As geadas da última semana no Paraná atingiram em cheio justamente as lavouras que resultariam nas primeiras colheitas de trigo do ano no principal produtor nacional da commodity, o que deverá prolongar a escassez do cereal brasileiro no mercado e manter os preços, já em patamares recordes, em níveis sustentados.
A avaliação é do presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Marcelo Vosnika, em entrevista à Reuters.
Geadas atingiram fortemente as regiões produtoras de trigo do Paraná por quatro dias seguidos nesta semana, num momento em que mais da metade das lavouras está suscetível a sofrer perdas pelo frio.
Nesta sexta-feira (26/07), as temperaturas subiram e devem seguir em elevação nos próximos dias, mas a indústria já contabiliza perdas de cerca 10% de uma safra de aproximadamente 3 milhões de toneladas, disse o presidente da Abitrigo.
O Paraná normalmente produz metade da safra nacional, mas não é tanto o volume perdido que preocupa o presidente da associação, empresário do setor de trigo no Estado. Mas sim o prolongamento de uma escassez, uma vez que a geada destruiu boa parte das primeiras colheitas.
"O problema para mim é o trigo de setembro, que está sendo perdido. Não é um problema gravíssimo para o Paraná, mas o pessoal estava desesperado esperando este trigo", afirmou Vosnika.
O presidente da Abitrigo disse que essas mesmas áreas de trigo atingidas por geadas tinham sofrido anteriormente com chuvas intensas, que favoreceram a proliferação de doenças fúngicas, que já teriam um impacto sobre a produtividade.
As geadas no Paraná provavelmente elevarão a necessidade de importação de trigo pelo Brasil, num momento em que o país enfrenta uma escassez interna e também nos países do Mercosul, que tradicionalmente complementa a maior parte das necessidades do país, um importador líquido do cereal.
Dessa forma, o Brasil terá de recorrer a mais trigo do Hemisfério Norte, considerando que a Argentina, principal fornecedor aos moinhos brasileiros, só deverá ofertar o produto da safra nova na melhor das hipóteses em dezembro, quando a colheita terá início.
Mesmo antes das geadas, a Abitrigo já havia pedido isenção de tarifa para comprar trigo fora do Mercosul para um volume de 3 milhões de toneladas, disse o presidente da associação, em função dos problemas no Mercosul e na safra passada nacional. "A gente já tinha pedido 3 milhões lá atrás, o governo liberou só 2, então o pedido já está lá", afirmou, ressaltando a necessidade de um maior volume de importação.
Fonte: Reuters. 26 de julho de 2013.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos