A dificuldade na relação entre agricultores e bancos que oferecem a linha de crédito criada pelo governo federal para viabilizar práticas agrícolas sustentáveis, no âmbito do Programa Agricultura de Baixo Carbono (Programa ABC), reacende o antigo dilema da facilidade de acesso a esse tipo de investimento.
A burocracia de acesso ao crédito e a dificuldade de mensurar o retorno desses investimentos são alguns problemas reconhecidos tanto por representantes do governo quanto por produtores para a tomada do empréstimo.
Segundo o produtor mato-grossense Glauber Silveira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), a burocracia exigida pelos bancos faz com que muitos agricultores da região desistam de contratar o financiamento do programa ABC.
Quem precisa do programa [ABC] não consegue [ter acesso ao crédito] porque nas propriedades têm APPs [áreas de proteção permanente] e [os produtores] não conseguem recuperar essas áreas, relatou.
Glauber defende a flexibilização das regras para que a linha de crédito, considerada prioritária para o governo, seja mais acessível ao produtor. O problema é que governo lançou um programa que diz que é para contemplar sustentabilidade, mas quando você vai pegar o recurso querem que você já seja a pessoa mais correta do mundo, criticou o produtor.
O presidente da Aprosoja acrescentou que, na contratação do empréstimo, os produtores precisam apresentar uma série de documentos, precisam ter georreferenciamento e tantas licenças que é impossível tomar o recurso.
Quinta-feira (28/6), o governo lançou o Plano de Safra 2012/13 com recursos de R$3,4 bilhões para operações de crédito das chamadas linhas de crédito ABC (Agricultura de Baixo Carbono). Na atual safra, cujas operações encerram-se amanhã (29/6), os recursos disponíveis são de R$3,150 bilhões. A expectativa é que, com o encerramento das operações, sejam contabilizados contratos totalizando pouco mais de R$1 bilhão.
Representantes do governo não consideram preocupante o desempenho da linha, que contratou menos de 50% dos recursos disponíveis. O diretor executivo do Departamento de Economia Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Wilson Vaz de Araújo, disse que os resultados são os previstos, considerando que o programa está em seu segundo ano de aplicação.
Vaz de Araújo reconhece que o ABC tem especificidades novas, diferentes das exigências e garantias oferecidas por empréstimos tradicionais, como os financiamentos para compras de equipamentos. [O programa ABC] envolve projeto técnico de boas práticas agrícolas, análise mais aprofundada e acompanhamento técnico, explicou.
A expectativa do governo é de contratar pelo menos R$2 bilhões até o final da próxima safra. A linha de crédito do programa, criado há dois anos, prevê o financiamento de técnicas sustentáveis associadas à atividade agrícola, como o plantio direto na palha, recuperação de pastos degradados e integração lavoura-pecuária-floresta.
O diretor do Mapa disse que os governos federal e estadual vêm tentando disseminar tecnologias sustentáveis por meio de comitês instalados em várias regiões do país para estimular o interesse pelo crédito.
Fonte: Sou Agro. Pela Redação. 28 de junho de 2012.
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