A reação do câmbio nas últimas semanas animou os segmentos do agronegócio voltados para exportação. A perspectiva de colheita de uma safra de grãos que deve superar 180 milhões de toneladas, sendo 80 milhões de toneladas só de soja, principal produto da balança do setor, combinada com o novo patamar da moeda americana, mais próximo dos R$2,10 que dos R$2,00, sinaliza a possibilidade de novo recorde de rentabilidade. Em outros segmentos, como açúcar e café, cujas cotações estão em queda, a reação da moeda americana ameniza a perda. Há preocupação com o custo de produção, em especial com fertilizantes - 70% da matéria-prima é importada -, mas, por enquanto, não ofusca o brilho da valorização cambial no momento em que a safra brasileira de grãos se desenvolve bem no campo e a cana-de-açúcar está em fase final de colheita.
No caso dos grãos, sobretudo soja e milho, o câmbio atual deve engordar a receita com exportações, favorecidas por preços elevados, que foram impulsionados pela quebra da safra norte-americana e pela demanda mundial aquecida. Já o volume, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), não deve sofrer grandes alterações. "Não pretendemos mexer nos volumes por causa do câmbio. Vamos ter limitações logísticas e nem que queiramos conseguiremos exportar mais", diz Fábio Trigueirinho, secretário geral da entidade. A Abiove projeta embarques de 38,5 milhões de toneladas de soja em grão no ano comercial que vai de fevereiro de 2012 a janeiro de 2013, crescimento de 21%.
Ainda que a depreciação do real tenda a reduzir despesas com frete interno, mão de obra e arrendamento da terra, como aponta Trigueirinho, há um aumento do custo de produção, enfatiza o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes. "O produtor deverá observar um ligeiro aumento naqueles itens que compõem seu custo, como os fertilizantes e os defensivos." O executivo lembra que oscilações bruscas na moeda seriam prejudiciais tanto para a indústria como para o produtor. "Uma pequena variação cambial, combinada com preços muito bons, é bem-vinda, principalmente para aqueles que estão longe do porto", afirma.
O presidente interino da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, diz que para o setor preço e câmbio estão diretamente relacionados. Assim, a reação da moeda americana é positiva porque permitiu recuperar parte das perdas com preço do açúcar no mercado internacional. Em outubro, com câmbio ao redor de R$2,03, a commodity estava cotada a 20,38 cents de dólar por libra-peso. "Nos primeiros dias de novembro o preço caia para 19,25 cents e o câmbio estava entre R$2,03 e R$2,04. Com isso, o preço do açúcar já era 5,14% menor." A valorização do dólar na última semana atenuou a queda, atualmente de 2,38%. "Com esse câmbio houve uma recuperação de 2,76% no preço, mas ele ainda é de 15% a 20% inferior ao de novembro de 2011", afirma o executivo.
O vice-presidente financeiro e diretor de Relações com Investidores da Cosan, Marcelo Martins, avaliou durante a Cosan Day, realizado na última segunda-feira em São Paulo, que a cotação do dólar perto de R$2,10 traz pouco impacto nos custos e não influencia na receita com exportações da companhia, maior produtora de açúcar e etanol do país. "No custo de produção tem impacto pequeno e nas vendas externas as fixações são feitas olhando os valores em real, e não em dólar", disse o executivo. "Assim que fazemos a nossa fixação do açúcar, travamos também o câmbio", completou.
Para o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Christian Lohbauer, movimentos momentâneos de alta ou queda na cotação da moeda norte-americana não influenciam na receita das companhias do setor, que exportam quase 100% do suco de laranja produzido no país. "Como os contratos são de médio e longo prazos e os grandes negócios são fechados em outubro, o que importa é a estabilidade do dólar e em um novo patamar, como agora", explicou o executivo, citando o intervalo de R$2 a R$2,10 para o dólar em 2012, ante a média de R$1,70 no ano passado.
Para Lohbauer, além do novo patamar da moeda norte-americana, "o setor foi beneficiado pelos bons preços (em dólar) do ano passado e deste ano, graças às políticas públicas para retenção de estoques". Lohbauer admite, ainda, que a indústria até se beneficia com as variações positivas com contratos menores ou vendas no mercado spot, mas que esse tipo de operação é praticado por uma minoria no setor.
Fonte: Sociedade Rural Brasileira. Pela Redação. 28 de novembro de 2012.
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