Um novo capítulo na interminável novela entre Brasil e Rússia em relação aos embarques de carne suína para o país do Leste europeu está se desenhando. Notícia divulgada no site oficial do Serviço Sanitário Russo datada do último dia 30 de julho informa que o anexo ao certificado de ausência de ractopamina, estimulador de crescimento muscular animal, era formal e não poderia ser confiável. A nota diz ainda que o grupo de negociação brasileiro concordou com as alegações e assumiu o compromisso de criar programas para serem apresentados em uma semana aos russos.
Em outra notícia do site oficial, há o relato de uma conversa entre o presidente do Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária, Serguêi Dankvert, e o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Ênio Marques Pereira, onde relatou a preocupação causada por violações sistemáticas detectadas durante a inspeção de estabelecimentos produtores de carne brasileiros, verificadas durante a missão.
No mesmo dia, em depoimento à Gazeta Russa, publicação do jornal Rossiyskaya, Dankvert, disse que os especialistas russos, que estiveram em missão no início de julho no Brasil avaliando plantas sanitárias, não teriam tomado as medidas necessárias para corrigir as falhas anteriores. "Os defeitos detectados ainda em 2011 e 2012 não foram completamente eliminados, apesar das garantias apresentadas pelo Ministério da Agricultura brasileiro. Por exemplo, na última inspeção, os fornecedores não conseguiram apresentar os resultados de todos os testes de matéria-prima e produto pronto que seguem os índices de segurança usados pela Rússia e pela União Aduaneira", disse Dankvert à publicação russa. O dirigente russo ainda fez uma ameaça: "Se as avaliações das novas inspeções de produtores da carne suína brasileira não mudarem, a importação desse produto poderá ser proibida".
Se os russos decidirem pela suspensão dos embarques, o Brasil perderá seu principal mercado no primeiro semestre do ano. De janeiro a junho, as exportações de carne suína para aquele país, mesmo com os embargos a Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso, foram de 69,05 mil toneladas, o que representa 28,7% do total de 240,5 mil toneladas. Em receita, os russos renderam ao Brasil US$201,27 milhões, 31,9% do total exportado no primeiro semestre do ano, de US$630,26 milhões. Conforme o analista de mercado da Scot Consultoria Augusto Maia, caso haja esta suspensão, haverá uma pressão baixista nos preços no mercado interno. "Este impacto será de pressão pelo fato de que a demanda interna não terá capacidade de absorver todo este volume que deixaria de ser exportado", analisa.
No entanto, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Carne Suína (Abipecs), Rui Vargas, confia que o caso será resolvido pelo governo brasileiro. Vargas informa que nesta sexta-feira (2/8) será realizada uma nova conferência entre autoridades dos dois países. "O Brasil já fez uma conferência e estamos otimistas que tudo será explicado para os russos. Não acreditamos que eles deverão tomar nenhuma atitude enquanto não houver os esclarecimentos por parte do governo brasileiro", salienta.
Apesar da publicação em site oficial do serviço sanitário russo, o Ministério da Agricultura, por meio da assessoria de imprensa, disse que não vai se manifestar até haver uma decisão oficial sobre as exportações brasileiras por parte dos russos.
Fonte: Jornal do Comércio. Por Nestor Tipa Júnior. 2 de agosto de 2013.
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