Um problema antigo em um momento novo, assim Gustavo Aguiar, analista de Mercado da Scot Consultoria, empresa organizadora do 1º Encontro de Criadores, traduz a situação vivida pelo setor no país ao se referir ao chamado "apagão de bezerros". O especialista explica que a pecuária apresentou uma evolução importante nas últimas décadas, porém uma coisa não mudou tudo começa com a cria. "Mesmo sendo o alicerce da cadeia, a cria tem tido rentabilidades médias menores que as outras etapas da produção, assim o descaso e a pouca atenção dada a este setor está afetando negativamente a cadeia da carne de uma forma geral".
O especialista conta ainda que o objetivo deste evento foi reunir os principais agentes da pecuária brasileira para expor objetivamente novas tecnologias no sistema de cria no Brasil e no exterior. Além de falar sobre nutrição, sanidade, índices zootécnicos, manejo, reprodução, protocolos reprodutivos, genética de matrizes, competitividade e tendência de mercado, para assim tentar encontrar uma solução para este problema. Sendo que neste momento de baixa recuperação de preço e pouca oferta de bezerros, é importante trazer análises para orientar os produtores a como enfrentar estas questões.
O especialista explica ainda que não é a primeira vez que o país vive este problema, a diferença é que o momento é outro, talvez mais grave. Tanto, que pode haver migração de atividade produtiva por parte de pecuaristas de menor porte ou que não estavam preparados para enfrentar essa situação.
É o que está acontecendo no município de Denise, segundo o pecuarista Urian Tetilla de Brito, proprietário da fazenda Cangayan. "Em nossa região temos visto muitos pecuaristas abandonarem a atividade para se dedicar ao plantio de cana-de-açúcar. E sabemos que o problema é exatamente a falta de bezerros para a reposição do plantel".
O superintendente da Acrimat, Luciano Vacari, explica que é importante colocar em pauta este problema da falta de bezerros, principalmente por estarmos em época de Expoagro em Cuiabá e haver uma grande concentração de pecuaristas na Capital. Vacari explica que o bezerro é a matéria-prima da pecuária e sem ele não há engorda, confinamento e consequentemente não há carne. O diretor diz que o bom desempenho do criador gera, inclusive, resultados na mesa do consumidor.
O pecuarista Cristóvão Afonso da Silva, proprietário da fazenda Santa Tereza, em Poconé, diz que o momento realmente é de alerta entre os produtores, pois o abate de fêmeas é algo que tem acontecido em muitas propriedades e de forma recorrente. Sendo que Cristóvão ainda diz que os pecuaristas sofrem também com o aumento do custo de produção e falta de incentivo por parte do governo.
"Não faz muito tempo produzíamos 1500 bezerros por ano em nossa propriedade, hoje este número caiu para 700, mais da metade. Daí a importância da Acrimat estar promovendo um evento dessa natureza, colocando em pauta todos os problemas que o setor está vivenciando e buscando soluções".
Essa opinião é compartilhada pelo pecuarista de Rondonópolis, Marco Túlio Duarte Soares, proprietário da Celeiro, Carnes Especiais. "O formato de deste evento e a ideia são inovadores, eu já havia participando de muitos simpósios e seminários no setor da pecuária, mas nunca de um que tratasse especificamente da cria, com números e informações novas para que objetivam tentar reverter um problema que tem se agravado a cada dia não só em Mato Grosso, como em todo o país, que é o abate de fêmeas".
Segundo levantamento realizado pelo Instituto de Economia Agropecuária (Imea) a pedido da Acrimat, nos primeiros cinco meses deste ano, mais da metade dos animais abatidos foi fêmea. Ao todo, foram abatidas 1,28 milhão de matrizes, o que representa 53% do total até maio. Esta evolução na participação das fêmeas nos abates é influenciada por uma série de fatores que compõem a cadeia da carne.
O 1º Encontro de Criadores foi realizado pela Scot Consultoria, em parceria com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e Sindicato Rural de Cuiabá. Participaram do encontro pecuaristas de todas as regiões produtoras do Brasil, instituições de ensino e pesquisa, órgãos governamentais, técnicos, representantes da indústria, entre outros.
O diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, avalia positivamente o evento e sua relevância para a cadeia da carne. Segundo ele, isso porque a cria é o primeiro segmento da produção de bovinos, ou seja, é a base para a sustentabilidade e crescimento da pecuária de corte e por isso deve ser valorizada.
Fonte: Gazeta Digital. Por Wisley Tomaz. 15 de julho de 2013.
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