A segunda safra mato-grossense, pelo menos com o milho, parece não ter fim. A cada nova estimativa surgem números que se sobrepõem ao anterior, em uma quebra seqüencial de recordes. Ontem, em mais uma projeção divulgada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), a produção de milho foi redimensionada e reprojetada em mais de 14,23 milhões de toneladas. Se esse volume do grão se confirmar, este ciclo estará 103% acima das 6,99 milhões de toneladas colhidas no ano passado.
Nos últimos 13 meses, de julho do ano passado até agora, o IMEA lançou oito estimativas de produção ao milho e em todas elas os dados foram revisados para cima. O primeiro número referente à atual safra foi divulgado em julho do ano passado, quando se previa uma oferta de 8,90 milhões de toneladas, volume que superaria em 27,46% a temporada 2011 e que foi soterrado pela projeção atual. Em dezembro a safra foi desenhada em 9,80 milhões de toneladas, em março deste ano revista para 10,78 milhões de toneladas, em abril, 11,73 milhões, junho, 13,11 milhões até o dado deste mês, 14,23 milhões, que está 8,54% acima da última projeção do Instituto.
Este incremento nos números ocorreu em razão da boa produtividade nas lavouras colhidas até o momento. Como explica a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), dos 2,5 milhões de hectares plantados nesta safra, a colheita atingiu 50,3% do total e a média de produtividade passou de 87 sacas por hectare para as atuais 94 sacas/ha, aumento de 8%. As estimativas foram sendo revistas na medida em que a projeção de produtividade se alterava.
Este bom rendimento é resultado de um ano positivo ao desenvolvimento das lavouras, com o regime de chuvas beneficiando a safra ate às vésperas da colheita com chuvas ainda em junho. Fora isso, como frisam os produtores, o resultado reflete uma conjunção de fatores positivos, além do clima, investimento em sementes de alta tecnologia e plantio, em quase 100%, dentro da janela ideal à cultura, até meados de fevereiro.
Como destaca o IMEA, em algumas regiões, como por exemplo, Sorriso (460 quilômetros ao norte de Cuiabá) - município que disponibiliza a maior área de cultivo à soja do mundo, mais de 600 mil hectares - que tem a maior área plantada no estado, a média de produtividade nas lavouras tem sido em torno de 100 a 110 sacas por hectare. "É importante destacar que estamos analisando a produtividade do milho de alta tecnologia, a partir de agora começa a ser colhido o milho de média tecnologia, o que pode vir a reduzir o potencial de produtividade", adverte o analista de grãos do IMEA, Cleber Noronha.
Devido à movimentação especulativa de algumas empresas nos últimos dias, os preços voltaram a reagir depois de meses em compasso de espera, espera pela confirmação da safra mato-grossense, da safra norte-americana e do anúncio de mecanismos de comercialização do governo federal para o grão.
De acordo com o produtor rural e delegado da Aprosoja/MT em Sorriso, Márcio Giroletti, houve negócios em torno de R$17 a R$19 a saca, mas voltado ao mercado externo. Antes dessa reação, o mercado interno ofertava até R$13 pela saca, valor, que segundo os produtores, mal cobria os custos de produção que chegaram em torno de R$12. "A comercialização no mercado interno ainda está tímida e com a seca nas lavouras norte-americanas a tendência é o mercado internacional demandar mais milho para exportação", avalia Giroletti. Como o Diário já havia antecipado na edição do último dia 8, é justamente na seca norte-americana é que pode estar o suporte de preços que Mato Grosso precisa para ter uma safra gigante e remuneradora e o caminho para isso, passará pelas exportações.
Além dos preços, o produtor mato-grossense está atento à questão da logística para escoamento do milho. Segundo o presidente da Aprosoja/MT, Carlos Fávaro, já é grande a movimentação de caminhões nas estradas e a tendência é aumentar ainda mais. "Até a segunda quinzena de agosto, quando nos aproximamos do final da colheita, teremos algo em torno de 70% do milho comercializado. Sabemos que Mato Grosso tem um déficit de armazenagem, mas com este percentual de milho vendido, teoricamente, não teríamos problema de armazenagem, pois o que já está vendido seria retirado e daria fluxo nos armazéns", destacou Fávaro.
Porém, a logística de transporte é, como sempre, um dos principais limitantes, muito mais do que a capacidade estática de armazenagem. "Estão se aproximando aqueles dias temidos de vermos caminhão em cima de caminhão nas estradas. E isto pode sim colocar em xeque a capacidade de armazenar a safra de milho no Estado e poderemos ter milho a céu aberto, novamente, em Mato Grosso", alertou o presidente da Aprosoja.
Fonte: Diário de Cuiabá. Por Mariana Peres. 17 de julho de 2012.
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