A ferrugem da soja, doença fúngica que compromete o desenvolvimento da planta e impacta a produtividade, está presente em todas as lavouras estaduais nesta safra 2011/12. O resumo sobre o cenário da cultura em plena colheita foi descrito na última sexta-feira pelo presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (APROSOJA), Carlos Fávaro. “Hoje não existe uma lavoura que esteja sem focos da ferrugem”. Ainda segundo ele, esta temporada apresenta o maior índice de infestação dos últimos anos, “se assemelhando ao vivido pelos sojicultores na safra 2003/04 quando a doença era praticamente uma desconhecida no Estado”.
Clima quente e úmido, características do verão mato-grossense, ampliam invariavelmente a propagação da doença causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi que deixa como saldo direto da alta incidência perdas de produtividade.
Como frisa Fávaro, a quebra de rendimento por hectare é certa, mas que no momento - quando a colheita atinge 52% da área plantada – ainda não é possível mensurar o tamanho das perdas. Conforme ele, mesmo com uma disseminação tão severa quanto a registrada em 2003/04, “o estrago será menor porque naquela época havia pouca informação, produtos e conhecimento do sojicultor. Agora, além de tecnologia de combate, o sojicultor tem conhecimento e amparo. Se não fosse isso, considerando o tamanho da área que supera e muito àquela de 2003/04, seria uma catástrofe”. A série histórica da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) mostra que entre os ciclos 2003/04 e 2011/12, houve incremento de 30% na área plantada de Mato Grosso que passou de 5,24 milhões de hectares para 6,98 milhões. Neste intervalo a produção passou de 15 milhões de toneladas para uma estimativa acima de 22,16 milhões e a produtividade de 2,8 mil quilos por hectare para mais de 3,1 mil neste ano.
Ainda sobre o tamanho da perda, Fávaro pondera que além da ferrugem, há outro fator que vai impactar no resultado: a falta de luminosidade durante o mês de janeiro. “Além do clima quente e chuvoso, perfeito à disseminação do fungo, tanto que a doença chegou mais cedo nesta temporada, é que com pouca luz a fotossíntese das plantas é prejudicada e o resultado é um grão mais leve. O diretor técnico da APROSOJA/MT, Luiz Nery Ribas, confirma que a colheita atual já revela que o volume extraído está vindo sem peso. “A contabilização das perdas e o custo adicional desta safra terão de esperar mais um pouco para serem conhecidos”
Fora o comprometimento do rendimento, outro impacto certo e também a ser mensurado é o custo final de produção. “Muitos sojicultores apontaram no seu planejamento cerca de duas aplicações de fungicidas no decorrer do desenvolvimento da planta, no entanto, há casos em que cinco aplicações já foram realizadas e isso tudo é custo a ser contabilizado. Para muitos o custo do hectare plantado ainda não está fechado. A ferrugem amplia as despesas e reduz os ganhos com a soja”, sentencia o presidente da APROSOJA/MT.
Ribas é mais cauteloso ao avaliar a incidência da ferrugem nesta safra, no Estado. “Sim, de fato estamos em um momento caótico, crítico e problemático porque existem focos em todas as lavouras e eles se disseminam pelo vento e contra o vento não há barreiras. No entanto, temos de considerar que nas últimas duas safras o clima estava mais seco e por isso a doença demorou mais para aparecer e deu menos trabalho aos produtores que estavam precavidos para o combate. Esta ferrugem é grave porque os últimos dois anos foram mais tranquilos ou realmente ela veio mais severa nesta safra?”, indaga.
O presidente do Sindicato Rural de Tapurah (433 quilômetros ao norte de Cuiabá) e produtor, Silvésio de Oliveira, conta que cada aplicação tem um custo médio de US$16 por hectare. “Nesta safra a doença chegou um mês antes em relação ao registrado no ano passado. Acredito que a região deverá ter perdas de 7% a 8% em função da doença”. Foram cultivados nesta safra no município cerca de 160 mil hectares e a estimativa é que 60% da área estejam colhidas. “Depois da confirmação dos primeiros focos a doença fugiu de controle. A maior parte dos produtores estava meio acomodada, já que há duas safras a doença não surgia de forma tão severa. Com isso, além de um combate mais tardio, houve quem não tivesse feito aplicações preventivas”. Ele completa que lavouras superprecoces de soja – com a intenção de dar lugar ao algodão ainda na primeira quinzena do mês – não receberam nenhum tratamento com fungicidas e isso contribuiu para a propagação dos focos.
Fonte:
Diário de Cuiabá. Por Marianna Peres. 26 de fevereiro de 2012.
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