Um país de terras ruins e fracas para a produção brasileira de grãos, mas que ao mesmo tempo conseguiu aumentar em 175% a produção no intervalo de 20 anos graças a implementação de tecnologias. Este é o retrato do Brasil pela visão do coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FVG), Roberto Rodrigues. Ele também já esteve no comando do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) entre os anos de 2003 e 2006.
Para Rodrigues, o Brasil demonstra para o mundo que é possível aliar fatores como produção e preservação ambiental. Enquanto a produção de grãos cresceu acima dos 100%, a área reservada para fins agropecuários, por sua vez, evoluiu em uma escala de 35%. O coordenador do Centro na FGV fala em Brasil como modelo.
"O que o mundo quer hoje é sustentabilidade. Essa é a palavra que varre a linha comercial. Temos um agronegócio muito sustentável, tanto que nos últimos 20 anos a área plantada com grãos cresceu 35% e a produção em 175%, mais de cinco vezes em função da tecnologia. Esse número já assusta o mundo pelo nosso avanço", defendeu Roberto Rodrigues.
Somente na safra 2011/12 a agricultura ocupou 52,2 milhões de hectares e colheu 162,8 milhões de grãos. Para Roberto Rodrigues, os níveis de produtividade do país aumentaram por meio da introdução de novas tecnologias.
"Se tivéssemos uma produtividade como há 20 anos precisaríamos de mais de 53 milhões de hectares para produzir o que hoje conseguimos. Estamos preservando isso atualmente. É fato e não promessa", citou.
Olhares atentos ao que os produtores rurais brasileiros fazem são, para o coordenador, prova que o mundo está de olho no modelo brasileiro de gestão e produção agropecuária.
"Nos próximos dez anos a oferta mundial por alimentos tem que crescer 20%. A União Europeia vai crescer 4%; Estados Unidos e Canadá no máximo 15%. China, Índia, Rússia e Ucrânia 26% e o Brasil 40%. É a primeira vez que uma instituição internacional pede ao Brasil para crescer 40%", falou Rodrigues, ao mencionar um estudo desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Mas ao mesmo tempo em que se acentua o ritmo da produção brasileira de grãos, cresce a disparidade entre os meios rural e urbano e diminui também o sentimento de ligação entre os dois ambientes, aponta Roberto Rodrigues.
"O rural não vive sem o urbano, que também precisa do rural. A relação de parceria, cumplicidade deveria ocorrer. No imaginar popular brasileiro, plantar seria muito fácil. A primeira coisa que se aprende no Brasil é que plantou e se colheu. Não é verdade. O Brasil é um país de terras ruins, fracas. A porcentagem de terra boa é pequena. Crescemos por causa da tecnologia", manifestou.
Para Roberto Rodrigues, é preciso reverter a consciência de dois mundos paralelos e que são postos de lados separados: rural e urbano.
"Quem é agricultor hoje é olhado como segunda classe. Hoje, o conceito de agronegócio e cadeia produtiva está entrando no Brasil de forma mais adequada. Mas ainda falta muito. A essência dessa questão é convencer a sociedade da intensa parceria do setor rural. Uma não vive sem a outra", completou ainda Roberto Rodrigues.
Fonte: G1 MT. Por Leandro J. Nascimento. 6 de maio de 2012.
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