Ao mesmo tempo em que vê a economia crescendo menos neste ano, o Banco Central manteve seu cenário de inflação pressionada e próxima do teto da meta oficial, indicando que não deve mudar a SELIC tão cedo, mas acabou abrindo uma pequena fresta para nova alta dos juros básicos no futuro caso seja necessário.
Ao apresentar o Relatório Trimestral de Inflação nesta segunda-feira, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo, disse que, se o cenário de preços exigir, o BC voltará a subir a SELIC, atualmente em 11,0%.
"O Banco Central disse implicitamente e eu repeti explicitamente que isso (alta dos juros) não está descartado", disse o diretor a jornalistas. "Se o cenário para a inflação exigir, a política monetária deve ser e será acionada tempestivamente".
Para este ano, a autoridade monetária calcula que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro será de 0,7%, ante 1,6% calculado até então.
Uma das principais variáveis para essa piora foi a conta de investimento. Agora, o BC vê que a Formação Bruta de Capital Fixo vai recuar 6,5% neste ano, sobre a queda de 2,4% calculada antes, "consistente com os resultados do segundo trimestre e com o recuo dos índices de confiança nas sondagens do consumidor e da indústria", explicou o BC.
Para a indústria, o BC vê agora retração de 1,6%, ante 0,4%.
Pelo Focus, os economistas consultados pelo BC veem que a economia brasileira como um todo avançará 0,3% neste ano, acelerando a 1,0% em 2015.
Inflação
Para o IPCA, o BC reduziu ligeiramente sua projeção para este ano, com alta de 6,3% pelo cenário de referência (SELIC constante a 11,0% e dólar a R$2,25), ante 6,4%. A meta oficial é de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.
O BC vê ainda alta de 5,8% do índice em 2015, um pouco acima da projeção anterior (5,7%), recuando para 5,0% no terceiro trimestre de 2016.
"O Comitê reafirma sua visão de que, mantidas as condições monetárias - isto é, levando em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária -, a inflação tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção", escreveu o BC no relatório, repetindo a visão que já havia sido colocada em ata do Comitê de Política Monetária (COPOM) e que levou boa parte dos especialistas a entender que a autoridade monetária não quer elevar a SELIC para não prejudicar a economia.
Na última ata do Comitê de Política Monetária (COPOM), divulgada no dia 11/9, o BC passou a ver que a inflação não é mais "resistente", mantendo a visão no relatório divulgado agora. No Focus, a projeção dos agentes é de que o IPCA encerrará este ano a 6,31% e 2015 a 6,30%.
A aposta generalizada dos agentes econômicos é de que o BC não muda a taxa de juros pelo menos até o fim de 2014, como era precificado na curva de juros futuros neste pregão. Em 12 meses até agosto, último dado disponível, o IPCA havia estourado o teto do objetivo, com alta acumulada de 6,51%.
"Apesar de a inflação ainda se encontrar elevada, pressões inflacionárias ora presentes na economia... tendem a arrefecer ou, até mesmo, a se esgotar ao longo do horizonte relevante para a política monetária. Em prazos mais curtos, some-se a isso o deslocamento do hiato do produto para o campo desinflacionário", afirmou o BC pelo relatório.
As estimativas para a inflação da autoridade monetária levam em conta alta de 5,0% dos preços administrados em 2014 (mesma previsão do relatório anterior) e de 6,0% para
2015
Diante da recente valorização do dólar - que até a sexta-feira passada chegou a 8,0% neste mês--, o diretor do BC indicou que a política monetária será acionada caso haja reflexos na inflação. Ao ser questionado sobre o impacto do câmbio, o diretor afirmou: "Estamos atentos, está explícito na nossa comunicação o que não consideramos e o que pode ser contemplado pelo COPOM. Se o cenário da inflação exigir, a política monetária será acionada tempestivamente".
O diretor disse que a projeção para a inflação de 2014 considera que a política fiscal será neutra. Ele, no entanto, adiantou que essa hipótese não deverá se confirmar.
"Nossa hipótese é de neutralidade da política fiscal para 2014. E as evidências apontam que essa hipótese não se confirmará", afirmou.
Fonte: Reuters. Por Patrícia Duarte e Luciana Otoni. 29 de setembro de 2014.
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