O veto do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a aquisição dos ativos de suínos da Doux Frangosul em Ana Rech (RS) pela BRF está gerando uma preocupação na cadeia produtiva do setor. Na quarta-feira (27), o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, se reúne com a Frente Parlamentar da Suinocultura para discutir possíveis ações para o caso.
Desde 2011, a BRF assumiu a gestão da operação de suínos - incluindo pagamento a integrados e fornecedores - da Doux no Brasil. Os ativos da companhia nesse segmento foram dados em garantia (cláusula de alienação fiduciária) pela Doux à BRF.
Com a fusão da Perdigão com a Sadia, a BRF ficou restringida de adquirir ativos nesse segmento no país, pois já exercia uma participação relevante nesse mercado. Em 16 de outubro de 2012, a BRF assinou um Acordo de Preservação de Reversibilidade da Operação (Apro) com o Cade, de que não adquirisse a unidade de Ana Rech da Doux, pois teria possibilidade de trazer efeitos prejudiciais à concorrência difíceis de serem revertidos.
Segundo a ABCS, hoje, a unidade de Ana Rech da Doux trabalha com 700 produtores integrados e conta com um rebanho de matrizes de 33 mil cabeças.
"A questão da Doux não é mais um simples caso de empresas que quebram, levando com ela seus colaboradores, parceiros e acionistas, mas sim uma evidência da falta de eficiência dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário", comentou Lopes, em nota, se referindo aos projetos de lei 8.023/2010, da Câmara, e 330/2011 que trazem maior segurança aos produtores integrados, mas que não têm avançado para aprovação.
Lopes relembrou o momento adverso para os suinocultores quando animais morreram por falta de alimentação, cujo fornecimento ficou interrompido porque a Doux não tinha dinheiro.
"Não podemos reviver esse momento. Acreditamos que, se não for a BRF para administrar, outra empresa deverá tomar o comando. O que não podemos é separar a compra da planta frigorífica das granjas produtoras de suínos. Deve ser uma venda casada, com indústria e produtores. É uma situação muito delicada", avaliou.
A JBS, desde maio de 2012, aluga os ativos da Doux Frangosul, mas no contrato firmado estão apenas os ativos de frango. Na época, a empresa disse que as unidades de suínos não eram de interesse da companhia, o que "elimina" uma solução para os suinocultores.
"Nos preocupa a questão social, com a manutenção da unidade em funcionamento, pois, caso contrário, como iremos nos desfazer de um volume de produção que abate 3 mil suínos ao dia?", questionou o presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, também em nota.
Jandir Piloto, produtor que possui mais de 1,1 mil matrizes no sistema de integração com a empresa, disse que os suinocultores estão inseguros e apreensivos com o futuro da unidade da Doux e ninguém das empresas comenta o que irá acontecer.
"Nossa grande preocupação é que vendam em partes, separando o frigorífico da produção. Se isso acontecer, será o fim para grande parte dos suinocultores", afirmou.
Fonte: Canal Rural. Pela Redação. 26 de fevereiro de 2013.
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