"É possível que o Brasil tenha uma nova geografia da produção agrícola nos próximos anos". A frase é de Eduardo Assad, pesquisador da EMBRAPA, que participa da Primeira Conferencia Nacional de Mudanças Climáticas (CONCLIMA).
O novo mapeamento poderá surgir em resposta às mudanças climáticas que estão acontecendo no país, em que regiões muito quentes vão, por exemplo, desfavorecer a produção de café. "A temperatura elevada faz com a flor seja abortada e há uma frequência maior de dias com temperatura elevada principalmente em São Paulo e Minas Gerais, que deve reduzir a expansão de café nestas áreas", diz.
De acordo com o pesquisador o feijão também tem sofrido muito com abortamento de flor.
"No Brasil de maneira geral nos últimos dez anos a intensidade das chuvas aumentou, as temperaturas máximas aconteceram com maior frequência e as temperaturas mínimas também", descreve. Além disso, os veranicos estão sendo maiores e estas plantas que estão no campo tem pouca capacidade para tolerar o veranico.
"O resultado é que o aumento de temperatura deve derrubar a produtividade". A solução existe e é simples: abandonar o monocultivo.
As mudanças climáticas não têm prejudicado apenas as lavouras, mas também a incidência de pragas: o bicho mineiro do café aparece com intensidade muito forte com o aumento das temperaturas e a sigatoka negra da banana também.
"Quando começarmos a recuperar a reserva legal e mantivermos a biodiversidade passaremos a ter o que chamamos de função ecossistêmica da biodiversidade, e uma delas é controlar pragas".
Pelos cálculos de Assad as perdas agrícolas por conta de efeitos climáticos devem somar R$7 bilhões até 2020. "Temos que evitar isso com um bom manejo, conservação de solo e água e uso de sistemas que mantenham a água no solo", diz.
A proposta de Assad é que sejam pesquisadas na biodiversidade plantas que no passado já existiam e resistiam a temperaturas maiores. "No momento que fizermos o mapeamento genético destas plantas - em especial nos cerrados - podemos tirar o gene tolerante dela e colocar na soja ou no milho", diz.
Outro efeito será a migração da zona rural para a zona urbana. "No momento em que você começa a ter secas intensas e sua área perde produtividade não há o que fazer", diz.
Segundo ele, a solução é o cultivo de variedades que sejam adaptadas ao local, ou seja, ao invés de produzir arroz, feijão e milho no semiárido o agricultor passe a produzir umbu, seriguela, cajá, cajá-manga, anjico porque são culturas adaptadas aquela situação, "mas ninguém financia isso e projetos estruturantes para manter o agricultor nestas regiões comtemplam mudas, financiamento e comercialização. Se conseguirmos isso vamos fixar o homem na terra", diz.
Fonte: Globo Rural. Por Luciana Franco. 9 de setembro de 2013.
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