia. Unidades integradas de papel, que também produzem a matéria-prima, ficaram em outra divisão.
Reduzir a exposição à Europa e ao negócio de papel, que oferece rentabilidade inferior à alcançada em celulose, foi um dos vetores para a reorganização da tradicional indústria europeia. Isso não significa, contudo, que a companhia vá abandonar planos de expansão no negócio tradicional. O forte crescimento da demanda por tissue (papel higiênico) também foi levado em consideração no novo formato da corporação, que pretende avançar sobre esse mercado, especialmente em economias emergentes.
Atualmente, a área de Biomateriais responde por cerca de 10% das vendas da Stora Enso e por mais de 10% dos lucros. Com a entrada em operação da fábrica uruguaia, que está sendo erguida em parceria com a chilena Arauco, a participação no faturamento consolidado deve ultrapassar 15%. Em 2010, a companhia faturou US$10,3 bilhões.
"Essa é a primeira vez que uma área de decisão sai dos países escandinavos", ressalta Bueno. "E a maior presença na América Latina não vai parar com a fábrica no Uruguai", acrescenta. A operação em Montes del Plata, com capacidade para 1,3 milhão de toneladas anuais de celulose e investimento de cerca de US$2 bilhões, deve ser iniciada nos primeiros meses de 2013. Mais adiante, provavelmente em 2017, entraria em atividade a segunda linha da Veracel, joint venture com Fibria que produz celulose branqueada de eucalipto no sul da Bahia.
Entre um projeto e outro, a europeia não descarta a possibilidade de aquisições ou nova sociedade no modelo feito com Fibria e Arauco. "Temos uma posição de caixa sólida e planos de crescimento. Mas temos de avaliar se é um projeto que faz sentido para nossa estratégia, especialmente em termos de sustentabilidade", diz.
A nova área de negócios, contudo, não será exclusivamente voltada à celulose - daí o nome Biomateriais. Conforme Bueno, colombiano de 44 anos que foi contratado no ano passado para o cargo de diretor para a América Latina da Stora Enso, a companhia vai explorar outros compostos da madeira, como a lignina.
Até o fim do ano, a ideia é contar com uma equipe de pesquisa e desenvolvimento local, que trabalhará em sintonia com o grupo já em atividade na Europa. "Já começamos, inclusive, a produzir microcelulose (aplicada na indústria de cosméticos, por exemplo) na Finlândia", afirma o vice-presidente da Stora Enso para América Latina, Otavio Pontes.
O processo de reestruturação dividiu a Stora Enso em quatro grandes áreas de negócio. Ao lado de Biomateriais, aparecem as unidades de Escrever e Imprimir, Embalagem Reciclável e Construir e Viver (negócios com madeira). Neste momento, papéis representam 50% dos negócios da companhia. "Esse é o mercado que menos cresce. Vamos nos voltar a outros mercados e outras geografias, e isso deve resultar em alteração nessa composição dos negócios", reitera Bueno.
Com 85 fábricas no total - a esmagadora maioria instalada em países europeus -, a Stora Enso opera ainda no Brasil uma unidade de produção de LWC, única fabricante de papel cuchê de baixa gramatura na América Latina. A unidade está localizada em Arapoti, no Paraná.
Fonte:
Valor Econômico. Por Stella Fontes. 8 de fevereiro de 2012.
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