Pelo terceiro ano seguido, o Brasil foi o grande responsável pela expansão do cultivo mundial de lavouras geneticamente modificadas em 2011. É o que mostram os dados divulgados ontem pelo Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações Biotecnológicas (ISAAA, na sigla em inglês), uma organização não governamental pró-transgênicos. No ano passado, a área global plantada com sementes geneticamente modificadas cresceu em 8% -- ou 12 milhões de hectares - para 160 milhões de hectares.
O Brasil sozinho respondeu por 40% dessa expansão. No ano passado, a área ocupada com transgênicos no país somou 30,3 milhões de hectares, um aumento de quase 20% ou 4,9 milhões de hectares em relação à safra anterior. Foram 20,6 milhões de hectares de soja, 9,1 milhões de milho e 600 mil de algodão.
Desse modo, o país isolou-se na segunda posição entre os países que mais plantam transgênicos, atrás apenas dos Estados Unidos - até 2009, o país perdia também para a Argentina.
"Isso só foi possível porque o Brasil conseguiu desenvolver um sistema rápido de aprovações e é capaz de desenvolver sua própria tecnologia", declarou Clive James, presidente da ISAAA, durante uma teleconferência com jornalistas de todo o mundo.
Desde 2005, quando a tecnologia foi regulamentada no Brasil, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) liberou o plantio de 32 variedades geneticamente modificadas de soja, milho, algodão e feijão. Só em 2011 foram seis aprovações.
A disseminação da tecnologia no Brasil impressiona, sobretudo no milho. Em apenas quatro safras, desde que o primeiro híbrido transgênico foi liberado no país, quase 65% das lavouras de milho passaram a ser geneticamente modificadas - nos últimos três anos, registraram-se mais variedades transgênicas do que convencionais do grão.
No caso da soja, esse índice beira os 83%, mas as primeiras sementes modificadas chegaram ao Brasil ainda no fim dos anos 1990, de maneira ilegal, contrabandeadas da Argentina.
Durante a entrevista, James ressaltou mais de uma vez o papel da Embrapa, que obteve em 2011 a liberação comercial para o feijão resistente ao vírus do mosaico dourado - a primeira variedade transgênica totalmente desenvolvida por uma instituição nacional. Em 2009, a empresa já havia obtido a liberação para uma nova soja transgênica, desenvolvida em parceria com a Basf.
Apesar do avanço brasileiro, os Estados Unidos seguem líderes, não apenas em área, mas também em variedade de cultivos transgênicos e no desenvolvimento da tecnologia. Em 2011, o país plantou cerca de 69 milhões de hectares com soja, milho, algodão, canola, abóbora, papaia, alfafa e beterraba geneticamente modificados - um aumento de 3,3% ou 2,2 milhões de hectares em relação a 2010.
Desde 1996, quando a Monsanto lançou nos Estados Unidos suas primeiras sementes de soja resistente ao herbicida glifosato, apenas 29 países adotaram a transgenia em suas lavouras e apenas plantam áreas superiores a 1 milhão de hectares. A tecnologia ainda enfrenta grande resistência por parte dos ambientalistas, sobretudo na Europa, onde a tecnologia é vista como uma ameaça à biodiversidade.
Em resposta à crítica, James afirma que a disseminação dos transgênicos é "fundamental para assegurar um crescimento sustentável da produção mundial de alimentos, reduzindo o uso de pesticidas, aumentando a produtividade e poupando áreas ocupadas com florestas".
Segundo a ISAAA, metade de toda a área plantada com transgênicos está nos países em desenvolvimento - em 2012, eles deverão ser a maioria no uso da tecnologia. No ano passado, a área plantada com transgênicos cresceu em 11% ou 8,2 milhões de hectares em países como Brasil, Argentina, China, Índia e África do Sul, contra apenas 5% (3,8 milhões de hectares) nos países industrializados.
Segundo a ISAAA, o mercado de sementes geneticamente modificadas movimentou US$13,2 bilhões em 2011, um aumento de 12,8% em relação a 2010. O valor corresponde a pouco mais de um terço do mercado total de sementes, estimados em US$37 bilhões, e apenas 22% do mercado de defensivos agrícolas, que movimentou US$59,6 bilhões em 2011. Contudo, o "valor da produção transgênica" - ou seja, das safras geneticamente modificadas - ficou próximo de US$160 bilhões, nas contas da organização.
Fonte:
Valor Econômico. Por Gerson Freitas Jr. 8 de fevereiro de 2012.
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