Bilhões de dólares em grãos e produtos petroquímicos correm o risco de não chegar aos mercados consumidores nos Estados Unidos porque o baixo nível das águas do Mississippi ameaça impedir a navegação no rio, alertaram operadores de barcas e exportadores de grãos.
Os operadores fluviais, que rebocam grandes fileiras de 30 ou mais barcas amarradas, juntaram-se a grupos agrícolas para pedir ao presidente Barack Obama medidas que mantenham a navegação em um trecho mais raso de cerca de 320 quilômetros entre Saint Louis e Cairo, em Illinois, considerado crucial.
O baixo nível da água é resultado de uma combinação de menos chuvas durante a seca recorde deste ano no Meio-Oeste americano e de ações do Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA, encarregado de operar as represas que controlam o sistema fluvial. Os militares seguiram a prática habitual de reduzir o fluxo de água das várias represas no Missouri, apesar dos problemas correnteza abaixo.
Especialistas acreditam que governos em várias partes do mundo vão passar a se deparar com mais dificuldades como essa seca, uma vez que o aquecimento mundial torna mais frequente a incidência de condições climáticas extremas.
O baixo nível da água já afeta o tráfego e a capacidade de os operadores atenderem plenamente as exigências de fim de ano de levar a colheita de grãos como a soja e outras commodities para a costa americana do Golfo do México, segundo Rick Calhoun, presidente das operações navais da Cargill, maior empresa de agronegócios do mundo.
Calhoun, que opera a frota de 1,5 mil barcas da Cargill, disse que as embarcações para transportar commodities rio acima vêm sendo carregadas com calado de 2,1 metros em vez dos habituais 2,7, o que reduz a capacidade em 400 toneladas, para 1,1 mil. As fileiras também foram reduzidas e agora navegam com 15, em vez de 30 barcas, a reboque.
Caso o nível da água continue caindo no ritmo atual - de 0,3 metro por semana -, a navegação poderia ser interrompida completamente em 22 de dezembro. Isso deixaria cerca de US$3 bilhões em produtos agrícolas e US$2 bilhões em derivados de petróleo imobilizados, segundo Calhoun. "Estima-se que cerca de US$7 bilhões em produtos vão ficar parados aqui."
O cerne do problema é o revezamento entre os usuários rio acima no Missouri e as necessidades de navegação do Mississippi. Os militares reduzem o fluxo de água nas represas no Missouri a partir de novembro de cada ano para aumentar o volume de água para irrigação e gerar energia hidroelétrica.
Mesmo com redução do fluxo, normalmente ainda resta água mais do que suficiente para as milhares de barcas do Mississippi carregarem commodities do Meio-Oeste para a costa. A seca deste ano, porém, reduz a capacidade do rio.
O Conselho de Vias Navegáveis, que representa as operadoras de barcas, e grupos agrícolas solicitaram ao presidente Obama que ordene a liberação emergencial de água das represas do Missouri.
Também querem que os engenheiros militares acelerem os trabalhos de explosão de elevações de rochas no leito do rio, nas proximidades de Troy, Illinois, que são o maior obstáculo à navegação. O trabalho foi antecipado para ter início em janeiro próximo, caso os militares consigam encontrar um empreiteiro a tempo.
Os grupos agrícolas argumentaram em carta à Casa Branca que a interrupção da navegação não paralisará apenas as exportações, mas impedirá o transporte de fertilizantes rio acima. "A "superautoestrada" do rio Mississippi é essencial para a agricultura dos EUA, atuando como meio principal de transporte para insumos agrícolas essenciais, como os fertilizantes, e fazendo com que a produção dos agricultores dos EUA tenha acesso aos mercados domésticos e internacionais", escreveu o grupo.
A Associação Nacional de Grãos e Rações, que representa empresas produtoras de 70% dos grãos dos EUA, advertiu que os problemas de transporte poderiam reduzir os preços cobrados pelos produtores. O vice-presidente da corretora de commodities RJ O Brien, Richard Feltes, disse que o ágio dos preços dos grãos comprados no rio Ohio, que não enfrenta obstruções, vem subindo em relação aos grãos entregues acima das obstruções.
Obama depara-se, entretanto, com outras pressões. Políticos da Dakota do Norte, Dakota do Sul, Kansas e Montana escreveram ao presidente pedindo que os engenheiros continuem restringindo o fluxo do Missouri.
Fonte: Valor Econômico. Por Robert Wright e Gregory Meyer. Financial Times, de Washington e Nova York. 11 de dezembro de 2012.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos