O girassol de Mato Grosso está "abandonando" os pássaros e indo para as indústrias produtoras de óleo. Campo Novo do Parecis, principal área de produção do estado, cultiva girassol há 19 anos.
No início em pequena escala, o produto era enviado a grandes mercados para a alimentação de pássaros.
Agora, depois que se percebeu que terra e clima são favoráveis a essa cultura, a região aumenta a industrialização e vira foco até das multinacionais.
Um produto tradicional na Argentina, o girassol se adapta na região de Mato Grosso. Os argentinos, principais produtores na América do Sul, têm uma área de 1,6 milhão de hectares e produção de 3,5 milhões de toneladas por ano. Uma das desvantagens é que a cultura é feita no período das chuvas.
Em Mato Grosso, é uma cultura adaptável à segunda safra e o girassol pode ser semeado a partir de 15 de fevereiro, quando o plantio de milho já não é mais recomendável devido à falta de chuva no desenvolvimento da lavoura.
O girassol, ao contrário do milho, é adaptável à condição seca, e o óleo tem qualidade superior à do argentino.
Os produtores de Mato Grosso encontraram, no entanto, barreiras para a produção. Entre elas, o custo de transporte. O peso do girassol corresponde à metade do da soja, o que eleva os custos e inviabiliza a produção longe da industrialização.
Diante desse cenário, 42 produtores se reuniram e, com a participação de outros investidores, formaram a Parecis Alimentos S.A. Deu certo. A demanda cresce 30% ao ano e a empresa ficou na mira das multinacionais.
A produção atual, disputada por várias das grandes empresas do setor alimentício, fica atualmente com Pepsico e Cargill. Para elevar a capacidade de produção, a empresa mato-grossense se uniu à gaúcha Celena Alimentos, também do setor de girassol, para a constituição de uma nova empresa, a Parecis Alimentos, que terá capacidade de moagem de 600 toneladas de girassol por dia.
Para chegar a esse montante, a indústria vai necessitar de pelo menos 100 mil hectares de girassol, uma área 32% superior à que é semeada em todo o Brasil atualmente.
Ernesto Martelli, presidente do Conselho de Administração da Parecis, diz que essa meta será alcançada em três anos.
A industrialização, inicialmente de óleo degomado (usado em alimentos industrializados), vai acompanhar a demanda crescente do mercado, diz ele.
Em uma segunda etapa, a empresa passará a produzir também óleo refinado (utilizado diretamente pelo consumidor).
A área de girassol, que será de 35 mil hectares na região neste ano, deverá atingir 55 mil no próximo.
A maior viabilidade comercial do girassol na região vai atrair novos produtores, segundo Martelli.
A região do Parecis tem uma área de 1,7 milhão de hectares destinados à agricultura, o que garante bom espaço para o girassol.
À medida que as multinacionais do setor alimentício acreditarem na capacidade contínua de fornecimento de produto em volume e qualidade, "esse negócio novo" vai fluir mais no Brasil, acredita o presidente da Parecis.
Fonte: Folha de São Paulo. Por Mauro Zafalon. 9 de janeiro de 2013.
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