Festejada como uma das principais responsáveis pela recuperação das margens dos frigoríficos de carne bovina do país no ano passado, a maior oferta de boi gordo não foi capaz de compensar o ímpeto da demanda por carne bovina nos primeiros meses em 2013, o que pode reduzir a rentabilidade das empresas de carne bovina.
Ainda que as margens operacionais permaneçam em patamares razoáveis para um setor acostumado a margens estreitas, analistas do setor e executivos de frigoríficos já sinalizam que 2013 não será tão "excepcional".
No fim de março, o futuro CEO da Marfrig, Sergio Rial, reconheceu que a empresa dificilmente repetirá a margem de 13,4% registrada por sua divisão de bovinos em 2012. "Historicamente, margens de dois dígitos não é o que se vê em bovinos", afirmou à época, sinalizando resultados mais fracos no primeiro trimestre do ano. A Marfrig divulgará os resultados do período na próxima semana.
O desempenho mais fraco é explicado, em grande parte, pelo comportamento "atípico" dos preços do boi gordo nos primeiros meses deste ano. Responsável por cerca de 80,0% dos custos de produção de um frigorífico de carne bovina, o preço do animal costuma ceder nos primeiros meses do ano, período em que as chuvas favorecem a qualidade das pastagens e, consequentemente, a engorda do rebanho. Neste ano, contudo, a cotação subiu. "Tivemos um comportamento atípico para o período da safra", diz o analista Douglas Coelho, da Scot Consultoria.
Entre janeiro e 7 de maio deste ano, os preços do boi gordo no estado de São Paulo subiram 0,8%, passando de R$99,46 por arroba para R$100,27 por arroba, conforme o indicador Esalq/BM&FBovespa. No mesmo intervalo de 2012, os preços caíram 4,9%, recuando de R$100,79 por arroba para R$95,86 por arroba.
Na comparação entre os preços médios de cada período, a arroba também sobe. Entre janeiro e os primeiros dias de maio de 2012, o preço médio do boi gordo foi de R$97,66 por arroba. No mesmo intervalo deste ano, o preço médio foi de R$100,77, valor 3,2% maior.
Relatório do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) reforça a perspectiva de preços sustentados para o boi gordo. Os analistas do órgão lembram que, historicamente, maio é o auge da safra, período em que o boi gordo atinge o menor valor do ano devido à pressão pela proximidade do período seco, que estimula os pecuaristas a enviarem mais animais para o abate. Neste ano, no entanto, "os indicadores de tendência vêm demonstrando que os menores valores da arroba no ano não serão registrados em maio", diz o relatório.
Já o banco holandês Rabobank estimou, em sua análise mais recente, que os preços do boi gordo podem perder força até julho. Na avaliação do banco, as melhores condições das pastagens no início do ano permitiram que os pecuaristas segurassem mais animais no pasto.
Mas a chegada do período seco "pode desencadear um aumento abrupto de oferta, o que poderá pressionar fortemente as cotações dos animais para o abate ao longo dos próximos três meses", diz relatório do Rabobank. De todo modo, a instituição ressalva que a queda "esperada das cotações tende a ser limitada pela expectativa de forte ritmo das exportações", afirma.
Para o gerente de pesquisa de mercado da Minerva Foods, Fabiano Tito Rosa, o comportamento "atípico" dos preços do boi gordo não é de todo ruim. A oferta de boi gordo, diz ele, continua elevada, mas está sendo absorvida pela demanda para exportação. Só no primeiro trimestre, as vendas externas de carne bovina saltaram 26,3%, segundo a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec). O consumo interno também está forte. "Nos primeiros quatro meses, houve um aumento de abate de 10,0%. A indústria está com fome", estima Rosa.
Fonte: Valor Econômico. Por Luiz Henrique Mendes. 8 de maio de 2013.
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