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BNDES volta a favorecer o grupo frigorífico Marfrig


Terça-feira, 7 de janeiro de 2014 - 09h10

Em meio às celebrações da virada do ano, o BNDES selou um acordo para, mais uma vez, favorecer o grupo Marfrig, um dos "campeões nacionais" do governo Lula.

Com uma dívida de quase R$6,70 bilhões e valendo R$2,10 bilhões na Bolsa, o Marfrig está numa situação financeira muito delicada.

O banco estatal aceitou adiar em um ano e meio o vencimento de uma debênture (título de dívida) de R$2,15 bilhões do Marfrig - de junho de 2015 para janeiro de 2017.

O frigorífico também terá seis meses a mais para pagar R$130,00 milhões em juros dessa dívida, que venciam em junho deste ano.

O BNDES concordou ainda em manter um dos pontos mais polêmicos da operação: a conversão das debêntures em ações, a um preço muito acima do mercado.

O BNDESPar, braço de participação do BNDES em empresas, se comprometeu a pagar em 2017 a quantia de R$21,50 por ação do Marfrig.

O valor é um pouco inferior aos R$24,50 acertado no primeiro contrato dessas debêntures, selado em junho de 2010, mas está muito acima do preço em Bolsa.

Na sexta-feira (3/1), as ações do Marfrig fecharam a R$3,96.

O acordo deve garantir algum fôlego financeiro ao frigorífico, que cresceu com a ajuda estatal, comprando concorrentes no exterior, e hoje não consegue administrar suas dívidas e é castigado pelos investidores.

De acordo com comunicado divulgado na sexta-feira, a operação com o BNDES vai permitir ao Marfrig obter um caixa positivo de R$100,00 milhões neste ano. Sem essa ajuda, "queimaria" mais R$150,00 milhões de caixa.

Péssimo negócio

O BNDES, por sua vez, tenta postergar um péssimo negócio. Se as debêntures fossem convertidas hoje em ações, o banco pagaria R$2,15 bilhões por uma fatia do Marfrig que vale atualmente menos de R$400,00 milhões na Bolsa - um prejuízo de 81,4%.

No final de 2012, o BNDES teve a oportunidade de converter, a preços de mercado, todas as debêntures (que chegavam a R$2,50 bilhões) e se tornar dono do Marfrig. Na época, as ações valiam R$8,00.

No contrato entre o frigorífico e o banco estatal, estava prevista essa prerrogativa se a empresa realizasse um aumento de capital. O BNDES, no entanto, optou por converter apenas R$350,00 milhões, o que gerou pesadas críticas.

O banco argumentou que foi uma exigência do Marfrig para fazer o aumento de capital. O frigorífico, que já enfrentava problemas, levantou R$2,30 bilhões no mercado e ganhou uma sobrevida.

Em meados de 2013, o grupo repassou a Seara ao concorrente JBS, que assumiu R$5,85 bilhões em dívidas. Por questões cambiais e outros débitos, o endividamento líquido da empresa, no entanto, caiu apenas R$3,17 bilhões e continua altíssimo.

O Marfrig é um dos principais problemas da BNDESPar, que, entre compra direta de ações e debêntures, já investiu R$3,50 bilhões na empresa e é o segundo maior acionista, com 19,6%. O BNDES não comenta a operação, e o Marfrig afirmou que vai se pronunciar a partir de terça-feira (7/1).

Fonte: Folha de São Paulo. Por Raquel Landim. 5 de janeiro de 2014.


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