A Alemanha importa cada vez mais café verde do Brasil e do Vietnã para sustentar sua posição de grande torrefador e maior país reexportador do produto do mundo, com ganhos de centenas de milhões de dólares nessas transações.
Empresas alemãs têm obtido 74,0% a mais do que pagam pelas importações, em média, com o valor que agregam ao café (processamento, torrefação, distribuição, marketing), de acordo com estimativa da Organização Internacional do Café (OIC).
café que movimenta a indústria do segmento na Alemanha vem sobretudo dos dois maiores produtores globais: Brasil e Vietnã. O café brasileiro representou 34,0% do total importado pela Alemanha em 2011, e continua em alta. Basta ver que as importações de café originário do Brasil representaram 12,9% do total entre 1990 e 1999, percentual que subiu para 27,6% entre 2000 e 2011, na média.
Nesse período, o Vietnã se consolidou como segundo maior fornecedor de café para a Alemanha, pulando de 3,7% (média anual de 1990 a 1999) para 18,0% do total importado pelo país europeu em 2011, enquanto a fatia da Colômbia recuou de 25,1% (média anual de 1990 a 1999) para 2,0%. Conforme a Associação Alemã de Café, "a oferta da Colômbia não atende à demanda alemã tão bem quanto a de outros países".
No total, a Alemanha importou 17,70 milhões de sacas de 60kg de café por ano, em média, entre 2000 e 2011. Em 2012, comprou 21,80 milhões de sacas.
Essas compras alimentaram um volume anual médio de reexportações de 8,60 milhões de sacas, destinadas a 150 países e responsáveis por uma receita de US$1,80 bilhão. A Alemanha tem 28,0% desse nicho de mercado. Responde por 46,2% das reexportações globais de café verde, 21,9% de café torrado e 18,8% de café solúvel.
Para a OIC, a venda alemã, inclusive de café verde, confirma a importância das redes de transportes do país, já que tornam viáveis as compras do produto de países exportadores e as exportações para outros destinos.
O restante importado representa o consumo anual alemão, de 9,0 milhões de sacas de café. Esse volume se transforma em 453,78 mil toneladas de café torrado, gerando renda próxima de US$4,00 bilhões, levando-se em conta o valor agregado bruto obtido no atacado, de acordo com o economista-chefe da OIC, Denis Seudieu.
Assim, com US$2,50 bilhões em importações por ano, a Alemanha faturou US$5,80 bilhões, ou seja, mais do dobro por meio de reexportação e de vendas pelos torrefadores para o varejo alemão. Em comparação, o Brasil obteve receita cambial de US$6,30 bilhões no ano passado com as exportações de 28,20 milhões de sacas, que em parte tomaram o rumo do mercado alemão.
Na Alemanha, um dos maiores ganhadores no negócio do café é a rede de supermercados Aldi, com 9,8 mil pontos de venda no mundo e que na Europa compete com a Tesco e com o Carrefour.
Outros ganhadores são o grupo torrefador Alois Dallmayr Kaffee, no qual a Nestlé tem participação de 25,0%; a Mondelez International, que se separou da Kraft Foods, passou a operar como companhia independente e pagou US$28,80 milhões à sua presidente Irene Rosenfeld, um aumento de 40,0% em relação a 2011, o grupo J.J.Darboven, que oferece uma seleção de 50 misturas de café; e o grupo Tchibo, que começou no ramo do café, expandiu-se para o varejo e faturou €3,50 bilhões no ano passado.
Em fevereiro de 2011, o conselho diretor da OIC examinou um estudo de seus economistas sobre a cadeia de valor do café em nove países (Alemanha, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Holanda, Reino Unido e Suécia), que representam 70,0% do consumo de todos os importadores.
O estudo concluiu que esses países ganharam US$28,80 bilhões com o valor agregado para um consumo de 56,30 milhões de sacas de café em 2009. O ganho deles é muito maior do que as receitas de exportação de todos os países produtores no mesmo período, estimadas em US$13,30 bilhões.
O valor agregado baixa para US$22,40 bilhões com a aplicação de um índice deflator das Nações Unidas, mas ainda assim esse montante representa 68,4% mais do que a receita total dos exportadores do café verde. O valor agregado no café chega a 86,0% no Japão e na Holanda e a 67,0% nos Estados Unidos, de acordo com os dados da OIC.
Essa situação espelha parcialmente a política comercial de países industrializados, que impõem tarifas de importação elevadas para o produto com valor agregado, mas baixam ou zeram a alíquota incidente sobre a matéria-prima. Um dos itens da negociação da Rodada Doha, que está bloqueada na Organização Mundial do Comércio (OMC), era a tentativa de países em desenvolvimento de desmantelar a chamada "escalada tarifária" imposta por mercados desenvolvidos.
Fonte: Valor Econômico. Por Assis Moreira. 9 de abril de 2013.
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