Os governos do Brasil e dos EUA anunciaram ontem a publicação de uma medida técnica que é o último passo antes da abertura do mercado norte-americano para a carne bovina brasileira.
A medida está sujeita a consulta pública nos EUA de 60 a 90 dias, e exportadores brasileiros esperam começar a exportar carne para o mercado norte-americano ainda no primeiro semestre de 2014.
Os EUA são os maiores consumidores de carne bovina (11,6 milhões de toneladas ao ano) e importam 1,02 milhão de toneladas anuais.
Por causa de barreiras sanitárias relacionadas a focos de febre aftosa, o Brasil só consegue exportar para lá carne industrializada, e não in natura, que é a maior parte das vendas externas.
"É espetacular conseguir abrir um mercado imenso como o dos EUA para a carne brasileira", disse Antonio Camardelli, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (ABIEC).
"Além disso, temos a perspectiva de abertura dos outros países do Nafta, Canadá e México, e de países da América Central que seguem as regras sanitária dos EUA."
A medida põe fim a uma novela que já leva mais de 15 anos. Começou quando o então Ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, pediu a abertura do mercado americano. Mas um surto de aftosa fez o Brasil suspender o processo.
No âmbito do acordo do algodão da OMC, de 2010, os EUA assumiram compromissos de abertura de mercado para a carne suína e bovina. Mas, até hoje, só haviam aberto para exportações de carne bovina e suína de Santa Catarina (que é forte em exportação de suínos, mas pouco expressiva em bovinos).
Com a medida, 14 estados poderão começar a exportar para os EUA.
O anúncio da medida seria feito na visita da presidente Dilma Rousseff a Washington, em outubro.
Mas foi suspenso com o cancelamento da visita após as revelações de espionagem da NSA.
Em 2014, a ABIEC espera exportações de apenas 5,0 mil a 10,0 mil toneladas para os EUA, mas que devem deslanchar em 2015.
O Brasil deve exportar cerca de US$6,5 bilhões em carne bovina neste ano. Os principais compradores são Hong Kong, Rússia e Venezuela.
O governo brasileiro acha também que a abertura dos EUA pode ajudar a desbloquear os mercados do Japão, da Coreia do Sul, da Indonésia e de Taiwan, fechados para a carne brasileira.
Selo de qualidade
"A abertura do mercado americano mostrará a mercados como o Japão que a carne brasileira é segura, será um selo de qualidade", diz Lino Colsera, secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura.
Pedro de Camargo Neto, ex-secretário de Produção do Ministério da Agricultura, acredita que haverá oposição ferrenha dos pecuaristas americanos, que, ciosos de seu mercado, devem se manifestar durante o período de consulta pública.
"Mas seria muito difícil conseguirem anular a medida, o que só pode ocorrer se houver algum erro técnico."
Fonte: Folha de São Paulo. Por Patrícia Campos Mello. 19 de dezembro de 2013.
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